quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Até sempre, Madiba! E obrigado.


Nelson Rolihlahla Mandela (1918-2013)

“Eu não nasci com fome de liberdade.

Nasci livre – livre de todas as formas minhas conhecidas. Livre para correr pelos campos perto da cabana da minha mãe, livre para nadar no ribeiro claro que atravessava a vila, livre para assar milho sob as estrelas e montar na garupa larga de toiros vagarosos. Enquanto obedecesse ao meu pai e respeitasse os costumes da minha tribo, não me incomodava com as leis do homem ou de Deus.

Foi só quando comecei a aperceber-me que a minha liberdade de criança era uma ilusão, quando descobri, como jovem, que a minha liberdade já me fora tirada, que comecei a ansiar por ela.

Ao princípio, quando era estudante, queria liberdade apenas para mim, as liberdades transitórias de poder ficar fora à noite, ler o que me apetecesse e ir onde quisesse. Mais tarde, jovem em Joanesburgo, ansiava pelas liberdades básicas e honradas de realizar o meu potencial, de ganhar a vida, casar e ter uma família – a liberdade de não ser obstruído na vida de acordo com a lei.

Mas, então, comecei lentamente a ver que não só não era livre, mas também os meus irmãos e as minhas irmãs não o eram. Vi que não era só a minha liberdade que era limitada, mas a liberdade de todos os que se pareciam comigo. Foi quando me inscrevi no Congresso Nacional Africano e foi quando a minha grande fome de liberdade para mim próprio se transformou na maior fome de liberdade para o meu povo.

Foi este desejo de que o meu povo tivesse a liberdade de viver a sua vida com dignidade e auto-respeito que motivou a minha vida, que transformou um jovem assustadiço numa pessoa audaz, que levou um advogado respeitador da lei a transformar-se num criminoso, que fez de um marido amigo da família um homem sem lar, que forçou um homem que amava a vida a viver como um monge.

Eu não sou nem mais virtuoso, nem mais abnegado do que qualquer outra pessoa, mas descobri que não conseguia nem sequer desfrutar das liberdades mesquinhas e limitadas que me eram permitidas, sabendo que o meu povo não era livre. A liberdade é indivisível; as cadeias que acorrentavam um só elemento do meu povo eram cadeias neles todos, as cadeias em todo o meu povo eram cadeias em mim.

Foi durante esses longos anos solitários que a minha fome de liberdade para o meu povo se transformou na fome de liberdade para todos os povos, brancos e negros. Sabia muito bem que o opressor precisava tanto de ser libertado como o oprimido. Um homem que rouba a liberdade a outro é prisioneiro do ódio, está preso por trás das grades dos preconceitos e da estreiteza de vistas. Não sou verdadeiramente livre se tiro a liberdade a alguém, da mesma forma que não sou livre quando me tiram a minha liberdade. O opressor e o oprimido são igualmente privados da sua liberdade (…).

Percorri esse longo caminho para a liberdade. Tentei não fraquejar; dei passos errados ao longo do percurso. Mas descobri o segredo: que, depois de escalar uma grande montanha, apenas se descobre que há muitas mais montanhas para subir.

Parei aqui um pouco para descansar, para deitar uma olhada à vista maravilhosa que me rodeia, para olhar para a distância de onde vim. Mas posso descansar somente por um momento, porque com a liberdade vêm as responsabilidades – e não me atrevo a demorar-me, pois a minha caminhada ainda não terminou.”

(Últimas palavras da autobiografia de um ser humano extraordinário)

Obra publicada em Portugal, no ano de 1995, por Campo das Letras - Editores, S. A., com o título:
Longo Caminho para a Liberdade – A Autobiografia de Nelson Mandela.
Recomenda-se vivamente a leitura integral deste inesquecível documento.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A Voz de Camões no Portugal Ocupado (Tempo dos Kapos)

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Oh caso grande, estranho e não cuidado!
Oh milagre claríssimo e evidente!
Oh descoberto engano inopinado!
Oh pérfida, inimiga e falsa gente!
Quem poderá do mal aparelhado
Livrar-se sem perigo, sabiamente,
Se lá de cima a Guarda Soberana
Não acudir à fraca força humana?


Bem nos mostra a Divina Providência
Destes portos a pouca segurança;
Bem claro temos visto na aparência
Que era enganada a nossa confiança,
Mas, pois saber humano nem prudência
Enganos tão fingidos não alcança,
Ó Tu, Guarda Divina, tem cuidado
De quem sem ti não pode ser guardado!
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Luís de Camões - Os Lusíadas - Canto Segundo (30, 31)
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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Quando Se Deve Demitir um Primeiro-Ministro

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“(…) A demissão de um primeiro-ministro é algo de muito sério.
Não se exige por desfastio, ao não lhe irmos com a cara ou as ideias, mas só e apenas,

Quando se torna claro que é incapaz e indigno.

Quando fica evidente que chegou ao poder através de um colossal e calculado embuste, negando o que tencionava fazer (Catroga, um dos autores do programa do PSD, revelou agora que o aumento de impostos foi rasurado do documento).

Quando anuncia medidas incendiárias num dia para as retirar semana e meia depois.

Quando todas as suas previsões - todas, sem exceção - falham sem que sequer o admita ("tenho noção da realidade", escandaliza-se ele).

Quando aumenta brutalmente os impostos e, perante o que todos menos ele e o seu Gaspar previam - a queda da receita fiscal - fala de "surpresa orçamental", para a seguir voltar a fazer o mesmo, em pior.

Quando toma medidas inconstitucionais e a seguir se queixa do tribunal que lho diz e o culpa por ter de tomar mais - e mais inconstitucionais.

Quando se recusa a aproveitar a aberta da Grécia e a renegociar o acordo com a troika, mas não se incomoda em rasgar todos os compromissos assumidos com os eleitores e se prepara para, após anunciar a venda ao desbarato de todos os ativos nacionais, trucidar até o pacto social que funda o regime.

Demite-se um primeiro-ministro quando é mais danoso para o País mantê-lo no lugar que arriscar outra solução, por fraca e incerta que pareça.

Quando cada dia que permanece no lugar para o qual foi eleito cria perigo para a comunidade.

Demite-se um primeiro-ministro
quando é preciso.

É preciso."
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Fernanda Câncio – Obviamente, in Diário de Notícias, Lisboa , Portugal, 30-Novembro-2012.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Notícias da Guerra na Europa (A Visita da Chanceler - Nada de Novo na Frente Ocidental)

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Erich Maria Remarque, escritor alemão, hostilizado pelo III Reich





Ângela Merkel, chanceler alemã




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Miguel Torga, poeta português

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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Acordai, Portugueses!

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Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raiz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

(Acordai - Poema de José Gomes Ferreira - Portugal)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Combate do Pembe, Sul de Angola - Foi há 108 anos...

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Pode relembrar aqui:

Na imagem, capa do n.º 367 do "Mundo de Aventuras", publicado em 23 de Agosto de 1956 pela Agência Portuguesa de Revistas (Lisboa).

Com desenhos de Carlos Alberto Santos e o título O Combate do Pembe, este semanário de banda desenhada publicou, a partir do referido número, uma emocionante evocação do desastre militar português no Sul de Angola.
Para aquele autor, a figura central do drama foi a de João Roby (cf. capa acima).
Foi há 108 anos...

domingo, 22 de julho de 2012

"Rumo às Terras do Fim do Mundo" - Uma Aventura em Angola

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No quadro do protocolo há anos existente entre o Governo da Província do Kwanza-Sul (Angola) e a Câmara Municipal de Almada (Portugal), teve lugar, de 9 a 22 de Junho de 2012, o 6.º Raid Kwanza-Sul, que levou algumas dezenas de participantes angolanos e portugueses a percorrerem, em caravana automóvel, as províncias do Cunene e do Cuando-Cubango (as chamadas “Terras do Fim do Mundo”, no canto sudeste do País).

Nos cinco raids anteriores tinham já sido percorridas as outras 16 províncias. Trata-se de uma iniciativa que, muito para além das componentes lúdica e turística, tem como objectivo a aproximação e o aprofundamento de laços entre dois povos, o angolano e o português, que continuarão para sempre irmãos, apesar das – por vezes infelizes – vicissitudes políticas.


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À semelhança do que sucedeu nos três últimos raids, a organização fez agora editar um livro (“Rumo às Terras do Fim do Mundo” – ver capa na 1.ª foto) relacionado com o itinerário da caravana.

Nesta magnífica publicação de 184 páginas, com belíssimas e por vezes surpreendentes ilustrações, um grupo de autores convidados dá a conhecer, em artigos específicos, a história, a geografia, a cultura e os mais relevantes aspectos das regiões percorridas.

A edição é da PANGEIA (Lisboa) e a coordenação geral da obra pertenceu a Miguel Anacoreta Correia. A operacionalização mais directa, com um competente e sugestivo tratamento da informação, coube a Eleutéria Ornelas.

É um livro de leitura altamente recomendada, sobretudo para aqueles que se interessam pela História de Angola e de Portugal. (Preço: € 20).

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Segue uma visita guiada pelos 15 artigos da obra:

1 – De Luanda ao Bié Autora: Eleutéria Ornelas (Descreve-se a parte inicial do percurso, entre a capital, Luanda, e o Bié, no coração de Angola. Abundantes referências à realidade actual e à história das regiões percorridas).

2 – Bié. O centro de Angola e centro das bacias hidrográficas Autor: Ilídio do Amaral (A terra, a flora, os rios e a história do referido coração de Angola).

3 – O Cuando-Cubango. Como se ligou a Angola - Autores: Nuno Costa e Jorge Maceirinha (A forma como Portugal conseguiu, não obstante a poderosa e perigosa concorrência das grandes potências europeias, juntar ao território angolano a imensa região do sudeste que dá hoje corpo à província do Cuando-Cubango).
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4 – O caminho-de-ferro de Moçâmedes – Autor: Dolbeth e Costa (Epopeia da construção da difícil ferrovia que liga Moçâmedes - actual Namibe - ao interior - Lubango, Menongue… -, no Sudoeste de Angola).

5 – Menongue – Autor: João Loureiro (Como e por que razão nasceu Menongue, a antiga Serpa Pinto, de riquíssima e movimentada história).

6 – As batalhas do Cuito-Cuanavale – Autor: Jaime Nogueira Pinto (Descrição dos mortíferos combates da guerra civil angolana na região atravessada, com participação de forças locais – MPLA e UNITA – e estrangeiras – Cuba e África do Sul).


7 – Os Khoisan – Autor: Reinaldo Ribeiro, com adaptação de Manuel Vaz para este livro (Vida de um povo de fantásticos sobreviventes caçadores-recolectores, que se espalha pelo Sul de Angola, Namíbia, Botswana e áreas adjacentes).

8 – A travessia de Serpa Pinto – Autor: Manuel Vaz (Descrição da travessia que o mítico explorador português realizou, no século XIX, entre Angola e a África do Sul).

9 – A questão do Barotze – Autor: Francisco Gaspar (Mais uma árdua disputa de Portugal, no século XIX, para aumentar a sueste o território angolano, numa região que compreende hoje uma província da Zâmbia, Barotseland).




10 – Fronteira Leste - Raia d’África – Autor: José Carvalheira (Sobre a definição das fronteiras angolanas a leste, com mil e uma peripécias históricas e a acção relevante de Gago Coutinho, entre outros).

11 – Organização Social dos Cuanhamas – Autor: J. Lino da Silva (já falecido), com adaptação de José Bento Duarte para este livro (Sobre o habitat, a organização e a vida do povo Cuanhama, antigamente a mais poderosa tribo do grupo étnico dos Ambós).

12 – Mandume Autor: José Bento Duarte (Vida e morte de Mandume, último rei independente dos Cuanhamas, no Sul de Angola, que o general português Pereira de Eça teve de enfrentar em terríveis combates no ano de 1915. Acabaria morto pelos Sul-Africanos em 1917 e é hoje um herói venerado pelo povo angolano).




13 – Área Transfronteiriça Okavango-Zambeze – Autora: Amélia Cazalma (Minuciosa descrição de um importante projecto sócio-económico, actualmente em curso, que integra cinco países da região – Angola, Botswana, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe).

14 – Raids 1, 2, 3, 4, 5, 6 – Autor: Manuel Larangeira (Análise da importância deste e dos cinco raids anteriores para o turismo de Angola).

15 – A Finalizar – Autor: Miguel Anacoreta Correia (O coordenador do livro faz o encerramento do mesmo – e sintetiza: “estamos a contribuir para o amor a Angola, porque só se ama o que se conhece”)



Nota Final  – A obra abre com as mensagens do Governador da Província do Kwanza-Sul (Serafim Maria do Prado) e da Presidente da Câmara Municipal de Almada (Maria Emília Neto de Sousa).

É enriquecida por alguns poemas, da autoria de:

Carlos Aniceto Vieira Dias ( poema Muxima);
Luandino Vieira (Estrada);
Namibiano Ferreira (Saudação Matinal).