Identificação das 11 vítimas
I - O casal imperial
1 - Czar Nicolau II (morto aos 50 anos) |
2 - Czarina Alexandra (morta aos 46 anos) |
II - As quatro filhas e o filho do casal imperial
3 - Grã-duquesa Olga (morta aos 22 anos) |
4 - Grã-duquesa Tatiana (morta aos 21 anos) |
5 - Grã-duquesa Maria (morta aos 19 anos) |
6 - Grã-duquesa Anastásia (morta aos 17 anos) |
7 - Czarevich Alexei (morto aos 13 anos) |
Retrato conjunto das sete vítimas da família imperial. Da esq. para a direita: Olga, Maria, Nicolau II, czarina Alexandra, Anastásia, Alexei e Tatiana. |
III - Os quatro acompanhantes da família imperial também assassinados na mesma altura
8 - Anna Demidova, camareira da czarina (morta aos 40 anos) |
9 - Alexei Trupp, criado particular (morto aos 62 anos) |
10 - Ivan Kharitonov, cozinheiro (morto aos 48 anos) |
11 - Dr. Eugene Botkin, médico da família imperial (morto aos 53 anos) .......... A matança destas 11 pessoas, concretizada às primeiras horas da madrugada de 17 de Julho de 1918 em Ecaterimburgo - localidade russa situada na parte oriental dos Montes Urais -, ficou a constituir uma das mais hediondas façanhas praticadas por qualquer força política em qualquer tempo. O crime choca e repugna ainda hoje pelo calculismo maquiavélico e pela brutal crueldade com que foi executado. Independentemente das crenças e simpatias de cada um, não existe possibilidade honesta de defender ou compreender, seja em nome de que causa for, o assassínio a frio de uma criança doente e sofredora, de algumas jovens mulheres mal saídas da adolescência e dos quatro acompanhantes cuja única culpa foi a de se acharem na sinistra casa de Ipatiev e de estarem ao serviço dos Romanov cativos dos "bolcheviques" (mais tarde rebaptizados de "comunistas"). Mais do que a impiedosa ferocidade da brigada assassina comandada por Yakov Yurovski, um homem da Tcheka, o episódio reflecte, como um espelho trágico, a crueldade intrínseca de Lenine, chefe do Partido Bolchevique e presidente do Sovnarkom (Conselho de Comissários do Povo, a autoridade máxima). Na verdade, a matança exemplifica a maneira de ser e de sentir do líder e aquilo que ele pensava constituir a forma mais adequada de agir em circunstâncias como aquela. Demonstrou-o em inúmeras ocasiões, como, por exemplo, no posterior assassínio de um irmão do czar, Mikhail Romanov, ou na liquidação de outros membros da família Romanov mais alargada - e dos seus servos -, tudo levado a cabo em condições igualmente horrorosas, que Lenine aplaudiu com júbilo. Não deixam dúvidas os telegramas furiosos que ele expedia para os carrascos, censurando-os por não terem actuado com “o máximo de crueldade” e incentivando-os a não se ficarem por “meias-medidas”. As notas que deixou escritas falam por si: exige sempre o extermínio dos inimigos, a forca, o fuzilamento, a morte cruel. Inimigos, ou opositores, a quem ele se referia como carraças, aranhas, sanguessugas... E os que o rodeavam nessa altura em nada contribuíam para um eventual apaziguamento: não só Trotsky, mas, sobretudo, Estaline - um lobo tão sedento de sangue como Lenine. Todavia, Lenine e os seus mais próximos perceberam que o assassínio da família imperial e dos seus acompanhantes, exactamente pelas condições em que ocorreu, encerrava o perigo potencial de virar contra os bolcheviques uma parte significativa da opinião pública. Se havia muitos que não lamentariam por aí além o desaparecimento do czar Nicolau – e talvez ainda menos o da czarina Alexandra -, o mesmo não se poderia dizer dos outros nove, irrefutavelmente inocentes. Por isso se ergueu celeremente uma cortina de silêncios, omissões, deturpações, calúnias, mentiras e pistas falsas. Começou-se por negar o acontecido. Mais tarde, admitiu-se a morte do czar, e só a dele: a restante família teria sido levada para local seguro. E quando a realidade da matança total não pôde mais ser ocultada, atribuiu-se a iniciativa exclusiva do crime ao poder local em Ecaterimburgo, ou seja, ao Comité Executivo do Soviete Regional dos Urais. Esta foi a mentira que perdurou durante décadas, sustentada pelas autoridades soviéticas e alimentada, ainda na actualidade, por uma legião de admiradores de Lenine. O que só prova, no fundo, que também eles consideraram e consideram que a chacina foi monstruosamente inaceitável: havia por isso que retirar o líder bolchevique da cena sanguinária. Ele estava em Moscovo e nada teria tido a ver com o que se passava nos Urais... Hoje, na presença de documentos e testemunhos entretanto surgidos, sabe-se a verdade. Lenine não só sabia como autorizou os tiros e as punhaladas da madrugada fatal. É certo que ainda não apareceu nenhum papel, com a sua assinatura, ordenando a execução. Mas se fosse esse o único critério para apurar a verdade do caso, concluiríamos sem hesitação que Adolfo Hitler, uns anos mais tarde, não teria tido culpa nenhuma da morte de milhões de judeus... (Continua em 3 de Outubro de 2020) Ver as restantes 7 partes: 2.ª Parte - A Revolução e a Queda da Monarquia (aqui) 3.ª Parte - Cativeiro em Tsarskoe Selo (aqui) 4.ª Parte - Cativeiro em Tobolsk (aqui) 5.ª Parte - Cativeiro em Ecaterimburgo e Assassínio (aqui) 6.ª Parte - Reabilitação da Família e Funerais (aqui) 7.ª Parte - Galeria Final de Fotos - I (aqui) 8.ª Parte - Galeria Final de Fotos - II (aqui) |