e eu e o homem branco damo-nos tão bem
como se fôssemos filhos da mesma mãe.
e eu e o meu povo
vamos sacrificar por ti sobre o tronco de uma árvore
um precioso carneiro.
Pequenas e grandes histórias da História e mensagens mais ou menos amenas sobre vidas, causas, culturas, quotidianos, pensamentos, experiências, mundo...
Ama-de-leite é uma mulher que amamenta crianças alheias, ou seja, filhos ou filhas de outras mulheres que, por qualquer razão, não queiram, ou não possam, amamentar a própria prole.
Trata-se de prática que remonta aos primórdios da Humanidade. Consta, por exemplo, de velhos textos da Babilónia com cerca de 4000 anos (Código de Hamurábi). Também na Grécia e na Roma antigas se acha documentado este tipo de procedimento, igualmente designado por amamentação cruzada.
A ama-de-leite foi figura e recurso frequente na Europa dos últimos séculos, sobretudo nas camadas sociais mais favorecidas, em que, por razões de saúde ou por mero comodismo, as mães recentes delegavam noutras mulheres, por regra mais pobres ou delas economicamente dependentes, a alimentação dos seus próprios filhos.
Como é natural, este costume acompanhou por toda a parte as nações europeias expansionistas, como Portugal e Espanha. Com a intensificação da escravatura transatlântica, de origem africana, a amamentação cruzada conheceu patamares antes insuspeitados.
A razão é evidente: passavam a estar disponíveis em abundância, nas parcelas coloniais das nações europeias, milhares de jovens negras sadias e produtoras de um leite que, segundo se pensava então, era mais rico e fortificante do que o das parturientes brancas.
Este hábito enraizou-se no Brasil e por toda a América escravocrata. Tornou-se comum, nas casas senhoriais, entregar a responsabilidade da aleitação dos bebés brancos às jovens escravas que tivessem sido mães recentemente.
Por vezes era permitido a estas amas-de-leite que alimentassem, simultaneamente, o seu filho. Noutras ocasiões, porventura maioritárias, as coisas não se passavam assim: o aleitamento da criança negra era confiado a outras escravas enquanto a sua mãe se mudava para a casa grande para alimentar o filho ou a filha dos senhores.
Às vezes a solução podia ser mais desumana, quando a criança negra era encaminhada para a Roda dos Expostos, perdendo todo o vínculo com a progenitora. Era este o lado mais triste e trágico desta prática.
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"Mãe Preta" |
As histórias que contavas lá da aldeia a bola no telhado da vizinha o branco no amarelo da eira e a calça sem bainha
Que pensamento querias da montanha fugiste um dia p'ra Kilimanjaro seria o jeito sábio dum cocoana a falar sob um céu claro a marimba, a falar sob um céu claro a madeira, de pau preto um aparo a montanha vou de boleia em boleia Agora vou de boleia em boleia agora vou voltar a ser menino parar, ouvir silêncios sobre a areia visitar-te em S. Francisco Sobre a areia, visitar-te em S. Francisco lua cheia a subir tudo o que lembro a gavinha, numa noite de Dezembro Deixaste o sol na praia de Inhambane no cais da ponte o dia do vapor amigos que p'ra longe a pátria bane num retrato de esplendor Ventoinha, num retrato de esplendor casuarina, quinino saga e calor a cantina com o sabor e fico com o sabor das leituras percorro a vossa esteira pelo mar com um baú de histórias de aventuras vou morrer em Zanzibar...
cantado/rezado em suaíli, um idioma africano...
(I)
(Gospel Choir - Dar es Saalam - Tanzânia)
Portugueses, brasileiros, britânicos, franceses, espanhóis, holandeses e americanos, entre outros, fariam depender as suas economias coloniais dos braços fortes dos homens e das mulheres de África, muito mais resistentes e rentáveis do que os dos índios.
No Brasil, os escravos destinavam-se principalmente às plantações, às minas, aos engenhos de açúcar e aos serviços domésticos. Arrebanhados pela força, detidos a contragosto, sujeitos às arbitrariedades dos donos, por vezes revoltavam-se ou fugiam, saltitando de terra em terra ou refugiando-se nos quilombos (ver aqui).
Alguns eram perseguidos, capturados e punidos. Outros, escondidos, conseguiam manter uma liberdade periclitante, sempre ameaçada. Outros mudavam de senhor e de sorte, sendo vendidos, alugados ou emprestados. E, ainda outros, conseguiam não obstante, por sua inteligência e méritos, libertar-se das cadeias da escravidão e elevar-se socialmente, alcançando posições preponderantes.
A escravidão no Brasil durou séculos, prolongando-se mesmo para além da independência nacional (1822). Oficialmente extinguiu-se pela Lei Áurea (13 de Maio de 1888), legislação importante, mas que não extirpou completamente o flagelo.
No fim de tudo, e após o excruciante sofrimento de sucessivas gerações, os homens e as mulheres de África - e os seus descendentes - tinham dado um contributo fundamental para a construção do Brasil. Fizeram-no em todos os domínios e expressões culturais, como a demografia, a música, a economia, a religiosidade, a literatura, a gastronomia, o desporto, o falar colorido e a inconfundível fisionomia nacional. Em suma, em tudo quanto fez no passado, e faz ainda hoje, a multifacetada e admirável riqueza cultural e étnica do grande e bem-amado Brasil.
Saiba mais sobre a escravidão brasileira - aqui.
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Capitão do mato, caçador de recompensas, perseguidor de escravos fugitivos |
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Mercado de escravos, no Recife |