Quatro servidores de
Zoroastro pegam no cadáver e, com ele, avançam para a porta da torre
correspondente à categoria social do falecido.
Lá dentro, depositam-no numa das
cavidades e tiram-lhe o tecido branco que o envolve, deixando-o completamente
nu às aves que hão-de devorá-lo.
O fúnebre silêncio é subitamente quebrado por um forte
estrépito de asas; e centenas de abutres, descidos das árvores, pousam sobre as
extremidades da torre.
Os quatro sacerdotes voltam a aparecer, cerrando a
porta; os abutres, ao contrário, desaparecem, num rápido movimento de mergulho.
Os quatro homens batem, então, as palmas e, a esse sinal, a família começa a
entoar preces no jardim.
Entretanto, dentro da torre, principia a festa
macabra.
Nisto, descem do céu outros competidores, os corvos negros. Mas, mais
fracos de corpo, eles sabem, dada a experiência de todos os dias, que serão
perseguidos pelos abutres. Baixam, por isso, rapidamente e logo se retiram, para
tornar a volver, para tornar a partir, levando no bico, de cada vez, o pedaço
de carne humana que conseguiram conquistar.
Esta batalha das aves negras dura
pouco tempo. Ao cabo de meia hora, minuto mais, minuto menos, os abutres saem
da torre, num voo pesado. E começam, já tranquilos, a limpar o bico sobre as
árvores.
Numa das cavidades da torre, recentemente cheia, há, agora, apenas um
esqueleto. Ao lado, enfileiram-se outros, da véspera e da ante-véspera. Alguns
dias quedarão ao sol, para perder as últimas impurezas da carne.
Depois, um dos
quatro homens que fruem o privilégio de entrar nas torres calça luvas
impermeáveis, pega em grandes tenazes e, agora os fémures e as tíbias, logo as
costelas e o crânio, despenha todos os ossos no poço central. Ali, durante um
período de seis a oito meses, o sol forte do Oriente calciná-los-á (…).
(…) Se não houvéssemos vindo aqui, se tivéssemos apenas lido a
história destes ritos, julgaríamos que se tratava não de costume do nosso tempo
e sim de antanho, costume perdido, como os ossos dos primeiros Parsis, na
poeira dos séculos.
Mas não. Cá estão os abutres, dormitando sobre as acácias
rubras e indiferentes aos nossos passos. Têm os olhos cerrados, a cabeça
repelente encostada ao peito e dir-se-á que não vêem nem ouvem coisa alguma.
Subitamente, porém, agitam-se, distendem o pescoço e olham para a ponte de
madeira…
O guarda que nos acompanha pede-nos desculpa e diz-nos que temos de
sair imediatamente. Pelo túnel que há sob a estrada avança um grupo de
indivíduos, todos de branco, o braço de um ligado ao de outro por uma faixa, branca
também, segundo ordena o rito.
Os da frente conduzem um longo vulto inerme em
posição horizontal…"