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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Lili 'Uokalani - A última rainha do Havaí (Hawai'i) independente

Rainha Lili 'Uokalani (1838-1917)
(A imagem representa-a em Londres,
onde assistiu ao jubileu da rainha Vitória).


O Havaí é um dos 50 Estados americanos.

Foi reino formalmente independente até 1893, ano em que um golpe de estado perpetrado por empresários e residentes euro-americanos colocou fim à monarquia.

Em 1898, os Estados Unidos anexaram o arquipélago, que passou a ser um seu território e assim se manteve por cerca de 60 anos.

Em 1959, após um processo de referendo entre a população, o Havaí tornou-se, finalmente, um dos 50 estados dos Estados Unidos da América.


Estátua de Lili 'Uokalani, em Honolulu (Havaí)


A última monarca do reino de Havaí foi Lili 'Uokalani, que sucedera a seu irmão David Kalãkaua em 1891.

Deposta em 1893 pelo referido golpe de estado, foi detida em Janeiro de 1895 e condenada a cinco anos de prisão com trabalhos forçados.
A sentença foi contudo comutada em detenção domiciliária e Lili 'Uokalani acabaria por mudar-se para a residência Washington Place (Honolulu), onde viveria discretamente até à sua morte, em 1917.

Em 1993, exactamente cem anos depois deste episódio brutal, os Estados Unidos assumiram uma reparação pública pelo sucedido.
Numa Resolução aprovada pelo Congresso e assinada pelo presidente Bill Clinton, reconheceu-se que a deposição de Lili fora ilegal e que o golpe ocorrera com a participação activa de cidadãos dos Estados Unidos, sendo por isso apresentado ao povo havaiano um pedido de desculpas formal.

Tratou-se de um acto simbólico, mas moral e historicamente justo para com a memória de Lili 'Uokalani, a última soberana.


A rainha nos seus últimos tempos, na residência de Washington Place, em Honolulu.


Lili 'Uokalani escreveu uma autobiografia poucos anos depois de ter sido deposta (História do Havaí pela Rainha do Havaí).

Distinguiu-se também pela autoria de várias composições musicais de notável inspiração.

A mais famosa de todas tem por título Aloha 'Oe (Adeus a Ti), ainda hoje ouvida com muitíssimo agrado.




Nessa canção maravilhosa evoca-se a triste e comovente despedida de dois apaixonados:

Adeus a ti, adeus a ti,
dá-me um abraço amoroso antes que eu parta,
até nos encontrarmos novamente;
doces memórias voltam para mim
trazendo lembranças frescas do passado;
aqui habitam as aves do amor
e eu saboreio o mel dos teus lábios...

Autora: Rainha Lili 'Uokalani 
(Aloha 'Oe)
(Adeus a Ti)
A magnífica interpretação deve-se ao 


Mapa do Havaí (Hawai'i):

Na ilha de Oahu destaca-se a capital, Honolulu (onde nasceu o presidente norte-americano Barack Obama), e, também, Pearl Harbor, atacada pelos Japoneses em 1941 (um acto que provocaria a entrada imediata dos Estados Unidos na 2.ª Guerra Mundial).

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Bertolt Brecht - "Perguntas de um trabalhador que lê"





"Perguntas de um trabalhador que lê"


Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis:
arrastaram eles os blocos de pedra?

E a Babilónia várias vezes destruída:
quem a reconstruiu tantas vezes?

Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros,
na noite em que a Muralha da China ficou pronta?

A grande Roma está cheia de arcos do triunfo:
quem os ergueu?
Com quem triunfaram os Césares?

A decantada Bizâncio
tinha somente palácios para os seus habitantes?

Mesmo na lendária Atlântida,
os que se afogavam
gritaram por seus escravos
na noite em que o mar a tragou?

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?

César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?

Filipe da Espanha chorou,
quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória:
quem cozinhava o banquete?

A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias...
Tantas questões...

..........

Saiba mais sobre Bertolt Brechtaqui
..........

"Canto por todos los muertos"
(Carlos Puebla)

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Putin é um criminoso de guerra - Qual é a dúvida? (Путин - военный преступник - В чем вопрос?)

 



Putin - Este criminoso sanguinário e sem escrúpulos tem de ser derrubado e neutralizado com urgência, sob pena de arrastar a Rússia e o mundo para uma tragédia irremediável.

De que estão à espera os generais e os oligarcas que o sustentam?

Querem continuar a ser cúmplices e executantes dos crimes deste velho assassino do KGB?

***

Путин - Этого кровожадного и беспринципного преступника нужно срочно сбить и нейтрализовать, иначе он втянет Россию и мир в непоправимую трагедию.

Чего ждут поддерживающие его генералы и олигархи?

Вы хотите и дальше оставаться соучастниками и исполнителями преступлений этого старого киллера КГБ?

***

Putin - This bloodthirsty and unscrupulous criminal must be brought down and neutralized urgently, otherwise he will drag Russia and the world into an irremediable tragedy.

What are the generals and oligarchs who support him waiting for?

Do you want to continue to be accomplices and perpetrators of the crimes of this old KGB assassin?



























































































Derrubem, prendam e julguem Putin!

Снять, арестовать и судить Путина!

Take down, arrest and judge Putin!














































































Derrubem, prendam e julguem Putin!

Снять, арестовать и судить Путина!

Take down, arrest and judge Putin!










































































Derrubem, prendam e julguem Putin!

Снять, арестовать и судить Путина!

Take down, arrest and judge Putin!



























































Derrubem, prendam e julguem Putin!

Снять, арестовать и судить Путина!

Take down, arrest and judge Putin!








Viva a Ucrânia
Livre e Independente!

да здравствует украина
Свободный и независимый!

sábado, 13 de agosto de 2022

Uma Burla Fantástica: Os "Diários Secretos de Hitler"

 

À direita: capa da revista Stern, de 25 de Abril de 1983,
com a manchete explosiva: "Descobertos os Diários de Hitler"


Gerd Heidemann, nascido em 1931, foi um repórter da revista alemã Stern, para a qual trabalhou durante mais de 30 anos. Uma das suas ocupações favoritas consistia no estudo afincado do regime nazi, que dominou a Alemanha de 1933 a 1945.

Na década de 1970, Heidemann vendeu uma casa que possuía em Hamburgo e, com o dinheiro recebido, adquiriu um iate, o Carin II, outrora pertencente a Hermann Göering, poderoso número 2 de Adolf Hitler.

Por essa altura conheceu Edda, a filha de Göering, e com ela iniciou uma relação sentimental que duraria cinco anos. O casal organizou no Carin II alguns eventos sociais, aos quais compareciam, entre outras figuras, algumas testemunhas oculares de importantes episódios do III Reich. Os generais da SS Karl Wolff e Wilhelm Mohnke, por exemplo, estiveram entre os convidados. Mohnke, recorde-se, participou na derradeira defesa de Berlim, tendo comandado a resistência nas imediações do "bunker" de Hitler quando o Exército Russo já apertava o cerco final.

Gerd Heidemann com o seu iate "Carin II"

Foi através de um dos antigos oficiais nazis que Heidemann conheceu, nos começos de 1981, Konrad Kujau, nascido em 1938, exótica personagem que ganhava a vida vendendo recordações do III Reich numa loja de Estugarda.

Um dia, Kujau contou ao repórter da Stern uma estranha e surpreendente história. Um seu irmão, oficial do Exército da Alemanha Oriental, tivera acesso aos diários manuscritos de Adolfo Hitler e conseguira fazê-los passar para a Alemanha Ocidental. Agora, pretendia vendê-los por bom preço, tendo Kujau como intermediário.

Konrad Kujau e um dos 62 volumes

Nunca antes se ouvira falar de tais diários. Mas Kujau forneceu uma explicação. Nos derradeiros dias de Abril de 1945, pouco antes do suicídio do ditador alemão (ocorrido a 30 desse mês), os diários tinham sido apressadamente metidos, com outros pertences pessoais do chanceler, num dos últimos aviões que conseguiram sair da capital germânica. O objectivo era fazê-los chegar a Berchtesgaden, nos Alpes Bávaros - onde Hitler mandara edificar o seu refúgio particular -, colocando-os aí a bom recato.

As coisas, todavia, não correram como havia sido planeado. O avião acabou por despenhar-se nas proximidades de Dresden, tendo sobrevivido apenas um dos passageiros. Acorrera então um agricultor local, que conseguiu salvar parte da carga, incluindo os diários de Hitler - nada mais nada menos do que 62 volumes encadernados em couro artificial preto.
Esta preciosidade tinha ficado escondida durante anos, até chegar às mãos do actual proprietário - o irmão de Kujau.


Gerd Heidemann exibe também um dos volumes dos diários


Gerd Heidemann tomou como boa a história do seu interlocutor. E não mais descansou até conseguir convencer os seus patrões da Stern de que valia a pena um considerável esforço financeiro para obterem e publicarem os ambicionados diários.

Foi assim que 9,3 milhões de marcos mudaram repentinamente de mãos. Depois, no dia 25 de Abril de 1983, a capa da Stern surgiu com uma manchete explosiva: tinham sido finalmente descobertos os diários secretos do ditador alemão!

No interior da publicação, mais de 40 páginas de extractos constituíam o prato forte de um artigo em que se anunciavam, para os próximos 18 meses, mais 27 publicações sobre o mesmo tema.

A revista não tinha dúvidas de que, face ao caudal e à natureza da informação assim alcançada, a biografia do ditador nazi teria de ser forçosamente reescrita. Com isso, a história da Alemanha nazi adquiriria novos e inesperados contornos.


Hugh Trevor-Roper (esquerda) e Gerhard Weinberg (direita)

Na conferência de imprensa efectuada nesse dia na sede da revista, em Hamburgo, Gerd Heidemann pôde ufanar-se do seu feito. E Peter Koch, o editor-chefe, dissertou largamente sobre o triunfo da Stern. Revelou, entre outros pormenores, que, sem que alguém suspeitasse, Adolf Hitler tinha escrito diligentemente os seus diários à mão, desde 1932 até umas poucas semanas antes do suicídio no "bunker".

Em matéria de tal melindre, a Stern procurou acautelar-se com algumas opiniões de peso. E obteve-as da parte de Hugh Trevor-Roper, historiador britânico, e de Gerhard Weinberg, americano da Universidade da Carolina do Norte. Após uma consulta breve dos volumes em causa, ambos afirmaram que os consideravam genuínos.

As cautelas eram mais do que justificadas, face ao interesse que o assunto logo despertou por toda a parte, designadamente entre alguns prestigiados representantes da imprensa mundial.

Por exemplo, o Sunday Times, de Londres, pagou o equivalente a 400 000 dólares pelos direitos de publicação na Grã-Bretanha e na Commonwealth. A Paris Match, de França, e a Panorama, de Itália, dispuseram-se a publicar os diários.

A americana Newsweek apresentou um artigo extenso sobre a matéria, embora tenha hesitado em adquirir os direitos de publicação. Entre outras razões, porque achava indispensável uma autenticação mais segura dos volumes em causa.


Algumas das folhas apresentadas

As dúvidas sobre a autenticidade dos diários tinham sido suscitadas logo no momento da sua apresentação. O controverso historiador David Irving fez uma pergunta embaraçosa, querendo saber se fora efectuada uma análise química da tinta dos documentos para tentar datá-la. Na verdade, não fora.

Para desconforto da Stern, começaram a acumular-se as dúvidas. Como é que Hitler conseguira ocultar de todos os seus próximos, ao longo de 13 anos, que andava a escrever um diário? Por outro lado, sabia-se que ele não gostava de escrever, optando por ditar os seus textos a dactilógrafas. Nas raras ocasiões em que escrevia, utilizava preferentemente o lápis. Acresce que, a partir de certa altura, padecia de violentas tremuras nas mãos, o que o teria com certeza impedido de produzir manuscritos tão cuidados.

Perante o coro crescente de dúvidas e desconfianças, Trevor-Roper e Gerhard Weinberg começaram a vacilar nas suas opiniões. O primeiro chegou a dizer que o melhor era considerar que os documentos eram forjados "até prova em contrário". Weinberg, por seu turno, sugeriu à Stern que recorresse a grafólogos e que permitisse aos historiadores um exame integral dos 62 volumes dos diários.

O escândalo começou a ganhar enormes proporções. Um grafólogo americano, contratado pela Newsweek, analisou em Nova Iorque dois dos volumes e concluiu estar-se perante falsificações - ainda por cima "más falsificações".

Na Alemanha, exames técnicos rigorosos provaram que o papel e a tinta dos diários, a cola das encadernações, as capas de couro artificial e as fitas vermelhas com selos de lacre de alguns volumes datavam inequivocamente de um período posterior à 2.ª Guerra Mundial.

Foi mesmo possível demonstrar que o autor da falsificação seguira fielmente, nos seus textos, uma obra de Max Domarus - Hitler: Discursos e Proclamações, 1932-1945. Até os erros de Domarus se achavam transpostos para os famosos diários.

Já não restava qualquer dúvida: a Stern caíra numa burla fantástica e o seu prestígio ficaria abalado durante décadas. Os seus empregados, indignados com o caso, fizeram uma greve de zelo. Peter Koch pediu a demissão. Gerd Heidemann acabou despedido. E Henri Nannen, editor, proclamou: "temos razão para nos envergonharmos".


Kujau com a famosa capa da Stern. À direita, os livros de Max Domarus que lhe serviram de guião para os diários.

As investigações posteriores conduziram rapidamente ao laborioso falsificador - o exótico Konrad Kujau. Ele confessou tudo, procurando - e conseguindo - implicar Gerd Heidemann no golpe. O repórter defendeu-se dizendo que tinha sido ludibriado, mas a verdade é que se havia locupletado, a título de comissão, com um milhão e meio de marcos (do total de 9,3 milhões pagos pela Stern).

Em 1985, após um mediático julgamento que se arrastou por dois anos, foram ambos considerados culpados de fraude. Kujau foi condenado a quatro anos e seis meses de prisão. Heidemann sofreu uma pena um pouco superior (mais dois meses de prisão).

Quando recuperou a liberdade, Kujau dedicou-se ao que melhor sabia fazer: falsificações. Mas, desta vez, procurou não infringir a lei. Passou a reproduzir e a vender quadros de pintores famosos, como Van Gogh, Rembrandt e Monet, entre outros. Assinava cada um dos quadros de duas maneiras: com a sua firma pessoal e com a do artista original. A sua obra  tornou-se tão famosa que - ironia suprema - começaram a surgir no mercado "falsificações das suas próprias falsificações".

Faleceu no ano de 2000.

Quanto a Gerd Heidemann, continuou incansavelmente a reafirmar a sua inocência.



Recentemente  (15 de Setembro de 2018) a Stern organizou uma exposição, na sua sede em Hamburgo, com sete dos 62 falsos diários de Hitler. Foram igualmente mostrados alguns objectos relacionados com o escândalo, como o ferro de engomar que Kujau utilizou para "envelhecer" o papel.

O chefe de redacção da revista, Christian Krug, afirmou: "estamos a expor a nossa maior ferida". O vice-chefe, Thomas Ammann, disse que o caso dos diários hitlerianos foi "a mãe de todas as fake news".

Alguns diários, anteriormente doados pela Stern a museus e instituições científicas, já tinham sido expostos ao público. Mas esta foi a primeira vez em que a própria revista o fez. Krug adiantou que os exemplares ainda na posse da Stern serão doravante expostos em eventos especiais.





sexta-feira, 15 de julho de 2022

BRUXAS? (O espantoso mundo em que vivemos...)

 


Extraído dos noticiários:


"Sete mulheres foram raptadas e torturadas durante duas semanas sob acusações de "bruxaria", após residentes da sua aldeia rural, Chillia, no Peru, terem adoecido.

O crime está a ser investigado pelas autoridades peruanas, que revelaram que as mulheres foram capturadas no dia 29 de Junho pelas chamadas 'patrulhas camponesas',  que actuam como agentes da lei em zonas rurais do país.

"Foram detidas por bruxaria", admitiu a Provedora dos Direitos Humanos peruana, Eliana Revollar, ao revelar que o gabinete está a investigar o assunto.

Por insistência do governo, as vítimas, com idades entre os 43 e 70 anos, foram libertadas na terça-feira, após ter sido divulgado um vídeo de uma mulher pendurada por um pé a ser açoitada, enquanto outra, nua, estava a ser interrogada, para confessarem ser bruxas. 

O chefe do gabinete do Provedor de Justiça na região de La Libertad, José Luis Aguero, relatou que os raptores "despiam" as mulheres, "colocavam urtigas no seu corpo" e "chicoteavam-nas".

Para serem libertadas, as mulheres tiveram de assinar documentos onde concordaram em não denunciar os raptores e "não exercer feitiçaria", disse Eliana Revollar."

Comentário:

Parece que as coisas, afinal, não mudaram assim tanto ao longo dos séculos. Um pouco por toda a parte, a superstição sempre se impôs, no espírito de muitos, como modo expedito e infalível de influenciar as misteriosas energias do Universo e o destino dos crentes.

Como já nos contava, com a sua pena brilhante, o famoso Júlio Dantas - ver aqui.

A Ronda das Mafarricas
(José Afonso)




sábado, 2 de julho de 2022

Um grande mistério de França - O homem da "Máscara de Ferro"





Paris, França, 18 de Setembro de 1698, em pleno reinado de Luís XIV, o famoso Rei-Sol.

Nesse dia chegou à cidade o novo governador da prisão da Bastilha, Bénigne d'Auvergne de Saint-Mars, acompanhado de um misterioso prisioneiro com o rosto oculto por uma máscara.

Segundo se viria a apurar, Saint-Mars era há muito responsável por este homem, mantendo sobre ele, em sucessivos presídios, apertadíssima vigilância.

Na opinião de alguns historiadores, a reclusão do homem da máscara duraria há cerca de três décadas quando os portões da prisão parisiense se fecharam sobre ele.

O registo de entradas na Bastilha foi, a seu respeito, de extrema concisão, não fornecendo pistas ou indícios de relevo: deu entrada no cárcere às 3 horas da tarde de 18 de Setembro de 1698 um prisioneiro mascarado trazido de Pignerol.

O regime em que o mantiveram naquela que viria a ser a sua última prisão foi semelhante ao que tivera nos presídios anteriores. Pormenor fundamental: não podia, por ele próprio, retirar a máscara. Esta não lhe fora imposta como tortura ou castigo: visava, apenas, impedir que pudesse ser reconhecido por alguém.

A propósito, a máscara não era "de ferro", como tem sido difundido. Crê-se que fosse de couro ou de um tecido forte a que teria sido acoplado um dispositivo metálico, com cadeado, que impossibilitava a remoção pelo portador.

O nome do preso nunca era pronunciado por ninguém e era proibido manter com ele, para além do estritamente necessário, quaisquer conversas (talvez com excepção do omnipresente Saint-Mars).

Durante o longo período em que penou nas prisões, os seus carcereiros foram obrigados a jurar, sob pena de morte, que guardariam segredo da sua existência. Nenhuma resposta deviam dar às suas eventuais observações. Não se lhe forneceu tinta nem pena, nem nada que lhe pudesse servir para escrever. Ele devia passar os dias segregado do mundo e dos seus semelhantes como se tivesse sido sepultado em vida.


Prisão da Bastilha, em Paris


Apesar do seu cruel confinamento, diz-se que o homem da máscara estava muito longe de ser maltratado. Pelo contrário, usava-se para com ele de excepcionais deferências e procurava-se, tanto quanto possível, satisfazer-lhe os desejos. Podia, por exemplo, assistir à missa. Facultavam-lhe livros, roupas e, ao que parece, pelo menos um instrumento musical. Os guardas acercavam-se dele com uma vénia respeitosa, curvando a cabeça e dobrando o joelho, num tratamento por norma reservado a pessoas de elevada condição.

A permanência do enigmático prisioneiro na Bastilha durou pouco mais de cinco anos. No dia 19 de Novembro de 1703 ele sentiu-se mal depois da missa. O médico da prisão, chamado de urgência, declarou que nada podia fazer para o salvar.

Quando, pelas 10 da noite, faleceu, uma actividade febril tomou conta da Bastilha. O cadáver foi rapidamente levado para o cemitério de Saint-Paul, onde foi enterrado em local desconhecido. Um registo paroquial atribuiu-lhe na ocasião uma identidade, obviamente forjada: M. de Marchiel.

Entretanto, na sinistra Bastilha, tratava-se de apagar todos os vestígios da sua passagem por ali. As roupas, bem como os parcos objectos de uso pessoal, foram lançados ao fogo.

O mobiliário da cela sofreu o mesmo destino. Nem as paredes escaparam: foram cuidadosamente raspadas e, logo a seguir, pintadas, pois temia-se que o prisioneiro pudesse ter gravado nelas, por processos secretos, alguma mensagem comprometedora.


Luís XIV, rei da França (n. 1638 - f. 1715)


Pela correspondência que sobrou do caso, sabe-se que Luís XIV, rei absoluto da França, conhecia perfeitamente a identidade do prisioneiro, bem como os motivos do seu encarceramento. Aliás, terá sido o próprio soberano a determinar a condenação e o tratamento a adoptar para com ele.

Para além do rei, poucos dos seus homens de confiança estavam a par do assunto. Mas a reserva e os cuidados com que sempre se conduziram fizeram com que todos se fossem despedindo da vida sem que nada transpirasse do segredo.

Este facto originou ao longo do tempo numerosas especulações, calculando-se em cerca de meia centena o número de identidades atribuídas ao preso.

Homens intelectualmente respeitáveis como Voltaire ou Alexandre Dumas debruçaram-se sobre o episódio, produzindo conclusões tão imaginativas como indemonstráveis. Muitos anos depois do reinado de Luís XIV, um dos seus distantes sucessores, Luís XVI, ainda procurava - sem êxito - descobrir a verdade. O mesmo terá sucedido a Napoleão, promotor de diversas e infrutíferas investigações.

A febre especulativa levou às hipóteses mais extravagantes, na maioria rapidamente desmontadas.

O mascarado foi por exemplo identificado como Molière; ou como Nicolas Fouquet, o venal superintendente das Finanças de Luís XIV (efectivamente preso por ordem deste, mas falecido no cárcere em 1680); ou como um filho ilegítimo de Carlos II de Inglaterra; ou como um amante da rainha Maria Teresa, esposa do rei...




Uma outra hipótese foi a que identificou o preso como Ercole Antonio Mattioli, ministro na corte do duque de Mântua. Mattioli terá ludibriado o monarca francês num negócio que envolvia a compra, pela França, da fortaleza fronteiriça de Casale Monferrato.

Zangado, Luís XIV mandou raptar o italiano e fez com que o encerrassem na prisão de Pignerol. Os que não acreditam na hipótese dizem que Saint-Mars jamais fez segredo sobre este caso, aludindo abertamente a Mattioli nas suas cartas (ao contrário do que fazia relativamente à figura misteriosa, sempre mencionada como o "Mascarado" ou o "Prisioneiro").

De qualquer modo, em nenhuma das versões anteriores se vislumbram razões para tamanhas cautelas (rosto sempre tapado, ocultação de identidade) e, em simultâneo, para tantas manifestações de respeito diante do prisioneiro.

Com efeito, se tudo não tivesse passado de um acto de vingança do rei (ou pelo desfalque das suas finanças por um ministro desonesto; ou pela vigarice de um italiano astucioso; ou por ter sido desrespeitado na sua relação conjugal), mal se compreende que Luís XIV, monarca absoluto e poderoso, não tenha decidido tratar do caso de forma mais rápida, simples e radical - por exemplo, mandando eliminar fisicamente o abusador.

Alguma coisa terá levado a que o rei optasse por solução diferente, fazendo com que o mistério se fosse arrastando através das décadas.

O caminho que ele escolheu parece indiciar, claramente, três coisas: primeiro, o temor de que o preso pudesse ser reconhecido por alguém; segundo, que a condição do mesmo justificava um tratamento cortês e reverencioso; por último, face à hipótese da execução do preso, uma espécie de má consciência ou, noutra perspectiva, algum escrúpulo.

O escrúpulo que até um monarca tão poderoso como Luís XIV não deixaria certamente de sentir perante um eventual fratricídio. 


Ana de Áustria, esposa de Luís XIII e mãe de Luís XIV (n. 1601 - f. 1666)


Isto conduz-nos, finalmente, à mais fantástica das hipóteses - a de que o prisioneiro mais não seria do que um irmão gémeo de Luís XIV.

O cardeal Richelieu, primeiro-ministro de Luís XIII (pai de Luís XIV), revelou nas suas memórias que Ana de Áustria (mãe do rei) tinha dado à luz dois filhos gémeos no dia 5 de Setembro de 1638.

A primeira criança, nascida por volta do meio-dia, foi imediatamente declarada herdeira do trono. Mas, inesperadamente, pelas 8.30 horas da noite, a rainha entrou outra vez em trabalho de parto e uma segunda criança nasceu.

De acordo com o entendimento de então, o gémeo que nascia em segundo lugar era considerado o "mais velho" (porque se acreditava que fora concebido antes do outro).

Por consequência, como a primeira criança fora já nomeada herdeira de Luís XIII, e para evitar complicações e disputas futuras, achou-se mais prudente ocultar o segundo nascimento. 

À rainha disseram que a criança tinha morrido.

O gémeo rejeitado foi confiado aos cuidados de uma parteira que o criou longe da corte - a corte onde Luís XIV, o outro gémeo, ia sendo preparado para suceder ao pai.

Com o decurso dos anos, verificou-se que a semelhança física do "proscrito" com o irmão se tornara tão notória, que seriam de prever, em breve, problemas graves. Mandaram-no então para fora do país, mais concretamente para Inglaterra, onde, não se sabe por que meios, terá acabado por conhecer a sua verdadeira identidade.

Diz-se que, nessa altura, o gémeo rejeitado terá pensado em fazer valer os seus direitos - como "mais velho" que era. Mas quando reentrou em França, sob o falso nome de Eustache Dauger, os serviços secretos de Luís XIV deitaram-lhe a mão. Isso terá sucedido em Dunquerque no dia 19 de Julho de 1769.

Nesse mesmo dia, o ministro da Guerra da França, Louvois, escreveu a Saint-Mars informando-o de que iria ser enviado um prisioneiro importante para Pignerol. O preso seria mantido sob vigilância permanente, devendo ser-lhe aplicada uma máscara impeditiva de que alguém o pudesse reconhecer.

Assim terá começado o calvário de 34 anos de reclusão do infeliz Homem da Máscara de Ferro.

No entanto, por mais esforços que historiadores e estudiosos em geral tenham levado a cabo ao longo de mais de três séculos, ninguém pode garantir, de ciência certa, que algum deles tenha resolvido definitivamente o enigma...


Décadas e décadas de clausura. Qual teria sido o seu crime?


Fragmentos da trilha sonora do filme The Man in the Iron Mask:

(1)




(2)



(3)




MOMENTOS DO FILME:

(A) - Trailer oficial




(B) - Retirada da máscara de ferro