quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Grandes Quadros (Frans Hals - Holanda) (1580-1666)


Banquete dos Oficiais da Companhia S. Jorge da Guarda Civil







Banquete dos Oficiais da Companhia St. Hadrian da Guarda Civil








Oficiais e Sargentos da Companhia S. Jorge







Oficiais e Sargentos da Companhia St. Hadrian

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Propaganda da Segunda Guerra Mundial (2)


Estados Unidos






Grã-Bretanha









União Soviética








Alemanha







Estados Unidos







Grã-Bretanha








União Soviética








Alemanha







Estados Unidos







Grã-Bretanha








União Soviética








Alemanha

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Titanic, o Eurostar e as reencarnações...



Eurostar imita Titanic



O Titanic começou a ser construído há um século e partiu-se em dois em 1912.
Era um mundo (o maior e mais moderno navio até então) e o seu fim ilustrou o mundo como ele sempre foi: da 1.ª classe morreram só 38% dos seus passageiros, da 2.ª, 59%, e da 3.ª, 75%...

O mundo foi sempre assim, dividido entre os que têm e os que não têm - com mais ou menos gradações entre a cabina de luxo e os beliches do porão.
Foi há cem anos.

Agora chegam notícias de outra maravilhosa máquina, o comboio Eurostar que atravessa o canal da Mancha, que naufragou.
Não exageremos, só ficaram duas mil pessoas bloqueadas durante 18 horas.
O culpado foi o do costume, o frio - no Titanic, um iceberg, com o Eurostar, a neve.

E o comportamento humano também foi o do costume.
Ficaram famílias sem água nem comida e sem informação.
Eram dos que não têm.

Mas, no túnel bloqueado, alguém foi buscar Claudia Schiffer para a levar até à saída.
Ela tem.
Sempre teve.
Na outra encarnação, ela chamava-se Lady Lucy Duff-Gordon e salvou-se no primeiro salva-vidas que desceu do Titanic (só levava 12 pessoas, havia lugar para 40, mas urgia salvar aqueles passageiros da 1.ª classe).

O mundo o que tem de tranquilizador (e de inquietante, também) é que não nos surpreende. (*)

(*) Ferreira Fernandes - Diário de Notícias - Lisboa - Portugal (22-Dez-2009)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Aberturas de Grandes Livros - "David Copperfield" (Charles Dickens)



“Serei o herói da minha própria existência ou este papel terá sido desempenhado por outro? Estas páginas o dirão. Para começar a minha vida pelo princípio, registo que nasci (pelo menos assim mo asseveraram e estou disso persuadido) numa sexta-feira à meia-noite. Notou-se que o relógio principiara a dar horas e eu começara a chorar ao mesmo tempo.

Devido ao dia e à hora do meu nascimento, declarou a parteira, bem como várias matronas da vizinhança, que manifestaram vivo interesse por mim antes da data em que o nosso conhecimento se pudesse realizar, primeiro: que eu me destinava a não ter sorte na vida;
segundo, que gozaria do privilégio de ver espíritos e fantasmas.
Estes dons pertenciam inevitavelmente – assim o acreditavam, pelo menos – às pobres crianças, de um ou outro sexo, nascidas às primeiras horas da madrugada de sexta-feira. (…)

 
(…) Nasci em Blunderstone, no Suffolk, ou “algures”, como se diz na Escócia.
Sou um filho póstumo. Os olhos de meu pai tinham-se fechado para a luz do dia seis meses antes de os meus se abrirem.
Ainda hoje há para mim qualquer coisa de estranho nesta ideia de ele nunca me ter visto, qualquer coisa de ainda mais estranho na mistura das minhas recordações de infância com a pedra branca do seu túmulo no cemitério vizinho, e a compaixão inexprimida que eu sentia, ao pensar que ele estava ali, na noite escura, enquanto a nossa pequena sala de estar, tépida e clara, lhe fechava as suas portas – não sem crueldade, pensava eu (…).”


David Copperfield - Charles Dickens - Inglaterra - (1812-1870) - Editado pela Livraria Romano Torres - Lisboa - Portugal - 1967).

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Presépio da Igreja de Nossa Senhora do Cardal (Pombal - Portugal)

..
"Tendo pois nascido Jesus em Belém de Judá, em tempo do rei Herodes,
eis que vieram do Oriente uns magos a Jerusalém,
dizendo:
Onde está o rei dos Judeus, que é nascido?
Porque nós vimos no Oriente a sua estrela, e viemos adorá-lo."

A Bíblia - Evangelho de S. Mateus, Capítulo 2 - 1 e 2.
.
.
"Cântico de Natal"- Placido Domingo
Aqui:


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Começos...


Pôr-do-Sol

Capa de Norman Rockwell para The Saturday Evening Post - 1926 (U. S. A.)

Grandes Quadros (F. van Dijck - Holanda)


Natureza Morta

Floris Claesz van Dijck - Holanda (1575-1651)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Carlos Drummond de Andrade - Provável influência do grande poeta na conquista da 3.ª Copa do Mundo pelo Brasil (1970)


De 31 de Maio a 21 de Junho de 1970, uma selecção brasileira compareceu no México para disputar a fase final da Copa do Mundo de Futebol.
O Brasil possuía (como sempre) jogadores superdotados. Basta lembrar Tostão, Gérson, Carlos Alberto, Rivelino, Jairzinho, Leão.
Possuía, acima de todos, o (sobrenatural) Pelé.
Mas o desfecho de um Campeonato do Mundo é sempre imprevisível, mesmo para o melhor futebol do Mundo, que é o do Brasil (recordem 1950, contra o Uruguai; ou 1966, contra Portugal).

 
... Porém, a par de Pelé e de seus companheiros, o Brasil tinha ainda Carlos Drummond de Andrade, o grande poeta.
Em Maio, às vésperas do início da competição, angustiado pelos males do seu país, ele elevou aos céus esta

Prece do brasileiro

Meu Deus, só me lembro de vós para pedir,
mas de qualquer modo sempre é uma lembrança.
Desculpai vosso filho,
que se veste de humildade e esperança
e vos suplica:
Olhai para o Nordeste onde há fome, Senhor,
e desespero dando nas estradas entre esqueletos de animais.
Em Iguatu, Parambu, Baturité,Tauá
(vogais tão fortes não chegam até vós?)
vede as espectrais procissões de braços estendidos,
assaltos, sobressaltos, armazéns arrombados
e – o que é pior – não tinham nada.

Fazei, Senhor, chover a chuva boa,
aquela que, florindo e reflorindo,
soa qual cantata de Bach em vossa glória
e dá vida ao boi, ao bode, à erva seca,
ao pobre sertanejo destruído
no que tem de mais doce e mais cruel:
a terra estorricada sempre amada.
Fazei chover, Senhor, e já!
numa certeira ordem às nuvens.
Ou desobedecem a vosso mando, as revoltosas?

Fosse eu Vieira (o padre)
e vos diria, malcriado, muitas e boas...
mas sou vosso fã omisso, pecador, bem brasileiro.
Comigo é na macia, no veludo/lã
e matreiro, rogo,
não ao Senhor Deus dos Exércitos (Deus me livre)
mas ao Deus que Bandeira, com carinho, botou em verso:
“meu Jesus Cristinho”.

E mudo até o tratamento:
por quê “vós”, tão gravata-e-colarinho,
tão“vossa excelência?”
O "você" comunica muito mais
e se agora o trato de “você",
ficamos perto,
vamos papeando
como dois camaradas bem legais,
um, puro;
o outro, aquela coisa, quase que maldito
mas amizade é isso mesmo:
salta o vale, o muro, o abismo do infinito.
Meu querido Jesus, que é que há?
Faz sentido deixar o Ceará sofrer em ciclo
a mesma eterna pena?

E você me responde suavemente:
Escute, meu cronista e meu cristão:
essa cantiga é antiga
e de tão velha não entoa não.
Você tem a Sudene
abrindo frentes de trabalho de emergência,
antes fechadas.
Tem a ONU,
que manda toneladas de pacotes
à espera de haver fome.
Tudo está preparado para a cena
dolorosamente repetida no mesmo palco.
O mesmo drama, toda vida.

No entanto, você sabe,
você lê os jornais, vai ao cinema,
até um livro de vez em quando lê
se o Buzaid não criar problema:
Em Israel, minha primeira pátria
(a segunda é a Bahia)
desertos se transformam em jardins
em pomares, em fontes, em riquezas.
E não é por milagre:
obra do homem e da tecnologia.
Você, meu brasileiro, não acha
que já é tempo de aprender
e de atender àquela brava gente
fugindo à caridade de ocasião
e ao vício de esperar tudo da oração?

Jesus disse e sorriu.
Fiquei calado.
Fiquei, confesso,
muito encabulado,
mas pedir, pedir sempre ao bom amigo
é balda que carrego aqui comigo.
Disfarcei e sorri.
Pois é, meu caro.Vamos mudar de assunto.
Eu ia lhe falar noutro caso,
mais sério, mais urgente.

Escute aqui, ó irmãozinho.
Meu coração, agora, tá no México
batendo pelos músculos de Gérson,
a unha de Tostão,
a ronha de Pelé,
a cuca de Zagalo,
a calma de Leão
e tudo mais que liga o meu país
e uma bola no campo
e uma taça de ouro.
Dê um jeito, meu velho,
e faça que essa taça
sem milagres ou com eles
nos pertença
para sempre, assim seja...
Do contrário
ficará a Nação tão malincônica,
tão roubada em seu sonho e seu ardor
que nem sei como feche a minha crônica.

(Carlos Drummond de Andrade - 30-Maio-1970)

Nota da Torre - ... e o Brasil, pela terceira vez, foi Campeão do Mundo de Futebol...


Pode rever abaixo os golos dessa inesquecível conquista, que os Portugueses também celebraram como sua:

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Descanso ferroviário


Comboio nas Black Hills - Estados Unidos - 1890

(Foto de John Grabill)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Construindo a Nação (Estados Unidos)


Casa de trabalhadores de uma plantação - Sul dos Estados Unidos - Cerca de 1880

Fonte: Charles C. Coffin - Building the Nation, New York - 1883

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Grandes Quadros - (Frans Hals - Holanda)


Catharina Hooft e a sua ama





Catharina Hooft (pormenor)

Frans Hals - Holanda - 1580-1666

domingo, 13 de dezembro de 2009

A Morte de Alfonso XI, rei de Castela e Leão (1311-1350)

Alfonso XI de Castilla y León

"Nos começos do Verão de 1349, Alfonso XI de Castela, El Onceno, desceu até ao Sul para pôr cerco a Gibraltar. Levava com ele o estímulo de alguns triunfos que o em­purravam para o domínio do Estreito e para a investida final sobre Granada.
Na embalagem do Salado ele tinha-se apoderado, com as fulgurantes campa­nhas de 1341, de posições tão importantes como Locuvin, Alcalá de Benzayde (Alcalá la Real), Priego, Carcabuey, Rute, Benamejí e Torre de Matrera.
No ano seguinte, quando lhe chegaram informações de que Abu-l-Hassan se agitava de novo em Marrocos com propósitos agressivos, o rei agiu preventivamente e apressou-se a cair sobre Algeciras. Tratou-se de um cerco demorado e custoso, que Yusuf de Granada enfrentou com denodo, através das armas e de negociações ardilosas.

Mas o esforço dos Muçulmanos foi vão.
No Domingo de Ramos de 1344, o mui nobre rei D. Alfonso, com todos os prelados, e ricos-homens, e todas as outras gentes que aí eram, en­trou com mui grande procissão, e com os ramos nas mãos, naquela cidade. Quando se rezou missa na mesquita maior, crismada de Santa Maria de la Palma, os Castelhanos puderam ufanar-se de terem em seu poder duas das posições vitais para o domínio do Estreito - Tarifa e Algeciras. Faltava Gibraltar, do outro lado da baía.


É nas cercanias de Gibraltar, e do seu rochedo, que reencontramos Alfonso, em Março de 1350, comandando um assédio de ferro e fogo.
Este é um dos empreendimentos mais caros ao seu coração de guerreiro e ao seu orgulho de rei.
Para Muçulmanos e Cristãos, os calcários deste rochedo imponente, golpeados por escarpas abruptas que as neblinas translúcidas, saturadas de maresia, forram às vezes com uma película cinzenta de irrealidade, estão impregnados de lembranças e de símbolos im­perecíveis.

Para uns e para outros a luta pelo promontório assume-se como uma campanha sagrada.
Foi neste lugar que há mais de seis séculos irromperam na Península os cavaleiros de Alá conduzidos por Tariq ibn Ziyad.
Foi aqui que Fernando IV, pai de Alfonso, alcançou em 1309 uma das suas mais celebradas vitórias.
Mas Gibraltar é também uma mágoa corrosiva no peito de El Onceno, pois representa a única conquista perdida durante o seu reinado. Acima de qualquer conveniência estratégica, o desafio deste rochedo significa para o soberano de Castela uma questão de amor-próprio ferido.
Daí a sua insistência, ao cabo de dez meses, num cerco desesperado, em que se acentua a ol­hos vistos, por terra e por mar, a pressão castelhana.

Alfonso XI de Castilla y León

Quando já se anunciam neste recanto extremo da Andaluzia as luminosidades e os odores de uma Primavera exuberante, o arraial castelhano é de súbito devassado por intrusos de outra natureza.
Trata-se de um inimigo silencioso e escondido, incomparavelmente mais mortífero do que as investidas muçulmanas.
São legiões de bactérias assassinas, que subsistem nas veias dos ratos que se infiltram pelos postos de vigilância e ao longo dos fossos defensivos, e que dali partem para assaltar os abarracamentos, numa freima miudinha e voraz, com os focinhos aguçados e inquiridores.
As bactérias emigram dos ratos para as pulgas que medram, inchadas e luzidias, na higiene escassa das tropas amontoadas. E das pulgas se transferem elas para os tecidos humanos, através de picadas sorrateiras por onde se regurgitam as infecções.

O arraial de Alfonso fica num instante tomado pelos micróbios da Peste Negra, partidos dos confins asiáticos há cerca de três anos.
Os ratos vieram até aqui impelidos pela voracidade. Seguiram o tropel dos exércitos, emboscaram-se nos porões húmidos e saturados de mofo dos navios de longo curso, apanharam o rasto das caravanas que percorrem as grandes rotas comerciais. E com eles trouxeram as mortandades maci­ças que reduzem de um terço, em média, os aglomerados populacionais da Europa.

O acampamento castelhano torna-se num pesadelo onde os homens su­cumbem a um ritmo espantoso. Ante a possibilidade da morte quase certa, o clima que por aqui domina é o de um pavor irracional.
Alastram as febres, os vómitos, os delírios. Brotam nos enfermos os bubões, os inchaços dos gânglios linfáticos, o susto medonho dos caroços a romperem no pescoço, nas axilas, nas virilhas. Por baixo da pele dos contaminados deslizam hemorragias que vão colorindo os corpos de um violáceo carregado. Os homens escurecem com a doen­ça, e é por isso que a peste se chama negra.

E negras se mostram também as pers­pectivas deste cerco. O arraial deixa de ser um cordão de lâminas, de máquinas e de vontades capazes de levarem de vencida as muralhas e os defensores de Gibraltar. Transforma-se num universo de hemorragias pestilen­tas, de carnes torturadas, de correntezas de pânico.

 
Os efectivos cristãos minguam de forma alarmante e os fidalgos mais próximos de El Onceno antevêem um desastre de proporções irreparáveis. Receiam pela sorte de todos e, em particular, pela vida do rei. (...).
(...) O rei não leva nada a bem os cuidados e prevenções desta procissão assustada. Rebate os avisos, furta-se ao medo, pede que não tornem a dar-lhe tais conselhos.
Compreende-se. Nos seus trinta e nove anos ele vai caminhando pelo pico da vida e das energias, capaz de mover o mundo por Castela.

E, depois, há a he­rança dos antigos. Interroga: como se pode abandonar Gibraltar, essa derrota transformada em chaga que ele carrega dentro de si há dezassete anos?
Insiste: há que re­conquistar as muralhas que o pai ganhou um dia para Castela, e que ele, Alfonso, permitiu que se perdessem no seu tempo.
Além do mais, ele adivinha o êxito, entre­ga-se à esperança de que a resistência moura esteja por um fio. É só mais um sacri­fício, um esforço, um empurrão. Como é possível que não vejam o que ele vê nem sintam o que ele sente?
Virar costas a Gibraltar é que nunca - seria vergonha muito grande por medo da morte assim a deixar.

Alfonso XI de Castilla y León

Perante tais palavras de um tal rei, que haverá mais a dizer?
Toda a gente se cala, todos retornam, taciturnos, às obrigações do cerco. E assim vão andando as coisas, deste modo se gastam as horas entre assédios, ciladas, mortes e terrores.
Até que, certo dia, o rei se sente escaldar num febrão. E quando lhe tacteiam o corpo robusto percebem-lhe, num sobressalto, os temíveis inchaços dos gânglios, avisos irrecusáveis de fatalidade próxima.

Decorrido pouco tempo, para horror dos senho­res fidalgos, o homem de ferro principia a não dar acordo de si. Dos seus membros, que se vão revestindo de manchas violáceas, apenas se desprende flacidez e ausência de von­tade: ele mal consegue mover um dedo, quanto mais o mundo. Ali já só imperam as bactérias, as febres e a prostração do fim iminente.
E toda a gente compreende que Alfonso, El Onceno, está exaurido, sem defesa, quase a perder a batalha que talvez mais tenha ambicionado vencer.




Então, num ápice, o choque terrível: e morreu sexta-feira da Semana Santa, que dizem de indulgências, que foi aos vinte e sete dias de Março (...) no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e trezentos e cin­quenta anos, que foi então ano de Jubileu.
Alfonso, o grande monarca, terror do Islão, foi derrubado pelos ratos, pelas pulgas e pelos micróbios.

Entre as forças do cerco desatam-se o assombro e o desânimo.
No arraial, em redor do cadáver de El Onceno, a peste continua a propagar-se, minando as carnes e os espíritos dos homens, sugando-lhes o quase nada que lhes resta de disposição combativa.
Com o inesperado passamento do rei perdeu-se também a alma da conquista. Não só agora, como se verá, mas por muitas décadas.

Em Gibraltar, como por toda a Granada, difunde-se com celeridade a notícia, e os Castelhanos julgam apanhar no ar, do lado do inimigo, uma espécie de respeitosa passividade:

"E os Mouros que estavam na vila e castelo de Gibraltar, depois de saberem que o rei D. Alfonso estava morto, ordenaram entre si que nenhum ousasse fazer qualquer movimento contra os Cristãos, nem mover peleja contra eles.
Ficaram todos quietos, e diziam entre si que naquele dia morrera um nobre rei e grande príncipe do mundo, pelo qual não somente os Cristãos eram honrados, mas também os cavaleiros mouros que por ele haviam ganho grandes honras." (*)

(*) - José Bento Duarte - Peregrinos da Eternidade - Crónicas Ibéricas Medievais - Editorial Estampa - Lisboa - Portugal - 2003.
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Nota da Torre:
Este rei castelhano, Alfonso XI, casou com Maria, filha do rei português Afonso IV (o Bravo). Foi portanto cunhado de Pedro I de Portugal (o Justiceiro), que ficaria lembrado até hoje, sobretudo, por seus amores com Inês de Castro.
Do matrimónio de Alfonso XI com Maria nasceu o rei Pedro I de Castela (o Cruel), de que já tratámos aqui (ver 12-Junho-2008 e 7-Junho-2009).

De uma ligação com a fidalga Leonor de Guzmán teve Alfonso XI vários filhos, entre eles Enrique, conde de Trastâmara.
Este Enrique comandou entre 1366 e 1369 a guerra civil contra o seu meio-irmão Pedro, o Cruel, e acabaria por assassiná-lo nas imediações do castelo de Montiel. Subiria de imediato ao trono (como Enrique II de Castela e Leão), iniciando a dinastia castelhana dos Trastâmaras (Enrique II --> Juan I (que foi derrotado em Aljubarrota pelos Portugueses, no ano de 1385) --> Enrique III --> Juan II --> Enrique IV --> Isabel a Católica (irmã de Enrique IV; casaria com Fernando de Aragão, criando as condições para a futura união dos reinos ibéricos, que, com excepção de Portugal, se transformaria num grande país chamado Espanha).