sexta-feira, 30 de abril de 2021

SURREALISMO (6)

 





Da trilha sonora do filme Vertigo (A. Hitchcock)
Prelúdio - Pesadelo
(Compositor - Bernard Herrmann)
































































































































quarta-feira, 28 de abril de 2021

Brasil - Tempos de Escravidão

 


Séculos antes do tráfico transatlântico de escravos, já os comerciantes árabes desciam ao sul do continente africano para adquirir e transportar mulheres e homens negros, através do deserto do Saara, até à bacia mediterrânica e à Península Arábica. A lei islâmica proibia a escravização de muçulmanos, mas não a de "infiéis", o que oferecia larga margem de manobra aos traficantes.

As aquisições faziam-se, por norma, em mercados especializados a sul do deserto saariano. Mais tarde seriam também abertas rotas marítimas pelo mar Vermelho e oceano Índico, ao longo das quais fluíam, desde a costa oriental africana, os carregamentos humanos até chegarem às mãos dos clientes finais (que podiam estar na Arábia, na Índia, em Malaca, em Java ou, até, na China).

Assim, com início logo no século VII, foram milhões os seres humanos arrancados ao longo dos anos ao seu meio, às suas famílias e à sua liberdade. Como sucederia depois com a investida dos europeus nas costas africanas (finais do século XV, século XVI e seguintes), os árabes conseguiam a maior parte da mercadoria humana através de relações comerciais mais ou menos pacíficas com muitas das elites africanas, assim tornadas cúmplices do nefando comércio.

A chegada dos europeus - com a sua entrada quase imediata no comércio firmemente implantado no território - não fez mais do que aumentar a sangria humana, elevando-a a patamares anteriormente impensáveis. Ainda não se tinha chegado a meio do século XVI quando os negros começaram a chegar ao Brasil - e a outras paragens colonizadas das Américas - às centenas e aos milhares. Depois, nos anos seguintes, até ao século XIX, os carregamentos subiram às centenas de milhares e aos milhões.

Portugueses, brasileiros, britânicos, franceses, espanhóis, holandeses e americanos, entre outros, fariam depender as suas economias coloniais dos braços fortes dos homens e das mulheres de África, muito mais resistentes e rentáveis do que os dos índios.



No Brasil, os escravos destinavam-se principalmente às plantações, às minas, aos engenhos de açúcar e aos serviços domésticos. Arrebanhados pela força, detidos a contragosto, sujeitos às arbitrariedades dos donos, por vezes revoltavam-se ou fugiam, saltitando de terra em terra ou refugiando-se nos quilombos (ver aqui).

Alguns eram perseguidos, capturados e punidos. Outros, escondidos, conseguiam manter uma liberdade periclitante, sempre ameaçada. Outros mudavam de senhor e de sorte, sendo vendidos, alugados ou emprestados. E, ainda outros, conseguiam não obstante, por sua inteligência e méritos, libertar-se das cadeias da escravidão e elevar-se socialmente, alcançando posições preponderantes.

A escravidão no Brasil durou séculos, prolongando-se mesmo para além da independência nacional (1822). Oficialmente extinguiu-se pela Lei Áurea (13 de Maio de 1888), legislação importante, mas que não extirpou completamente o flagelo.

No fim de tudo, e após o excruciante sofrimento de sucessivas gerações, os homens e as mulheres de África - e os seus descendentes - tinham dado um contributo fundamental para a construção do Brasil. Fizeram-no em todos os domínios e expressões culturais, como a demografia, a música, a economia, a religiosidade, a literatura, a gastronomia, o desporto, o falar colorido e a inconfundível fisionomia nacional. Em suma, em tudo quanto fez no passado, e faz ainda hoje, a multifacetada e admirável riqueza cultural e étnica do grande e bem-amado Brasil.

Saiba mais sobre a escravidão brasileira - aqui.





Capitão do mato, caçador de recompensas,
perseguidor de escravos fugitivos














Mercado de escravos, no Recife


















Zumbi
(Jorge Ben Jor)


Canto das Três Raças
(Clara Nunes)


terça-feira, 27 de abril de 2021

Cartazes antigos de publicidade e propaganda (Portugal) - 2

 






Fandango (da Suite Alentejana)
(compositor: Luiz de Freitas Branco)
(Orquestra Típica Portuguesa - dir. Belo Marques)
(Vídeo de Miguel Catarino)






























































































































































































segunda-feira, 26 de abril de 2021

Portugal - "Uns vão bem e outros mal" (Fausto Bordalo Dias)

 



A canção abaixo - Uns vão bem e outros mal - pertence ao álbum Madrugada dos Trapeiros, que Fausto Bordalo Dias lançou em 1977. Tinham passado somente três anos sobre a revolução de 25 de Abril, que pusera termo à ditadura em Portugal, e os sentimentos e ardores revolucionários palpitavam ainda nos versos deste baile mandado.

Nos dias que correm, quase meio século consumido sobre a data revolucionária, alguns dos queixumes parecem infelizmente actuais. Na pátria lusa e não só. Em muitas e diversas paragens - tal como cá, no torrãozinho à beira-mar plantado -, há uns poucos que vão singrando cada vez melhor, sobranceiramente intocáveis no topo ofensivo de seus lucros, luxos e fortunas. Ao passo que outros, porventura a imensa maioria - precisamente aqueles de quem se extraíram, sem escrúpulos nem piedade, tais lucros, luxos e fortunas -, continuam a sobreviver aos tombos, sempre na iminência do naufrágio, prosseguindo vidas cinzentas, miseráveis e já sem esperança...



Senhoras e meus senhores,
façam roda por favor
Senhoras e meus senhores,
façam roda por favor,
cada um com o seu par
Aqui não há desamores,
se é tudo trabalhador,
o baile vai começar.

Senhoras e meus senhores,
batam certos os pezinhos,
como bate este tambor
Não queremos cá opressores,
se estivermos bem juntinhos,
vai-se embora o mandador
 Vai-se embora o mandador

Faz lá como tu quiseres,
faz lá como tu quiseres,
faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão,
folha seca cai ao chão

Eu não quero o que tu queres,
eu não quero o que tu queres,
eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição,
que eu sou doutra condição

De velhas casas vazias,
palácios abandonados,
os pobres fizeram lares
Mas agora todos os dias,
os polícias bem armados
desocupam os andares
Para que servem essas casas,
a não ser para o senhorio
viver da especulação

Quem governa faz tábua rasa,
mas lamenta com fastio
a crise da habitação

E assim se faz Portugal,
uns vão bem e outros mal.

Faz lá como tu quiseres,
faz lá como tu quiseres, 
faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão,
folha seca cai ao chão

Eu não quero o que tu queres,
eu não quero o que tu queres,
eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição,
que eu sou doutra condição

Tanta gente sem trabalho,
não tem pão nem tem sardinha
e nem tem onde morar
Do frio faz agasalho,
que a gente está tão magrinha
da fome que anda a rapar

O governo dá solução,
manda os pobres emigrar,
e os emigrantes que regressaram
Mas com tanto desemprego,
os ricos podem voltar
porque nunca trabalharam

E assim se faz Portugal,
uns vão bem e outros mal.

Faz lá como tu quiseres,
faz lá como tu quiseres,
faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão,
folha seca cai ao chão

Eu não quero o que tu queres,
eu não quero o que tu queres,
eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição,
que eu sou doutra condição.

E como pode outro alguém,
tendo interesses tão diferentes,
governar trabalhadores
Se aquele que vive bem,
vivendo dos seus serventes,
tem diferentes valores.

Não nos venham com cantigas,
não cantamos para esquecer,
nós cantamos para lembrar
Que só muda esta vida,
quando tiver o poder
o que vive a trabalhar

Segura bem o teu par,
que o baile vai terminar.

Faz lá como tu quiseres,
faz lá como tu quiseres, 
faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão,
folha seca cai ao chão.

Eu não quero o que tu queres,
eu não quero o que tu queres,
eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição,
que eu sou doutra condição.

domingo, 25 de abril de 2021

"As Sete Mulheres do Minho" (José Afonso - Portugal)

 

...mulheres de grande valor, capazes de irem, armadas de fuso e roca -  e de pistolas na mão -, correr com o regedor e matar os Cabrais que são falsos à Nação...


Sete mulheres do Minho (Norte de Portugal) em seus trajes típicos




As sete mulheres do Minho
mulheres de grande valor
Armadas de fuso e roca
correram com o regedor

Essa mulher lá do Minho
que da foice fez espada
há-de ter na lusa história
uma página doirada

Viva a Maria da Fonte
com as pistolas na mão
para matar os Cabrais
que são falsos à nação.

..........



Sobre a revolução da Maria da Fonte (Revolta do Minho - 1846), a que se referem os versos acima, saiba mais - aqui.

Saiba também mais sobre José (Zeca) Afonso - aqui.

... e mais três jovens e valentes mulheres do Minho  (Portugal)

sábado, 24 de abril de 2021

APPOMATTOX - Rendição do general Robert E. Lee ao general Ulysses S. Grant - Fim da Guerra Civil Americana (1865)

 

Os generais Robert Lee (à esquerda) e Ulysses Grant (à direita)
assinam os termos da rendição na Casa McLean


Há 156 anos, no dia 9 de Abril de 1865, o general Ulysses S. Grant, comandante do Exército da União, montou no seu cavalo Cincinnati e dirigiu-se a Appomattox Court House, uma povoação da Virgínia. Aí, na chamada Casa McLean (porque pertencia a Wilmer McLean), aguardava-o Robert E. Lee, o chefe das tropas confederadas e separatistas.

A epopeia militar do general confederado e o sonho da separação sulista haviam chegado ao fim. Após uma série de triunfos retumbantes, a estrela de Lee começara a empalidecer sob os ataques do Norte, sobretudo a partir do momento em que se quebrou o mito da sua invencibilidade. A esse respeito, a derrota de Gettysburg, em 1863, ficara como um marco importante e fatídico na campanha da Confederação (rever aqui).

Agora, em Abril de 1865, depois dos derradeiros e desesperados confrontos nas imediações de Appomattox, Robert E. Lee tinha o seu exército encurralado por forças muito superiores e frequentemente reforçadas. Só lhe restava o caminho da rendição e foi isso mesmo que ele comunicou por carta a Ulysses Grant. Após a resposta afirmativa do inimigo, ficou à espera deste para se resolver o fecho do conflito que durava desde 1861.


Cumprimentos entre os dois grandes adversários na Casa McLean


Quando Grant deu entrada na Casa McLean, os dois líderes cumprimentaram-se e apresentaram um ao outro os oficiais que os acompanhavam. Ambos tinham frequentado a Academia de West Point e os dois tinham participado na guerra dos Estados Unidos contra o México (1846-1848). Por isso, não eram dois desconhecidos sem pontos de contacto.

Depois das saudações, Grant e Lee trataram das formalidades previstas na correspondência que haviam mantido. O acordo ficou estabelecido em documentos surpreendentemente curtos: os dois assinaram e trocaram cartas com os termos da rendição e, pelas 3 horas da tarde, tudo havia terminado (ainda que o fim oficial das hostilidades só tenha chegado a 28 de Junho de 1865).

Grant, evitando sabiamente humilhar os antigos inimigos, permitiu que os oficiais confederados continuassem na posse das montadas e das armas pessoais. Foi por isso que Robert E. Lee pôde entrar e sair da Casa McLean com a sua espada, despedindo-se cavalheirescamente dos vencedores e abandonando o local com tranquila dignidade.

Mais tarde, Ulysses Grant recordou os sentimentos que Robert Lee lhe inspirara no momento da rendição - naquelas horas que tinham encerrado um conflito que roubara mais de meio milhão de vidas à nação: Senti tudo menos regozijo perante a queda de um adversário que tinha lutado tão longa e valentemente e que tanto tinha sofrido por uma causa, embora essa causa fosse, segundo creio, uma das piores por que um povo alguma vez lutou.


Robert Lee abandona a Casa McLean após ter assinado a rendição







O vencedor
General Ulysses S. Grant (1822-1885),
comandante dos exércitos da União
e futuro Presidente dos Estados Unidos







O vencido
General Robert E. Lee (1807-1870),
comandante dos exércitos da Confederação



A Casa McLean em 1865






A Casa McLean nos dias de hoje (reconstruída)






A sala da casa McLean onde se assinou a rendição (reconstruída)


1 - Oh Susana
(Canção dos Confederados)


2 - Battle Cry of Freedom
(Canção dos Unionistas)