sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Poesia Árabe na Península Ibérica - "Coração Inquieto" (séc. XI)




 
Meu coração inquieto não se dá repouso
e o amor por ti não posso disfarçá-lo.
Lágrimas me caem: gotas de aguaceiro
sobre um corpo minguado, amarelento.

E, no entanto, estás perto, minha amada;
que seria de mim se tu te fosses?
Buscaram as desgraças atingir-me
com os teus olhos profundos de gazela.

Pelas estrelas cintilantes no escuro céu!
Pela própria lua refulgente!
Foi-se-me do jardim o meu orvalho
levado pelo perfume ligeiro do narciso.

Sabes, meu amor, estou pálido, cansado,
causa dó o meu estado - e tu tão indiferente!...
E ainda perguntas se estou doente
ou se me atacou o fogo do desejo!...

Senhora minha - alguém já te fez reparo -,
que injustiça a tua para quem te quer bem!

E ainda perguntaste: "sofres de desejo,
não aguentas a tua impaciência?"
Do meu querer duvidas, como és injusta:
notam-no os presentes e os que se ausentaram.

Allah!, deste imenso amor fiquei enfermo.
Como todas as paixões são fracas a seu lado!

Ele transformou o meu pobre corpo.
Quero a tua presença e não a alcanço.
Pede a Allah perdão por seres injusta,
pois todo o injusto deve pedir perdão!


Autor: Al-Mutamid - Nascido em Beja, 1040 - f. em Marrocos em 1095)

Ainda não havia Portugal.
E muito menos o Brasil...
.

Sem comentários: