terça-feira, 26 de março de 2019

Poema do Coração (António Gedeão)


Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,
e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãos,
falo-vos do coração",
ou então:
"com o coração nas mãos".


Mas o meu coração é como o dos compêndios
Tem duas válvulas (a tricúspide e a mitral)
e os seus compartimentos
(duas aurículas e dois ventrículos).
O sangue a circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.


Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados
e uma lâmina baça e agreste,
que endurece a luz nos olhos
em bisel cortados.
Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.

Então meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?

António Gedeão - Portugal (Lisboa, 1906-1997)

sexta-feira, 22 de março de 2019

Hudson, Explorador Trágico do Árctico

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Henry Hudson (c. 1550 - c. 1611)
Hudson foi um navegador e explorador inglês. Tornou-se notado a partir de 1607, mas desapareceu apenas quatro anos depois em circunstâncias trágicas.
Pouco se conhece acerca da sua carreira no período anterior, mas nos derradeiros anos de vida realizou quatro tentativas para descobrir um caminho marítimo mais curto para Oriente, navegando pelo Norte.
O mapa seguinte mostra os sucessivos itinerários de Henry Hudson até ao drama final.

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As duas últimas viagens de Hudson
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Em 1607, Hudson foi contratado pela Companhia Moscovita (grupo financeiro inglês). Navegando para norte, entre a Gronelândia e Spitzberg, procurou o acesso ao Oriente nas imediações do Pólo Norte. Uma intransponível barreira de gelo forçou-o todavia a retirar, quando se achava a somente 10º do Pólo.
Em 1608, nova tentativa fracassada (seguiu uma rota ao longo da costa setentrional da Ásia).

A fama de Hudson resultou das suas duas últimas viagens (mapa acima):

- em 1609, contratado pelos Holandeses, viajou no Half Moon até à costa leste da América do Norte (veja as duas linhas castanhas na parte inferior da figura);

- em 1610-1611, comandando o Discovery ao serviço de alguns comerciantes ingleses, desapareceu para sempre (linha azul, na parte superior da figura).
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Hudson na costa da América do Norte
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Viagem de 1609


Henry Hudson assinou em Janeiro deste ano um contrato com a Companhia Holandesa das Índias Orientais, cujo objectivo consistia em “procurar uma passagem a norte para o Oriente, contornando a costa setentrional de Nova Zembla”.
Hudson largou do porto de Amesterdão em Abril de 1609, no Half Moon, com uma tripulação de dezasseis homens, entre Ingleses e Holandeses.

Subindo a costa ocidental da Noruega, os exploradores avistaram o Cabo Norte a 5 de Maio e logo se internaram nas perigosas águas do mar de Barents.
Temperaturas negativas, violentíssimas tempestades, nevoeiros cerrados, blocos maciços de gelo e um princípio de motim dos tripulantes holandeses, obrigaram o comandante a desrespeitar o que havia contratado, abandonando a busca da passagem a nordeste ainda antes de avistar Nova Zembla.

Aproando a sudoeste, o Half Moon atravessou o Atlântico Norte, com águas agitadas, e alcançou as costas americanas do Maine por alturas de Julho.
O navio seguiu então para sul, dobrou o cabo Cod, torneou os perigosos baixios de Nantucket e, em meados de Agosto, estacionava na baía de Chesapeake. Seguiu-se uma série de explorações - baía de Delaware, costa de Nova Jérsia, bancos de Sandy Hook e uma vasta baía orlada de florestas (New York). Deram-se então contactos com os índios, nem sempre amistosos, e a exploração de um grande curso de água (que recebeu o nome pelo qual o conhecemos ainda hoje: rio Hudson).
A 4 de Outubro, o Half Moon aproou de novo ao mar alto, chegando a Inglaterra nos princípios de Novembro de 1609.
 A passagem para Oriente não fora descoberta.
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Hudson e os companheiros vêem afastar-se o Discovery
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Viagem de 1610-1611

Um grupo de abastados comerciantes ingleses formou um consórcio privado destinado a financiar uma nova viagem de Henry Hudson.
Este levava agora instruções para explorar estreitos e enseadas do Árctico Canadiano, procurando apurar “se seria possível encontrar uma passagem para o outro oceano chamado mar do Sul”.

A 17 de Abril de 1610, Hudson partiu no Discovery para a derradeira viagem, sempre em busca da misteriosa rota que o conduzisse ao Oriente. Desta vez levava consigo o seu jovem filho, John Hudson.
Em meados de Maio de 1610 o Discovery atingia a Islândia, não sem que antes se tivessem verificado incidentes graves entre a tripulação, uma perigosíssima constante desta terrível viagem.

Contornando o extremo sul da Gronelândia (ver mapa acima), o navio progrediu com imensa dificuldade para oeste, através de mares coalhados de blocos de gelo.
A tripulação murmurava, descrente de que o objectivo pudesse ser alcançado em tais condições. Hudson, um homem de fé, insistia. Penetrando no estreito que receberia o seu nome (entre o Labrador e a Ilha de Baffin), os exploradores chegaram a “um grande mar que se estendia para ocidente” (actual Baía de Hudson), que sabemos hoje que não conduz à Ásia, mas que penetra profundamente nas regiões selvagens do Canadá.

Em vez de alcançar o Pacífico, como esperava, Hudson atingiu em Setembro de 1610 a baía de James, o recesso mais meridional da baía de Hudson. O Discovery gastou as semanas seguintes em desesperadas navegações para diante e para trás, para norte e para sul, para leste e para oeste, num labirinto infernal.
Veio e passou o Inverno. Frio, fome, discussões e desesperança eram agora o quotidiano da tripulação do Discovery.

Finalmente, em 22 de Junho de 1611, conduzida pelos revoltosos Juet e Henry Greene, a tripulação dominou Hudson e, juntando-o ao filho e a mais sete marinheiros fiéis numa pequena chalupa, abandonou-o à sua sorte nas águas gélidas e mortíferas da baía.

Era o fim para Henry Hudson e para aqueles que o acompanharam. Nunca mais se soube deles, e podemos somente imaginar como acabaram as suas vidas.

Entretanto, o Discovery conseguiu chegar a Inglaterra com a tripulação amotinada. O caso viria a ser revelado e os cabecilhas da rebelião punidos.
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Adaptado de: Great Adventures That Changed Our World.

terça-feira, 19 de março de 2019

Cantares de Venezuela (2) - Cecilia Todd ("Polo Margariteño")


Cecília Todd nasceu em Caracas, Venezuela, no dia 4 de Março de 1951.
Dona de uma voz belíssima, é também exímia executante do "cuatro" venezuelano (instrumento de cordas que parece ter tido como antepassado remoto o cavaquinho português).



segunda-feira, 18 de março de 2019

Cantares de Venezuela (1) - Soledad Bravo ("Polo Margariteño")



Soledad Bravo é uma cantora venezuelana (embora nascida em Espanha no ano de 1943).
É uma das mais importantes figuras da música latino-americana. Senhora de uma voz cristalina e poderosa, abordou os mais variados géneros musicais.
O começo da sua carreira ficou, porém, associado à canção folclórica e de protesto, onde alcançou enorme popularidade. Contribuiu para dar a conhecer os compositores mais representativos da chamada "Nova Trova Cubana" e da "Nova Canção Latino-Americana".



(Vídeo de RecordsFromShelf)

quinta-feira, 14 de março de 2019

"Brasileirinho"

Waldir Azevedo, compositor brasileiro, mestre de cavaquinho.
Nascido no Rio de Janeiro (1923). Falecido em São Paulo (1980).

A inesquecível composição de Waldir Azevedo ("Brasileirinho") é aqui magistralmente executada por Fábio Lima: