Após uma campanha emocionante, sempre em crescendo, a dupla Biden/Harris conseguiu finalmente expulsar da Casa Branca o vilão Trump, uma espécie de Bokassa branco e loiro, há quatro anos entrincheirado nas malhas mais apodrecidas do tecido democrático americano.
Se, como se espera, as instituições do país funcionarem com normalidade, Joe Biden será, a partir de 20 de Janeiro de 2021, o 46.º Presidente dos Estados Unidos da América. E Kamala Harris será a sua promissora vice-presidente.
Parabéns, América!
Donald Trump não surpreendeu ninguém - minimamente consciente - nas horas decisivas da sua derrota.
Entrou como vilão maligno na Casa Branca, nela presidiu como vilão e nela reagiu à estocada final das eleições como o vilão que nunca deixará de ser - autoproclamando-se vencedor antecipado pouco depois do encerramento das urnas (que desprezo pelos votantes!). Quando sentiu o chão a fugir-lhe debaixo dos pés por vontade do povo, exigiu que se parasse a contagem de votos e incitou os seguidores à reacção (o que muitos deles cumpriram violenta e acefalamente). Depois ameaçou com os tribunais e com mais não-sei-o-quê, num estertor de besta ferida e raivosa.
Na noite de 5.ª feira, dia 5, protagonizou um dos momentos mais baixos e aviltantes de toda a história da democracia americana. Ao antever o desastre eleitoral iminente, surgiu de repente na Casa Branca, rodeado pelos símbolos da presidência, para uma espécie de "choradinho" redondo e repetitivo, pejado de incoerências e de falsidades. Sem uma única evidência ou prova credíveis, atacou, como nunca ninguém fizera até então, as regras da democracia dos Estados Unidos e as instituições que a suportam. Falou de fraudes e de roubo de votos, incitando mais uma vez, quase explicitamente, à violência nas ruas (previu para breve, por exemplo, graves "incidentes"). E depois voltou e tornou a voltar ao seu "choradinho" enjoativo e às ameaças mais ou menos veladas.
No final do deplorável e delirante monólogo ficaram-nos três certezas:
(1.ª) a de que estamos perante um alienado que acredita, ou finge acreditar, nas ficções que vai criando para se manter agarrado ao poder;
(2.ª) a de que a única e enorme fraude deste processo é ele próprio;
(3.ª) a de que, se houve roubo, o único ladrão também é ele: roubou e abafou a alma de um grande país durante quatro longuíssimos anos de pesadelo.
O famoso imperador Bokassa não conseguiria fazer melhor do que esta sua patética imitação americana...
Este homem inescrupuloso e irresponsável, desprovido de qualquer sentido de Estado e sem o mínimo capital de decência e de honestidade, envergonha a grandeza histórica dos Estados Unidos. E envergonha qualquer cidadão da Terra que não tenha abdicado ainda de uma base elementar de princípios morais.
No entanto, ainda que escorraçado do poder, ele vai deixar atrás de si um rasto deletério e perigoso: o rasto da divisão e do ódio, o rasto da mentira e da difamação sistemática dos adversários - adversários que ele sempre achou que podiam e deviam ser tratados como inimigos a abater por quaisquer meios.
Trump inclui-se naquela estirpe de criaturas que nascem apenas para espalhar o mal pelo mundo. Mais do que um sujeito sem nenhuma qualidade recomendável, ele é o homem com todos os defeitos imagináveis. E, tal como sucedeu com Hitler ou Estaline, a sua corrosiva e egocêntrica maldade é contagiosa e perigosamente inspiradora para muitos dos que o escutam e seguem - uns por bronco fanatismo, outros por serem venais, outros por pura ignorância e boçalidade.
Para já, a América está de parabéns: os seus cidadãos não permitiram que o vilão continuasse sentado na cadeira de Abraham Lincoln!
Que o ostracismo e o desprezo da sociedade sejam bem pesados a este Bokassa de pacotilha! (aqui 1 e aqui 2)
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