segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O CORO ("Boychoir") - Um filme que vale a pena ver...

 


...quanto mais não seja pela fabulosa interpretação de Dustin Hoffman (mestre Carvelle), muito bem acompanhado pela rapaziada do coro, com Garrett Wareing (Stet) à cabeça... E, também, pelo desempenho da seguríssima e sempre convincente Kathy Bates (a directora da escola de música).

A história da difícil mas potencialmente frutuosa relação de um mestre perfeccionista e exigente (aparentemente distante e misantropo) com um garoto rebelde, socialmente desenquadrado devido à morte da mãe e ao abandono do pai, mas possuidor de um talento apenas encontrável nas criaturas estelares.
Só podia dar no que deu...
Realização de François Girard.

I - Trailer:


II - O Messias (Aleluia):




quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Waris Dirie - É urgente acabar com a criminosa barbaridade da mutilação genital feminina!

 


Waris Dirie nasceu na Somália em 1965.
Aos quatro anos de idade sofreu a mutilação genital.
Aos treze anos conseguiu fugir da sua aldeia.
Luta, há muitos anos, contra esta crueldade intolerável.
Saiba mais sobre Waris - aqui.

Oiça abaixo o que ela disse:


Tradução:

"Amo a minha mãe.
Amo a minha família.
E amo África.
Há mais de 3.000 anos, as famílias acreditam firmemente
que uma jovem à qual não se fez a mutilação genital
é impura.
Porque o que temos entre as pernas é impuro
e deve ser removido e fechado depois
como prova de virgindade e virtude.
Na noite de núpcias, o marido pega numa faca ou numa navalha e corta
antes de penetrar pela força em sua esposa.
Se não se fizer a mutilação a uma mulher,
ela não se casa
e, por conseguinte, é expulsa da sua aldeia e tratada como prostituta.
Esta prática continua, apesar de não constar do Corão.
Sabe-se que, em consequência desta mutilação,
as mulheres adoecem física e psicologicamente
para o resto das suas vidas.
Essas mesmas mulheres são a coluna vertebral de África.
Eu sobrevivi, mas duas das minhas irmãs, não.
Sofia morreu de hemorragia após ser mutilada
e Amina faleceu durante o parto, com o bebé ainda no seu ventre.
Até que ponto se fortaleceria o nosso continente
se um ritual tão selvagem fosse abolido?
Existe um provérbio no meu país:
'o último camelo da fila caminha tão depressa como o primeiro'
O que acontece com qualquer uma de nós, afecta todos os outros.
Quando eu era criança
dizia que não queria ser mulher.
Para quê, se sofres tanta dor e és tão infeliz?
Mas, agora que cresci, estou orgulhosa de ser o que sou.
Para o bem de todos nós,
tentemos mudar o que significa ser uma mulher assim."

.........

130 milhões de mulheres e meninas
sofrem as consequências da mutilação genital.
Os emigrantes continuam esta tradição
em África e na Ásia
e também na Europa e nos Estados Unidos.
Waris Dirie foi a primeira mulher
que falou publicamente da mutilação genital feminina
e que conseguiu chamar a atenção para o problema.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan,
nomeou Waris Dirie como embaixadora especial da ONU
na luta contra esta atrocidade.
Desde então, a mutilação genital feminina
foi oficialmente proibida em muitos países.
Apesar disso, continua a praticar-se hoje em dia:
são mutiladas 6.000 meninas em cada dia.


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Irene no Céu

 


Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!

E São Pedro, bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

Manuel Bandeira (Brasil)

sábado, 21 de novembro de 2020

Alexandre Quintanilha - Viva quem sabe e, sobretudo, quem sabe ensinar assim...



 

... A Terra dos primórdios com cheiro a ovos podres, o oxigénio, o envelhecimento, o lixo das manchas de pele e (tenham medo, mas mesmo muitíssimo medo...) os dois terços das células do nosso corpo que não são humanas.

Nove minutos de erudição tranquila e despretensiosa, servida por uma capacidade de comunicação que nos faz ganhar o dia...



sexta-feira, 20 de novembro de 2020

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

A luta contra o coronavírus em Portugal - Os cumpridores e os destravados mentais...



Portugal enfrenta, nos dias sombrios que vão passando, a mortífera segunda vaga da pandemia trazida pelo famigerado coronavírus. Sucedem-se, por isso, e muito bem, as medidas de segurança e contenção que a prudência, o bom-senso e a gravidade do caso impõem. Registam-se em paralelo os apelos, designadamente do Primeiro-Ministro, para que todos as cumpram na medida das suas possibilidades. E, para moralizar as tropas ainda nas primeiras horas da batalha, António Costa até já veio enaltecer a exemplaridade do comportamento geral.


O PM tem porventura razão em elogiar a esmagadora maioria dos cidadãos e cidadãs do país. Mas, para além desses, subsiste a perigosíssima franja dos incumpridores, espécie de destravados mentais ou de sociopatas em potência, que teimam em assumir-se, de peito feito e boca destapada, como os maiores aliados da propagação do vírus. Todos os podemos ver por aí, boçalmente ousados numa inconsciência que pode tornar-se assassina. É preciso agir, e agir depressa e eficazmente, em relação a tais comportamentos.


A este propósito, a excelente senhora que escreve no blogue Um Jeito Manso ofereceu-nos um texto – no seu habitual estilo desempoeirado, acutilante e inteligente – que não só ilustra a situação como mostra o caminho a seguir.
Podem ler o texto aqui.



Quanah Parker - Grande Chefe Comanche, filho da americana Cynthia Ann

Quanah Parker (n. 1845? 1852?- f. 1911), diante do seu teppee.


Nasceu da união de um chefe de guerra comanche com Cynthia Ann Parker, uma branca americana capturada pelos índios, em 1836, durante o sangrento ataque ao Forte Parker (Texas).

Cynthia, que contava nove anos de idade na altura, foi adoptada pelos seus raptores e depressa se integrou na cultura índia.

Último dos grandes chefes comanches, Quanah seria um dos líderes da Igreja Nativa Americana. Deixou um pensamento merecedor, pelo menos, de alguma reflexão:

"O homem branco entra na sua igreja e fala sobre Jesus, mas o homem índio entra no seu teppee e fala com Jesus."

Saiba mais sobre ele - aqui.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Donald Trump e a vitória de Joe Biden nas eleições norte-americanas...


Notícias falsas!

 





Eu venci!





Eu sou o maior presidente de sempre!...
Eu sou o maior...
Eu sou o maior..


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Mais Blues - Merline Johnson


Sabe-se que nasceu no Mississippi, Estados Unidos, no ano de 1912, mas desconhece-se a data do falecimento.
Uma das vozes mais poderosas do blues norte-americano. Mudou-se para Chicago na década de 1930 e o sucesso não tardou.
A sua discografia estende-se de 1937 a 1947, uma década que, para ela, foi de ouro.
Chamavam-lhe "The Yas Yas Girl".


I - Got a Man in the 'Bama Mine



II - Love With a Feeling



III - Bad Whiskey Blues 


Escute mais blues na THI - aquiaqui e aqui

sábado, 14 de novembro de 2020

A última carta de Maria Antonieta, rainha da França, escrita na prisão (1793) - 2.ª e Última Parte

(Conclusão da postagem de ontem - aqui)

Maria Antonieta na prisão da Conciergerie, aos 37 anos.
Abatida, cabelos embranquecidos, prematuramente envelhecida.


Transcrição da última carta de Maria Antonieta, rainha de França.
Escrita na prisão da Conciergerie, em Paris, na madrugada de 16 de Outubro de 1793, horas antes de ser guilhotinada. Dirigida à sua cunhada Isabel, irmã do rei Luís XVI (executado nove meses antes).

..........


"É a ti, minha querida irmã, que escrevo pela última vez.
Acabo de ser condenada, não a uma morte vergonhosa, que só o é para os criminosos, mas para me ir juntar a teu irmão.
Inocente como ele, espero mostrar a mesma firmeza que ele mostrou nos seus últimos momentos. Estou tranquila, como se está quando a consciência de nada nos acusa.
Tenho profunda mágoa de abandonar os meus pobres filhos; sabes que eu só vivia para eles e para ti, minha boa e terna irmã! Em que situação te deixo, a ti, que, por amizade, tudo sacrificaste para estar connosco!


Maria Teresa, filha de Maria Antonieta e de Luís XVI
(1778-1851)


Soube, durante o processo, que a minha filha está separada de ti. Coitada! Não ouso escrever à pobre criança; ela não receberia a minha carta; não sei mesmo se esta chegará às tuas mãos. Recebe a minha bênção para eles ambos; espero que um dia, quando forem mais velhos, possam juntar-se contigo e beneficiar dos teus ternos cuidados.
Que eles pensem no que eu nunca cessei de lhes inspirar: que os princípios e o cumprimento exacto dos seus deveres são a primeira base da vida, que a sua amizade e confiança mútua farão a sua felicidade.


Luís Carlos (ou Luís XVII) o outro filho dos reis de França (1785-1795)
Foi delfim de França a partir de 1789, ano em que faleceu Luís José, seu irmão e primeiro delfim.
Luís Carlos morreu na prisão, com dez anos de idade.
Manipulado pelas autoridades revolucionárias, foi levado a prestar declarações difamatórias contra elementos da família, incluindo a própria mãe. É a isso que Maria Antonieta se refere na carta que dirigiu à cunhada.


Que a minha filha sinta que, pela idade que tem, deve auxiliar sempre o seu irmão com os conselhos que possam dar-lhe a experiência que tiver mais do que ele; que meu filho, por seu lado, preste a sua irmã todos os cuidados e atenções que a amizade pode inspirar; enfim, que sintam ambos que, em qualquer situação em que se encontrem, não serão verdadeiramente felizes senão pela união: que sigam o nosso exemplo.
Quantas consolações a nossa amizade nos deu na nossa desgraça! E a felicidade goza-se duplamente quando se pode partilhar com uma pessoa amiga; e onde encontrar amigo mais terno, mais íntimo, do que na própria família?
Que meu filho nunca esqueça as últimas palavras de seu pai, que lhe repito propositadamente: Nunca procure vingar a nossa morte!

Maria Antonieta aos 14 anos
(idade com que casou com o futuro rei de França, Luís XVI)

Tenho de falar-te de uma coisa bem triste para o meu coração. Calculo quanta mágoa te deve ter causado essa criança. Perdoa-lhe, minha querida irmã; pensa na sua idade e em como é fácil fazer dizer a uma criança o que se quer, e até o que ela não compreende. Tenho esperança em que há-de vir um dia em que avaliará melhor a tua bondade e a tua ternura por ambos.

Maria Antonieta nos tempos áureos.
Está acompanhada por três dos seus quatro filhos (Maria Teresa, Luís Carlos e Luís José). Falta apenas Sofia, que faleceu com 11 meses de idade.


Resta-me ainda confiar-te os meus últimos pensamentos. Teria querido escrevê-los desde o começo do processo, mas, além de não me deixarem escrever, as coisas foram tão rápidas que não haveria tempo para isso.
Morro na religião católica, apostólica e romana, que foi a de meus pais, em que fui criada e que professei sempre. Não penso vir a ter qualquer consolação espiritual, porque não sei se há ainda aqui alguns padres dessa religião. E mesmo o lugar em que estou expô-los-ia muito se aqui entrassem alguma vez.


Maria Antonieta, com as mãos amarradas atrás das costas, foi conduzida pelas ruas de Paris até ao cadafalso. A seu lado, o padre Girard, cujo estatuto religioso ela não reconheceu por ele ter prestado juramento à República.

Peço sinceramente perdão a Deus de todas as faltas que cometi desde que existo; espero que, na Sua bondade, Ele se dignará receber os meus últimos votos, assim como os que faço há muito tempo, para que Ele queira receber a minha alma na Sua misericórdia e bondade.
Peço perdão a todos os que conheço e particularmente a ti, minha irmã, de todas as mágoas que, sem querer, te tenha podido causar. Perdoo a todos os meus inimigos o mal que me têm feito. Digo aqui adeus a minhas tias e a todos os meus irmãos e irmãs.
Eu tinha amigos. A ideia de ser separada deles para sempre e a consciência da sua dor são um dos maiores desgostos que levo ao morrer; e que eles saibam, ao menos, que pensei neles até ao último momento.


A rainha no cadafalso.

Adeus, minha boa e terna irmã; possa esta carta chegar-te às mãos! Pensa sempre em mim; abraço-te de todo o coração, bem como aos meus pobres e queridos filhos. Meu Deus, como é terrível deixá-los para sempre!
Adeus, adeus; vou agora ocupar-me só dos meus deveres espirituais. Como não sou livre nos meus actos, talvez me tragam um padre; mas protesto aqui que não lhe direi uma palavra, e que o tratarei como uma pessoa absolutamente estranha".


A execução da rainha de França

Nota final


Esta derradeira carta de Maria Antonieta faz sobressair um perfil bastante diverso daquele que lhe foi sendo criado pela propaganda revolucionária e por alguns elementos da sua própria família (do lado francês), atribuindo-lhe comportamentos que nunca teve e frases que jamais disse. E demonstra a força inesperada de um carácter que, na sua miséria e por entre humilhações cruéis, ela tudo fez para manter nas últimas horas que viveu.

Fustigada por emoções brutais que, alterando-lhe o processo fisiológico normal, lhe provocaram grandes perdas de sangue durante a madrugada, ela achava-se em grave estado de fraqueza quando amanheceu. Não obstante, ingeriu apenas uma pequena porção do caldo que lhe foi levado pela criada do carcereiro. Foi também esta criada que, colocando-se à sua frente, permitiu que ela se lavasse e vestisse com algum decoro, protegida da curiosidade morbidamente ofensiva dos guardas ali presentes.

Estando carregada de luto pela morte do seu marido, executado havia nove meses, proibiram-na de que assim continuasse, pois isso poderia "irritar o povo". Ela envergou então o vestido branco com que enfrentaria a morte. Mandaram-lhe depois um padre, Girard, o qual, para se salvar dos furores revolucionários, tinha oportunamente jurado fidelidade à República: por isso, Maria Antonieta não só recusou confessar-se-lhe como dispensou todo o conforto espiritual que ele pretendesse oferecer-lhe. Quando Girard lhe perguntou se ao menos o deixava acompanhá-la até ao cadafalso, ela retorquiu-lhe que fizesse como entendesse. E ele optou por seguir com ela.

Às onze horas da manhã vieram buscá-la à prisão. De mãos atadas atrás das costas, fizeram-na subir para uma carreta puxada por um cavalo, sentando-a numa tábua apoiada nos varais. A seu lado, cabisbaixo e taciturno, Girard. Ao longo do percurso, a multidão expectante. Para muitos, ela continuava a ser a odiada "austríaca" e manifestavam-no com impropérios. Mas em nenhum momento deu sinal de fraqueza. O historiador Stefan Zweig foi porventura quem melhor descreveu a rainha nesta curta mas dramática viagem:

"O rosto pálido e calmo de Maria Antonieta não revela o menor medo ou sofrimento perante os curiosos que se alinham, apertando-se à sua passagem. Concentra toda a sua força de alma para ter coragem até ao fim, e é em vão que os seus mais encarniçados inimigos a espiam para lhe surpreender um momento de fraqueza ou desânimo (...) O seu rosto é de bronze: parece que nada ouve, que nada vê. As mãos atadas atrás das costas fazem com que levante a nuca um pouco mais. As pupilas olham a direito, em frente, e nenhuma das imagens vivas da rua penetram nos seus olhos, que a morte interiormente já possui. Nenhum tremor lhe agita os lábios, nenhum estremecimento lhe percorre o corpo; vai ali, na carreta, altiva e desdenhosa, perfeitamente senhora de si (...)."

À chegada, foi com a mesma fria dignidade e infinita coragem que a rainha enfrentou o vulto sinistro do cadafalso. Sem aceitar o auxílio de ninguém, subiu rapidamente os degraus como se tivesse pressa de deixar o mundo. Deixou-se conduzir e preparar pelos carrascos quase com indiferença. Quando a lâmina fatal finalmente desceu sobre ela, escutou-se na praça um rugido selvagem: Viva a República!

A corajosa conduta de Maria Antonieta, sem qualquer vestígio de tibieza ou terror, exasperou os seus maiores inimigos. Um deles, o odioso Jacques Hébert, dedicou-lhe no dia seguinte um artigo no jornal revolucionário Père Duchesne: apelidou-a de "desavergonhada" e deu livre curso à frustração que sentia: "ainda por cima foi audaciosa e insolente até ao fim!"

Ironia dos meandros revolucionários: sem que o furioso Hébert pudesse suspeitar disso, ele próprio percorreria, dentro de cinco meses, o mesmo percurso de Maria Antonieta, para também ele se encontrar com a terrível guilhotina. Destino idêntico estaria reservado, num curto espaço de tempo, aos que, de uma forma ou de outra, mais haviam contribuído para a condenação da rainha de França: Madame Roland, Robespierre, Danton, Fouquier-Tinville...

Túmulos e memorial de Luís XVI e de Maria Antonieta.
Basílica de Saint-Denis, Paris, França.


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

A última carta de Maria Antonieta, rainha da França, escrita na prisão (1793) - 1.ª Parte

 

Maria Antonieta (1755-1793)

Maria Antonieta, arquiduquesa da Áustria, foi filha de Francisco I, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, e da esposa deste, Maria Teresa.

Aos 14 anos de idade casou com o delfim de França, Luís Augusto (futuro Luís XVI), e com este subiu ao trono do reino gaulês em 1774 (após a morte de Luís XV, avô do novo monarca). O pai de Luís XVI, Luís Fernando, nunca chegou a reinar, pois faleceu em 1765.

A revolução francesa (1789 - ver aqui) reservou ao casal um destino trágico e brutal. Após um período de prisão e de humilhações, Luís XVI foi guilhotinado em 21 de Janeiro de 1793.

Maria Antonieta sobreviveria alguns meses ao marido. Depois de um julgamento que foi uma farsa, no qual se confrontou com tortuosas difamações e foi alvo de falsas acusações - que nem sequer respeitaram a sua vida íntima -, sofreu destino idêntico ao do marido, sendo executada na guilhotina em 16 de Outubro daquele mesmo ano de 1793. Contava 37 anos.


Luís XVI (1754-1793)


O casal teve quatro filhos, dos quais apenas Maria Teresa sobreviveu até à vida adulta, tendo falecido em 1851, com 72 anos.

Luís José (1781-1789), Maria Sofia (1786-1787) e Luís Carlos (1785-1795) faleceram todos na infância. Este último, que, sem a revolução, teria sido o rei Luís XVII de França, foi separado da mãe na prisão mas continuou enclausurado. Após um resto de vida de maus tratos, acabou por morrer no cárcere em 1795.

Na sua última madrugada na prisão, escassas horas antes de ser conduzida pelas ruas de Paris até à guilhotina, Maria Antonieta rogou que lhe facultassem papel e tinta para escrever as derradeiras linhas. Dirigiu-as à sua cunhada Isabel, irmã do malogrado Luís XVI.


Isabel (1764-1794).
Cunhada de Maria Antonieta, a quem esta dirigiu a carta.


O historiador austríaco Stefan Zweig pronunciou-se sobre as dramáticas palavras da rainha :

"Nunca Maria Antonieta resumiu os seus pensamentos com tanta força como nesse adeus a Madame Isabel, agora única protectora dos seus filhos. As frases quase viris dessa mensagem, escrita sobre uma miserável mesita da prisão, são mais firmes do que todas as cartas que saíam da secretária doirada do Trianon; a linguagem é mais pura, o sentimento mais directo; é como se a tempestade interior desencadeada pela morte rompesse todas as nuvens ameaçadoras que, durante tanto tempo e de maneira tão fatal, tinham ocultado, a essa mulher trágica, a compreensão da sua própria verdade".

A última carta de Maria Antonieta, que ela entregou ao carcereiro Bault, andou perdida durante cerca de 20 anos. Madame Isabel, a quem fora dirigida, nunca lhe pôs a vista em cima e acabou também executada no ano seguinte, aos 30 anos. A Igreja Católica considerá-la-ia Mártir e Serva de Deus.

A triste despedida da rainha só veria a luz do dia quando a monarquia foi restaurada em França, em 1814. Só então chegou às mãos do novo monarca, Luís XVIII, irmão e sucessor de Luís XVI...


À direita, mais crescido, o futuro Luís XVI. À esquerda está o seu irmão e sucessor quando a monarquia for restaurada em 1814 (Luís XVIII). O pequeno Luís XVII, filho de Maria Antonieta e de Luís XVI, não chegou, obviamente, a subir ao trono, tendo morrido na prisão.



Nota: A carta de Maria Antonieta será publicada amanhã, 14 de Novembro.