Pequenas e grandes histórias da História e mensagens mais ou menos amenas sobre vidas, causas, culturas, quotidianos, pensamentos, experiências, mundo...
Nasceu em Portugal, no concelho nortenho de Marco de Canaveses, no dia 9 de Fevereiro de 1909.
Partiu para o Brasil com a família quando ainda não perfizera o primeiro ano de vida.
Faleceu com 46 anos, nos Estados Unidos, em 5 de Agosto de 1955.
Sobre a sua breve, gloriosa e trágica vida pode consultar uma síntese razoável aqui.
Carmen Miranda assumiu a condição de portuguesa brasileiríssima como sucedeu com tantos outros - e, por vezes, em sentido inverso.
Aconteceu, por exemplo, com Pedro I, primeiro imperador do Brasil, que para aqui partiu com 9 anos de idade, aqui cresceu, se tornou homem adulto e, como repetidamente disse e escreveu, se tornou brasileiríssimo pelo coração.
Pedro esse que, nas voltas fortíssimas do destino histórico, acabou por ofertar às duas pátrias dois filhos - ambos brasileiros - para as governarem: no Brasil ficou Pedro II, como imperador; no trono de Portugal deixou como rainha a carioca Maria II (que nasceu no Paço de São Cristóvão, Rio de Janeiro, e só veio para Portugal com 9 anos de idade).
Carmen Miranda foi portuguesa, brasileiríssima, e também rainha da música popular do Brasil. Incorporou a nova pátria em tudo: no sotaque, no modo de estar e de vestir, nos gostos tropicais, na vivacidade, nos requebros, na alegria esfuziante da sua arte - que manteve mesmo quando, na vida privada, o céu se lhe cobria de nuvens escuras e a sorte se lhe tornava cruel.
No seu impressionante funeral, no Rio de Janeiro, centenas de milhares de pessoas manifestaram um comovente sentimento de perda. Como não podia deixar de ser, o caixão seguia muito justamente abraçado pela bandeira do Brasil.
Entretanto, em Marco de Canaveses, conservava-se ainda a cama em que ela viera ao mundo naquele distante Inverno de 1909...
Em homenagem a esta portuguesa brasileiríssima, três dos seus maiores êxitos:
"Mamãe Eu Quero":
"Disseram Que Voltei Americanizada"
(Nesta peça musical Carmen Miranda expressava magoadamente o seu brasileirismo, após as críticas injustas que lhe tinham sido dirigidas por causa da sua fulgurante carreira nos Estados Unidos):
... e o também imortal "O Que É Que a Baiana Tem?":
Luciana Rabello nasceu em Petrópolis, Brasil, no ano de 1961.
Pertence a uma família proveniente do Nordeste Brasileiro, onde – como ela própria explica – se mistura o sangue de portugueses, espanhóis, holandeses, alemães, negros e índios.
Luciana, como vão poder confirmar daqui a pouco, é uma extraordinária cavaquinista (tocadora de cavaquinho), embora se tenha iniciado, ainda criança, pelo violão, e tenha estudado também piano clássico durante cinco anos.
É, igualmente, compositora.
O avô materno, José de Queiroz Baptista, foi o seu primeiro e único professor. Começou a tocar aos 6 anos e, aos 13, já compunha.
Em 1975 integrou, com o irmão Raphael Rabello, o grupo “Os Carioquinhas”, especializado em choro (ou chorinho), uma das mais famosas e características expressões musicais do Brasil.
Começava assim, aos 14 anos, a carreira magnífica de Luciana Rabello, numa época em que, como ela diz, para muita gente “o choro era coisa de velho…”.
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Primeira mulher a tocar cavaquinho profissionalmente, Luciana estreou-se em disco aos 16 anos. No início da década de 1980 viajou pela Europa, actuando como solista de choro em espectáculos de Toquinho (que tocava violão).
A partir de então, tornou-se na cavaquinista preferida de vários maestros brasileiros de 1.ª linha. Em 1999 fundou, com Maurício Carrilho, a Acari Records, que administra desde o ano de 2000. Trata-se da primeira gravadora a dedicar-se, exclusivamente, ao choro. Tem hoje muitas dezenas de títulos no seu catálogo.
Os filhos de Luciana Rabello, Ana e Julião, são também músicos reconhecidos. Diz-se, e é verdade, que eles “estão seguindo as pisadas de mamãe…”.
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O choro, cujos executantes são chamados de chorões, é um género musical com cerca de 140 anos de existência. Mas há quem diga que as suas origens remotas se acham no ano de 1808, quando a Família Real portuguesa chegou ao Brasil refugiada da ameaça militar napoleónica que alastrava na Europa.
Com a corte lusitana foram para o Brasil instrumentos como o piano, o clarinete, o violão, o saxofone, o bandolim e o cavaquinho, bem como danças de salão europeias (valsa, mazurca, quadrilha, modinha, xote e, principalmente, a polca).
Os novos instrumentos, as novas músicas e a reforma urbana entretanto operada criaram o caldo de cultura que levaria ao surgimento do choro.
Surgiu um novo estrato social, a classe média (funcionários públicos, instrumentistas de bandas militares e pequenos comerciantes).
Algumas dessas pessoas passaram a formar conjuntos para tocar “de ouvido” aquelas músicas, combinando-as com os ritmos africanos já enraizados na cultura brasileira.
E, assim, nos quintais dos subúrbios do Rio de Janeiro se foi impondo a primeira música urbana tipicamente brasileira: o choro. O choro resultou, portanto, da criatividade com que os músicos populares executavam, ao seu jeito, a música importada que se ouvia nos salões e bailes da alta sociedade por meados do século XIX.
A música dos chorões, porém, evoluiu - e em breve se distinguia bastante da que se tocava nos salões da nobreza carioca.
Da esquerda para a direita:
violão de sete cordas - violão
bandolim - flauta - cavaquinho - pandeiro.
.Esta designação (choro) deve-se ao carácter plangente, choroso, da música que esses pequenos conjuntos faziam.
As primeiras combinações instrumentais giravam em torno de um trio constituído por flauta (para os solos), o violão (acompanhamento, como se fosse um contrabaixo) e, claro, o cavaquinho, que fazia um acompanhamento mais harmónico, rico de acordes e variações.
Os primeiros chorões, improvisadores por definição, não tinham regras fixas para o número de executantes ou para os instrumentos musicais admitidos. Por isso, o leque se foi alargando com a passagem do tempo (como pode ver acima).
O choro exige do músico um completo domínio do instrumento e uma percepção apuradíssima dos códigos e senhas que se encaixam em gigantescos improvisos. Ainda hoje, o bom músico de choro tem como condição básica ser também um bom improvisador.
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No princípio da década de 1980, como se disse, Luciana Rabello, então com pouco mais de 20 anos, actuou como solista de choro nos espectáculos de Toquinho.
É de um desses espectáculos a peça que seguidamente vos apresento. Trata-se de uma famosa composição ("Brasileirinho") de Waldir Azevedo, um popularíssimo artista de choro e, também ele, um virtuoso do cavaquinho.
Os Brasileiros, como sabemos, transformaram e enriqueceram a língua portuguesa: pronunciam-na com todas as sílabas e embeberam-na numa mistura fina de açúcar e canela. Ora, nesta interpretação, Luciana mostra o que os Brasileiros fizeram do cavaquinho português: afinaram-no ao seu jeito e deram-lhe o perfume inebriante da sonoridade tropical.
Quanto a Luciana Rabello, a gente não sabe bem o que mais admirar nesta intervenção.
A fantástica demonstração de talento?
A imperturbável serenidade da execução?
A beleza invulgar da artista?
Creio que anda tudo pelo mesmo - elevadíssimo - nível.
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Para os brasileiros que tiverem curiosidade em saber como soava (e soa) o velho cavaquinho português - que deu origem ao vosso cavaquinho dos chorões -, deixo uma interpretação dos "Cavaquinhos do Paranho" (Trofa - Portugal).
Trata-se de um Malhão Minhoto, a música alegre e comunicativa de muitas festas e romarias do Norte Português:
Júlia Barroso (1930-1996) (Saiba mais sobre ela - aqui)
Meu amor na vida
sem
vida eu vivo aqui Desde que à partida, meu Zé, fiquei sem ti Bem peço aos retratos "Socorro!" São mudos, ingratos: vem tu, se não morro!
Nem mesmo a saudade me traz consolação Quero a verdade, não quero uma ilusão Na alma ainda me dói, meiga a tua voz Quando o barco foi tão mau pr'a nós
Adeus,
não afastes os teus olhos dos meus Até quando ao longe a bruma a pairar me consuma entre as ondas do mar e os céus,
Adeus,
não afastes os teus olhos dos meus
Dá-lhes carinhos, que partem ceguinhos de amor pelos teus
Sei que tu existes e
sei também, meu Zé Que há palavras tristes e que uma delas é a que me tortura: distância Nem sei se há mais dura na minha ignorância
Há palavras belas, mas quase as esqueci Véu, noivado, estrelas, altar e outras p'ra aí Quando as ouvirei todas?
Sol, Jesus... Hoje apenas sei estas sem luz Adeus,
Quem sabe alma querida,
adeus,
se é por toda a vida?
Adeus,
não afastes os teus olhos dos meus Dá-lhes carinhos Que partem ceguinhos de amor pelos teus.
Vem sendo, desde há cerca de cinquenta anos, uma das composições mais famosas da música ligeira universal.
A mim, para além da lembrança do Brasil, transporta-me sempre para as terras natais de Angola - pela sonoridade, pelas imagens, pela vastíssima coincidência de evocações...
Não é para admirar, se atendermos à ligação histórica e geográfica destes dois mundos, que se fitam eternamente por sobre as águas do Atlântico. De um lado Luanda, do outro Recife; Benguela e Maceió; Namibe e Aracaju; Porto Amboim e Salvador; Sumbe e Ilhéus...
Em palco, dois gigantes da música brasileira, tão prematuramente desaparecidos:
Elis Regina (1945-1982) - voz, garra e sentimento, a Pimentinha de mestre Vinicius de Moraes...
Tom Jobim (1927-1994) - compositor, executante, cantor, um dos progenitores da bossa nova...
Catherine Annette Hanshaw nasceu em New York, Estados Unidos, em 18 de Outubro de 1901, e faleceu na mesma cidade a 13 de Março de 1985.
Foi uma das estrelas de rádio mais populares nos anos 20 e 30, tendo vendido para cima de quatro milhões de discos até 1934. Nesse ano, e após um inquérito realizado pela revista Radio Stars, foi-lhe atribuído o título de melhor cantora popular feminina (Bing Crosby foi o melhor masculino).
Annette Hanshaw aliava à grande beleza física e à presença cheia de simpatia uma voz aveludada, tranquila e cativante. Tinha o hábito de rematar as suas interpretações com um gracioso That´s All (É Tudo) que ficou como tocante marca pessoal.
Nos vídeos abaixo fica patente a sua qualidade de intérprete, não obstante a antiguidade dos discos e as deficientes condições de gravação da época.
Tico-Tico no Fubá é um "choro" composto pelo brasileiro Zequinha de Abreu (1880-1935).
Foi apresentado pela primeira vez em 1917 com o nome de Tico-Tico no Farelo. Só em 1931 adquiriu a denominação actual.
Embora essencialmente instrumental, possui letra da autoria de Eurico Barreiros.
Aloysio de Oliveira escreveu nos Estados Unidos uma outra versão da letra para ser cantada, no filme Copacabana, pela inesquecível Carmen Miranda (relembre-a aqui ).
Tornou-se rapidamente, e até aos dias de hoje, um enorme sucesso mundial.