Eurostar imita Titanic
Era um mundo (o maior e mais moderno navio até então) e o seu fim ilustrou o mundo como ele sempre foi: da 1.ª classe morreram só 38% dos seus passageiros, da 2.ª, 59%, e da 3.ª, 75%...
O mundo foi sempre assim, dividido entre os que têm e os que não têm - com mais ou menos gradações entre a cabina de luxo e os beliches do porão.
Foi há cem anos.
Agora chegam notícias de outra maravilhosa máquina, o comboio Eurostar que atravessa o canal da Mancha, que naufragou.
Não exageremos, só ficaram duas mil pessoas bloqueadas durante 18 horas.
O culpado foi o do costume, o frio - no Titanic, um iceberg, com o Eurostar, a neve.
E o comportamento humano também foi o do costume.
Ficaram famílias sem água nem comida e sem informação.
Eram dos que não têm.
Mas, no túnel bloqueado, alguém foi buscar Claudia Schiffer para a levar até à saída.
Ela tem.
Sempre teve.
Na outra encarnação, ela chamava-se Lady Lucy Duff-Gordon e salvou-se no primeiro salva-vidas que desceu do Titanic (só levava 12 pessoas, havia lugar para 40, mas urgia salvar aqueles passageiros da 1.ª classe).
O mundo o que tem de tranquilizador (e de inquietante, também) é que não nos surpreende. (*)
(*) Ferreira Fernandes - Diário de Notícias - Lisboa - Portugal (22-Dez-2009)
2 comentários:
Mas esses, os que tinham, também já cá não estão. Também já foram, noutra viagem, é certo, mas foram..
É por isso que o avião continua sendo o meio de transporte mais "democrático". Quando cai, ou se salvam todos, ou alguns independente da classe social, ou ninguém.
Um abraço e um bom fim de semana!
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