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Palácio de Alexandre, em Tsarskoe Selo.
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Nicolau II, o czar deposto, foi
encaminhado com escolta militar para o Palácio de Alexandre, em Tsarskoe Selo
(localizado nas proximidades da capital, Petrogrado), onde já se encontrava a
ex-czarina Alexandra com os filhos.
O palácio fora em tempos transformado
numa espécie de residência rural da família imperial, e era ali que, sempre que
possível, esta buscava refúgio, distracção e paz. As cercanias eram povoadas de
mansões e de casernas, onde chegaram a estar aquartelados largos milhares de soldados.
A Rússia era agora republicana, e os
tempos da monarquia estavam definitivamente para trás. Nicolau II, que chegou a
Tsarskoe Selo cerca de três semanas após a abdicação (a 22 de Março de 1917), teve logo a percepção de quanto as coisas se haviam alterado.
A guarda do palácio tinha sido substituída por militares imbuídos do espírito revolucionário, e, quando o
antigo imperador ali deu entrada, não recebeu quaisquer saudações especiais,
sendo tratado, simplesmente, pelo nome próprio.
Ninguém o maltratou ou desrespeitou
ostensivamente, mas nenhum dos soldados correspondeu ao cumprimento que ele
lhes dirigiu, nem no momento da chegada nem nos dias seguintes.
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O ex-czar Nicolau II, guardado à vista em Tsarskoe Selo.
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Nicolau e a família mais
próxima – a esposa, Alexandra, e os cinco filhos -, não passavam agora de cativos
da revolução: a sua situação correspondia, na prática, a uma prisão
domiciliária. Podiam sair do palácio para o parque circundante, mas só com
autorização prévia e a horas marcadas.
As mesmas regras seriam aplicadas aos
acompanhantes autorizados a ficar com a família imperial: quem não se mostrou
disposto a cumpri-las teve de partir de imediato.
A detenção da família fora exigida
pelo Soviete de Petrogrado ao Governo Provisório, permanentemente pressionado
por aquele para endurecer as condições de vida dos prisioneiros.
O exílio em
qualquer país estrangeiro teria sido uma solução aceitável, tanto para os
Romanov como para uma parte significativa do Governo Provisório. O Reino Unido,
por exemplo, cujo trono era ocupado por Jorge V, primo de Nicolau II,
manifestou de início alguma vontade de acolher os parentes russos caídos em
desgraça. Mas Jorge V recuaria posteriormente nessas boas intenções,
acabando por recusar estender a mão aos prisioneiros.
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O czar Nicolau II (à esq.) com o seu primo britânico, o rei Jorge V.
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Por seu turno, o Soviete não
queria sequer ouvir falar em exílio, e o Governo Provisório, condicionado por essa
atitude, teve de agir em conformidade.
Sem que Nicolau e os familiares se
apercebessem disso, as discussões sobre o seu destino assumiam por vezes
cambiantes sinistros.
Kerensky, que integrava o Governo Provisório (sucessivamente
com as pastas da Justiça, da Guerra e, finalmente, com o cargo de Primeiro-Ministro),
deslocou-se um dia a Moscovo e foi ali rudemente confrontado com a exigência do
respectivo Soviete: nada mais nada menos do que a imediata execução do antigo
czar.
Por essa altura, os bolcheviques achavam-se ainda distantes do poder
absoluto que alcançariam, com Lenine, em Outubro de 1917. Mas estas cenas de
bastidores não faziam antever nada de bom para os Romanov quando a relação de
forças se modificasse significativamente. Por enquanto, o Governo Provisório – e particularmente
Kerensky – resistia às pressões mais radicais.
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Os Romanov passavam grande parte do tempo trabalhando voluntariamente nos parques do Palácio de Alexandre. Na imagem, Nicolau II (4.º a contar da esq.) troca impressões com uma das filhas (de blusa branca).
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Não obstante as dificuldades da
sua situação, a antiga família imperial – especialmente Nicolau e os filhos -
procurou adaptar-se a ela com paciência e espírito aberto.
Alexandra, a ex-czarina,
reagiu pior e com algum azedume, pois esteve sempre convencida de que os
conselheiros do marido o haviam traído ao convencê-lo a abdicar. Acreditava que,
se tivesse estado perto de Nicolau naquelas horas difíceis, o teria levado a
manter-se no trono e a bater-se por ele.
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Outra das filhas do czar deposto trabalhando nos parques do palácio. Aqui, ajudada por um guarda, transporta terra e relva.
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Nicolau dedicava o seu tempo à leitura e a trabalhos no exterior. Serrava e partia lenha para as
lareiras do palácio e fazia trabalhos de jardinagem por vezes acompanhado pelas
filhas.
Procurava acercar-se dos soldados incumbidos de vigiar a família (ele
sempre adorara as forças armadas), mas quase nunca lhe retribuíam as saudações. Não obstante, ao verem a forma como ele se resignava com o cativeiro e se entregava a trabalhos físicos extenuantes, vários guardas manifestaram sentimentos de pena e, até, alguma simpatia por ele.
Para evitar o desenvolvimento dessas aproximações, as novas autoridades
procediam frequentemente à rotação das guarnições.
Nicolau fazia questão de se
despedir das forças rendidas, mas isso levava-o frequentemente a passar por
situações mortificantes. Um dia, quando tentou dizer adeus a um oficial que partia, o homem não só lhe recusou o cumprimento, deixando-o de mão estendida, como lhe deu uma resposta grosseira. O antigo czar ficou à beira das lágrimas
com essa atitude.
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Alexander Kerensky, Primeiro-Ministro do Governo Provisório. Preocupou-se sinceramente com a segurança da família imperial. |
Kerensky visitou a família imperial por
diversas vezes. Com o tempo, tanto Nicolau como a esposa acabaram por
reconhecer-lhe as qualidades e as boas intenções. O ex-czar chegou mesmo a confidenciar
aos seus próximos que lamentava não o ter conhecido antes, quando ainda
era imperador: achava que ele lhe teria sido muito útil e que o teria ajudado a
evitar vários erros de governação.
Kerensky achava-se numa situação
delicada. Por um lado era pressionado pelos radicais e especialmente pelo
Soviete de Petrogrado para endurecer a posição em relação à família
deposta. O Soviete achava que todos os Romanov confinados no Palácio de
Alexandre deveriam ser rapidamente enclausurados na fortaleza de S. Pedro e S.
Paulo.
Kerensky recusou. Receava as consequências, no exterior, de quaisquer
maus tratos que a família pudesse vir a sofrer. O Governo Provisório
necessitava desesperadamente de financiamento externo, e ele temia que uma eventual
violência sobre Nicolau e os seus provocasse retaliações nesse domínio.
Quando eclodiram tumultos em
Petrogrado, Kerensky receou que eles se estendessem a Tsarskoe Selo e ao Palácio
de Alexandre: um bando de militares amotinados poderia aparecer por ali
a qualquer instante e ocasionar danos irreparáveis.
Concluiu, por isso, que
urgia retirar dali a família cativa, levando-a para bem longe de Petrogrado, em direcção às terras de Leste.
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Linha transiberiana, mostrando os milhares de quilómetros percorridos pelos Romanov. O nome de Tobolsk, a nordeste de Tyumen, surge meio oculto pelo de Yekaterinburg (Ecaterimburgo).
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Quando propôs a evacuação a Nicolau, este concordou que isso
seria o melhor para a segurança de todos. Kerensky não lhe revelou o destino,
mas recomendou que todos levassem roupas quentes.
A 13 de Agosto de 1917, a
família imperial tomou os seus lugares no comboio e viajou, pela Linha Transiberiana, até Tyumen, a sul de Ecaterimburgo (4.Yekaterinburg). Aqui embarcaram em ferries que os conduziram para nordeste, pelo rio,
até ao destino decidido pelo Governo Provisório: Tobolsk, na Sibéria Ocidental.
Chegaram a 19 de Agosto e foram hospedados na antiga casa do governador da
província.
Era o segundo e penúltimo
apeadeiro do dramático fim de vida dos Romanov.
(Continua em 10 de Outubro de 2020)
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