sábado, 6 de abril de 2019

"Enterrem meu Coração na Curva do Rio" - A Palavra dos Índios


Em 1970, Dee Alexander Brown publicou nos Estados Unidos um livro que logo se transformou num best-seller (57 semanas de permanência na lista).

A obra tinha por título Bury my Heart at Wounded Knee (An Indian History of the American West) e evocava, sob o ponto de vista dos Índios, uma parte da história do território entre 1865 e 1890.

O livro foi posteriormente editado no Brasil (co-edição do Centro do Livro Brasileiro e das Edições Melhoramentos, 1973), com o título Enterrem meu Coração na Curva do Rio - Uma História Índia do Oeste Americano, sendo extraordinariamente bem recebido pelo público e pela crítica.

Dois apontamentos da imprensa do tempo:
Luís Carlos Lisboa (Jornal da Tarde) - Um depoimento comovente sobre a decadência e o fim de um povo cheio de dignidade, de amor pela natureza e de boa fé.
Élio Gaspari (Veja) - Além de oferecer ao leitor minuciosas descrições de tratados hipócritas e massacres desnecessários, inclui a sensação de que, durante muito tempo, muita gente foi enganada de uma maneira tola nos livros e nos cinemas onde Gary Cooper, fulgurante e indómito, salvava a mocinha das mãos de selvagens comanches, sioux, cheyennes ou santees.



Os depoimentos abaixo transcritos pertencem, todos, a esses primeiros americanos, apanhados desprevenidos pela invasão irreprimível. Alguns chegaram a crer na palavra dos tratados que lhes propuseram, como sucedeu, por exemplo, em 1868: Nenhuma pessoa ou pessoas brancas poderão colonizar ou ocupar qualquer porção do território, ou, sem consentimento dos índios, passar pelo mesmo.
Mas eram frases ocas, cheias de perfídia - e eles logo se desiludiram. E assim viram desmoronar-se, com aterradora celeridade, e não obstante a bravura da última resistência, o mundo em que haviam nascido e em que tinham criado uma cultura própria e elaborada.
Amavam a sua terra e por isso a defenderam sempre que lhes foi possível. Quando não foi, submeteram-se. E viram-se condenados, na maior parte dos casos, a destinos miseráveis e sem esperança.

Ficam as suas palavras.


“Fizeram-nos muitas promessas, mais do que me posso lembrar.
Mas eles nunca as cumpriram, excepto uma: prometeram tomar a nossa terra e tomaram-na.”
(Nuvem Vermelha, dos Sioux Oglala)

“Soube que pretendem colocar-nos numa reserva perto das montanhas.
Não quero ficar nela.
Gosto de vaguear pelas pradarias. Nelas sinto-me livre e feliz.
Quando nos fixamos, ficamos pálidos e morremos. Pus de lado a minha lança, o arco e o escudo, mas sinto-me seguro junto deles.
Disse-lhes a verdade. Não tenho pequenas mentiras ocultas em mim, mas não sei como são os comissários. São tão francos como eu?
Há muito tempo, esta terra pertencia aos nossos antepassados. Mas, quando subo o rio, vejo acampamentos de soldados nas suas margens.
Esses soldados cortam a minha madeira, matam o meu búfalo e, quando vejo isso, o meu coração parece partir-se. Fico triste…
Será que o homem branco se tornou uma criança, que mata sem se importar, e não come o que matou? Quando os homens vermelhos matam a caça, é para que possam viver, e não morrer de fome.”
(Satanta, dos Kiowas)





“Quando a pradaria pega fogo, vêem-se os animais cercados pelo incêndio.
Vê-se que eles correm e que tentam esconder-se para não se queimarem.
É dessa maneira que estamos aqui.”
(Najinyanupi, dos Sioux)

“Se não fosse o massacre, haveria muito mais gente aqui neste momento. Mas, depois deste massacre, quem poderia ficar?
Quando fiz a paz com o tenente Whitman, o meu coração estava muito grande e feliz.
A gente de Tucson e de San Xavier deve ser louca. Agiram como se não tivessem cabeças nem corações. Devem ter sede do nosso sangue.
Essa gente de Tucson escreveu para os jornais e contou a sua história.
Os apaches não têm ninguém para contar a sua história.”
(Eskiminzin, dos Apaches Aravaipa)



“Esta guerra não nasceu aqui, na nossa terra. Esta guerra foi trazida até nós pelos filhos do Pai Grande, que vieram tomar a nossa terra sem perguntarem o preço, e que, aqui, fizeram muitas coisas más. O Pai Grande e os seus filhos culpam-nos por estes problemas…
A nossa vontade era viver aqui, na nossa terra, pacificamente, e fazer o possível pelo bem-estar e prosperidade do nosso povo. Mas o Pai Grande encheu-a de soldados que só pensavam na nossa morte.
Alguns do nosso povo que saíram daqui de maneira a poder mudar alguma coisa, e outros que foram para o norte caçar, foram atacados pelos soldados desta direcção e, quando chegaram ao norte, foram atacados pelos soldados do outro lado. E agora, que desejam voltar, os soldados interpõem-se para os impedir de regressar ao lar.
Parece-me que há um caminho melhor do que este. Quando os povos entram em choque, o melhor para ambos os lados é reunirem-se sem armas e conversar sobre isso, e encontrar algum modo pacífico de resolver.”
(Cauda Pintada, dos Sioux Brulés)



“Não queremos homens brancos aqui.
As Black Hills pertencem-nos.
Se os brancos tentarem tomá-las, lutaremos.”

[Tatanka Yotanka (Touro Sentado), dos Sioux]

“Onde estão hoje os pequot? Onde estão os narragansett, os moicanos, os pokanoket e muitas outras tribos outrora poderosas do nosso povo?
Desapareceram diante da avareza e da opressão do homem branco, como a neve diante de um sol de Verão.
Vamos deixar que nos destruam, por nossa vez, sem luta, renunciar às nossas casas, à nossa terra dada pelo Grande Espírito, aos túmulos dos nossos mortos e a tudo o que nos é caro e sagrado?
Sei que vão gritar comigo: Nunca! Nunca!”
(Tecumseh, dos Shawnees)

"O Pai Grande disse aos comissários que todos os índios tinham direitos nas Black Hills, e que qualquer conclusão a que chegassem seria respeitada…
Sou um índio e sou considerado pelos brancos como um homem louco.
Mas isso deve ser porque sigo os conselhos do homem branco.”
[Shunka Witko (Cachorro Louco), dos Sioux]





“Tudo o que pedimos é para podermos viver, viver em paz…
Cedemos à vontade do Pai Grande e fomos para sul.
Achámos que um cheyenne não podia viver ali.
Então, voltámos para casa. É melhor morrer a lutar do que de doença, foi o que achámos…
Podem matar-me aqui, mas não me obrigarão a voltar.
Não iremos.
A única maneira de nos levarem para lá é usando clavas para nos baterem na cabeça.
Então podem arrastar-nos e deixarem-nos por lá - mortos.”
[Tahmelapashme (Faca Embotada) dos Cheyennes do Norte] 




“Eu estava a viver pacificamente com a minha família, tinha muita comida, dormia bem, cuidava do meu povo e estava contente. Ali estávamos bem, eu e o meu povo.
Comportava-me bem. Não matara nenhum cavalo, nenhum homem, americano ou índio.
Não sei qual era o problema com a gente que se encarregara de nós. Sabiam que tudo era assim, mas disseram que eu era um homem mau, o pior homem dali.
Mas o que é que eu tinha feito? Estava a viver pacificamente com a minha família à sombra das árvores, fazia exactamente o que o general Crook me dissera para fazer, procurava seguir o seu conselho.
Agora quero saber quem ordenou que eu fosse preso.
Rezei à luz e à treva, a Deus e ao Sol, para que me deixassem viver tranquilamente com a minha família. Não sei qual é a razão que leva as pessoas a falarem mal de mim. Frequentemente há histórias nos jornais a dizerem que serei enforcado.
Não quero mais isso.
Quando um homem tenta proceder bem, tais histórias não devem ser colocadas nos jornais. Só restaram poucos dos meus homens. Fizeram algumas coisas más, porém agora estão todos mortos e não falemos mais deles.
Sobraram pouquíssimos de nós.”

(Gerónimo, dos Apaches Chiricahuas)





“Meus amigos, estamos neste território há muitos anos.
Nunca fomos ao território do Pai Grande incomodá-lo.
Foi o seu povo que veio ao nosso território incomodar-nos, fazer muitas coisas más e ensinar o nosso povo a ser mau…
Antes de o vosso povo atravessar o oceano para vir até aqui, e desde essa época até agora, nunca propuseram comprar um lugar semelhante a este.
Meus amigos, este território que vieram comprar é o melhor que temos…
Este território é meu, cresci aqui.
Os meus antepassados viveram e morreram nele - e quero permanecer nele.”
[Kangi Wiyaka (Pena de Corvo), dos Sioux]

"As pessoas não vendem a terra em que vivem.”
(Cavalo Louco, dos Sioux)






“O meu povo nunca usou um arco ou disparou uma arma de fogo contra os brancos. Houve problemas na fronteira entre nós, e os meus jovens dançaram a dança da guerra.
Mas não fomos nós que começámos.
Foram vocês que enviaram o primeiro soldado, e nós mandámos o segundo.
Há dois anos atrás vim para esta estrada, seguindo o búfalo, para que as minhas mulheres e os meus filhos pudessem ficar com as faces cheias e os corpos aquecidos.
Mas os soldados dispararam contra nós e, desde então, houve um barulho como o de uma tempestade e ficámos sem saber que caminho tomar.
Também não podemos ficar a chorar sozinhos, sempre.
Os soldados de azul e os utes vieram de noite, quando estava escuro e sossegado, e queimaram as nossas tendas como fogueiras. Em vez de perseguirem a caça, mataram os meus bravos e os guerreiros da tribo cortaram os cabelos pelos mortos.
Foi assim no Texas.
Fizeram a tristeza chegar aos nossos acampamentos e nós investimos como os búfalos quando as suas fêmeas são atacadas.
Quando os encontrámos, matámo-los e os seus escalpes pendem das nossas tendas. Os comanches não são fracos e cegos, como os cachorrinhos de sete sonos de idade. São fortes e perspicazes, como cavalos adultos.
Os brancos choraram e as nossas mulheres riram.”
[Parra-Wa-Samen (Dez Ursos), dos Comanches]

“Embora me tenham feito mal, ainda tenho esperanças. Não fiquei com dois corações… Agora encontramo-nos outra vez para fazer a paz. A minha vergonha é tão grande como a terra, embora eu vá fazer o que os meus amigos aconselham. Antes, eu pensava que era o único homem que insistia em ser amigo dos brancos. Mas, desde que eles vieram e acabaram com as nossas tendas, cavalos e tudo o mais, é difícil para mim acreditar ainda neles.”
[Motavato (Chaleira Preta), dos Cheyennes do Sul]

“Não quero deixar nunca este território.
Todos os meus parentes jazem neste solo e, quando eu me desfizer, quero desfazer-me aqui.”
[Shunkaha Napin (Colar de Lobo), dos Sioux]



“Não quero correr mais pelas montanhas.
Quero fazer um grande tratado.
Manterei a minha palavra até que as pedras derretam…
Deus fez o homem branco e Deus fez o apache, e o apache tem tanto direito ao território como o homem branco.
Quero fazer um tratado que dure, para que ambos possam viajar pelo território e não haja transtornos.”
(Delshay, dos Apaches Tonto)

“De quem foi a voz que primeiro soou nesta terra?
Foi a voz do povo vermelho, que só tinha arcos e flechas…
Eu não quis, nem pedi, o que fizeram à minha terra, os brancos a percorrerem a minha terra.
Sempre que o homem branco vem ao meu território, deixa um trilho de sangue atrás dele…
Tenho duas montanhas neste território - as Black Hills e a Big Horn.
Quero que o Pai Grande não faça estradas através delas.
Disse estas coisas três vezes.
Agora venho dizê-las pela quarta vez.”
(Nuvem Vermelha, dos Sioux Oglala)


“Mas há coisas que vocês me disseram e de que eu não gosto. Não são doces como açúcar, mas amargas como cabaças.
Disseram que desejavam colocar-nos numa reserva, construir-nos casas e fazer-nos tendas para curar.
Não quero nada disso.
Nasci na pradaria, onde o vento sopra livre e não existe nada que interrompa a luz do sol.
Nasci onde não havia cercas, onde tudo respirava livremente.
Quero morrer ali, não dentro de paredes.
Conheço cada corrente e cada bosque entre o Rio Grande e o Arkansas. Cacei e vivi nesse território. Vivi como os meus pais, antes de mim, e, como eles, vivi feliz.
Quando estive em Washington, o Grande Pai Branco disse-me que toda a terra comanche era nossa e que ninguém deveria impedir-nos de morar ali.
Então, porque é que nos pedem para deixar os rios, o sol e o vento, para irmos morar em casas?
Não nos peçam para trocarmos o búfalo pelos carneiros. Os jovens ouviram falar disso e ficaram tristes e furiosos. Não falem mais disso…
Se os texanos se mantivessem fora do meu território, haveria paz. Mas o lugar em que vocês dizem que devemos viver é pequeno de mais.
Os texanos tomaram os lugares onde a erva cresce mais e a madeira é melhor.
Se nós os conservássemos, poderíamos fazer as coisas que nos pedem.
Mas é tarde de mais, os brancos têm o território que amávamos e já só queremos vaguear pela pradaria até morrermos.”
[Parra-Wa-Samen (Dez Ursos), dos Comanches]
 



"Todos os índios devem dançar, por toda a parte.
Dentro em breve, na próxima Primavera, o Grande Espírito virá.
Trará de volta caça de todas as espécies. Haverá muita caça por todo o lado. Todos os índios mortos voltarão e viverão de novo. Serão fortes como jovens, serão jovens outra vez.
O velho índio cego verá novamente e será jovem, terá uma vida boa.
Quando o Grande Espírito vier desta forma, todos os índios irão para as montanhas, bem mais alto do que os brancos.
Os brancos não poderão ferir os índios, então.
Enquanto os índios estiverem no alto, virá uma grande enchente, uma água, e todos os brancos morrerão, afogando-se.
Depois disso, a água retirar-se-á e só haverá índios em toda a parte e caça de toda a espécie.
Então, o feiticeiro dirá aos índios para espalharem por toda a parte que todos devem ficar dançando, e o bom tempo virá.
Os índios que não dançarem, que não acreditarem nesta palavra, crescerão pouco, só uns trinta centímetros de altura, e ficarão assim.
Alguns deles transformar-se-ão em madeira e serão queimados no fogo.”
(Wovoka, o Messias dos Paiutes, fundador da religião da Dança dos Fantasmas)





“Os brancos só contaram um lado. Contaram o que lhes agradava. Contaram muita coisa que não era verdade. O homem branco só contou as suas melhores acções, só as piores dos índios.”
(Lobo Amarelo, dos Nez Percés)


quarta-feira, 3 de abril de 2019

Angola, Angola... ("Meus Olhos Ficaram Mar")

Raul (à esquerda) e Emílio (à direita).
Ao fundo, Luanda, capital de Angola.

Deixei a minha terra
Adeus mãe, adeus meu lar!
Deixei na Praia Morena
O meu amor a chorar...

Deixei a minha terra
Fui para o mundo cantar
No peito uma grande pena
Tinha os olhos a brilhar...

Ai, meus olhos ficaram mar,
meus olhos ficaram mar,
meus olhos ficaram mar...




Em 1959, os angolanos Raul Aires Peres Cruz (depois conhecido como Raul Indipwo) e Emílio MacMahon de Victoria Pereira formaram o Duo Ouro Negro, cujo reportório se centrava no folclore da sua terra natal.

O grupo fez enorme sucesso nas décadas de 1960 e 1970, quer em Angola quer em Portugal. Nas primeiras gravações contaram com a colaboração do brasileiro Sivuca.
Muxima, Kurikutela e Tala on n'Bundo foram os seus primeiros grandes êxitos.

Emílio, nascido em 1938, faleceu em 1985.
Raul mudou então o seu nome artístico para Raul Ouro Negro e prosseguiu uma carreira a solo. É dele a interpretação da canção acima (Meus Olhos Ficaram Mar).
Nascido em 1933, faleceu no ano de 2006.

terça-feira, 26 de março de 2019

Poema do Coração (António Gedeão)


Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,
e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãos,
falo-vos do coração",
ou então:
"com o coração nas mãos".


Mas o meu coração é como o dos compêndios
Tem duas válvulas (a tricúspide e a mitral)
e os seus compartimentos
(duas aurículas e dois ventrículos).
O sangue a circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.


Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados
e uma lâmina baça e agreste,
que endurece a luz nos olhos
em bisel cortados.
Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.

Então meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?

António Gedeão - Portugal (Lisboa, 1906-1997)

sexta-feira, 22 de março de 2019

Hudson, Explorador Trágico do Árctico

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Henry Hudson (c. 1550 - c. 1611)
Hudson foi um navegador e explorador inglês. Tornou-se notado a partir de 1607, mas desapareceu apenas quatro anos depois em circunstâncias trágicas.
Pouco se conhece acerca da sua carreira no período anterior, mas nos derradeiros anos de vida realizou quatro tentativas para descobrir um caminho marítimo mais curto para Oriente, navegando pelo Norte.
O mapa seguinte mostra os sucessivos itinerários de Henry Hudson até ao drama final.

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As duas últimas viagens de Hudson
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Em 1607, Hudson foi contratado pela Companhia Moscovita (grupo financeiro inglês). Navegando para norte, entre a Gronelândia e Spitzberg, procurou o acesso ao Oriente nas imediações do Pólo Norte. Uma intransponível barreira de gelo forçou-o todavia a retirar, quando se achava a somente 10º do Pólo.
Em 1608, nova tentativa fracassada (seguiu uma rota ao longo da costa setentrional da Ásia).

A fama de Hudson resultou das suas duas últimas viagens (mapa acima):

- em 1609, contratado pelos Holandeses, viajou no Half Moon até à costa leste da América do Norte (veja as duas linhas castanhas na parte inferior da figura);

- em 1610-1611, comandando o Discovery ao serviço de alguns comerciantes ingleses, desapareceu para sempre (linha azul, na parte superior da figura).
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Hudson na costa da América do Norte
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Viagem de 1609


Henry Hudson assinou em Janeiro deste ano um contrato com a Companhia Holandesa das Índias Orientais, cujo objectivo consistia em “procurar uma passagem a norte para o Oriente, contornando a costa setentrional de Nova Zembla”.
Hudson largou do porto de Amesterdão em Abril de 1609, no Half Moon, com uma tripulação de dezasseis homens, entre Ingleses e Holandeses.

Subindo a costa ocidental da Noruega, os exploradores avistaram o Cabo Norte a 5 de Maio e logo se internaram nas perigosas águas do mar de Barents.
Temperaturas negativas, violentíssimas tempestades, nevoeiros cerrados, blocos maciços de gelo e um princípio de motim dos tripulantes holandeses, obrigaram o comandante a desrespeitar o que havia contratado, abandonando a busca da passagem a nordeste ainda antes de avistar Nova Zembla.

Aproando a sudoeste, o Half Moon atravessou o Atlântico Norte, com águas agitadas, e alcançou as costas americanas do Maine por alturas de Julho.
O navio seguiu então para sul, dobrou o cabo Cod, torneou os perigosos baixios de Nantucket e, em meados de Agosto, estacionava na baía de Chesapeake. Seguiu-se uma série de explorações - baía de Delaware, costa de Nova Jérsia, bancos de Sandy Hook e uma vasta baía orlada de florestas (New York). Deram-se então contactos com os índios, nem sempre amistosos, e a exploração de um grande curso de água (que recebeu o nome pelo qual o conhecemos ainda hoje: rio Hudson).
A 4 de Outubro, o Half Moon aproou de novo ao mar alto, chegando a Inglaterra nos princípios de Novembro de 1609.
 A passagem para Oriente não fora descoberta.
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Hudson e os companheiros vêem afastar-se o Discovery
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Viagem de 1610-1611

Um grupo de abastados comerciantes ingleses formou um consórcio privado destinado a financiar uma nova viagem de Henry Hudson.
Este levava agora instruções para explorar estreitos e enseadas do Árctico Canadiano, procurando apurar “se seria possível encontrar uma passagem para o outro oceano chamado mar do Sul”.

A 17 de Abril de 1610, Hudson partiu no Discovery para a derradeira viagem, sempre em busca da misteriosa rota que o conduzisse ao Oriente. Desta vez levava consigo o seu jovem filho, John Hudson.
Em meados de Maio de 1610 o Discovery atingia a Islândia, não sem que antes se tivessem verificado incidentes graves entre a tripulação, uma perigosíssima constante desta terrível viagem.

Contornando o extremo sul da Gronelândia (ver mapa acima), o navio progrediu com imensa dificuldade para oeste, através de mares coalhados de blocos de gelo.
A tripulação murmurava, descrente de que o objectivo pudesse ser alcançado em tais condições. Hudson, um homem de fé, insistia. Penetrando no estreito que receberia o seu nome (entre o Labrador e a Ilha de Baffin), os exploradores chegaram a “um grande mar que se estendia para ocidente” (actual Baía de Hudson), que sabemos hoje que não conduz à Ásia, mas que penetra profundamente nas regiões selvagens do Canadá.

Em vez de alcançar o Pacífico, como esperava, Hudson atingiu em Setembro de 1610 a baía de James, o recesso mais meridional da baía de Hudson. O Discovery gastou as semanas seguintes em desesperadas navegações para diante e para trás, para norte e para sul, para leste e para oeste, num labirinto infernal.
Veio e passou o Inverno. Frio, fome, discussões e desesperança eram agora o quotidiano da tripulação do Discovery.

Finalmente, em 22 de Junho de 1611, conduzida pelos revoltosos Juet e Henry Greene, a tripulação dominou Hudson e, juntando-o ao filho e a mais sete marinheiros fiéis numa pequena chalupa, abandonou-o à sua sorte nas águas gélidas e mortíferas da baía.

Era o fim para Henry Hudson e para aqueles que o acompanharam. Nunca mais se soube deles, e podemos somente imaginar como acabaram as suas vidas.

Entretanto, o Discovery conseguiu chegar a Inglaterra com a tripulação amotinada. O caso viria a ser revelado e os cabecilhas da rebelião punidos.
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Adaptado de: Great Adventures That Changed Our World.

terça-feira, 19 de março de 2019

Cantares de Venezuela (2) - Cecilia Todd ("Polo Margariteño")


Cecília Todd nasceu em Caracas, Venezuela, no dia 4 de Março de 1951.
Dona de uma voz belíssima, é também exímia executante do "cuatro" venezuelano (instrumento de cordas que parece ter tido como antepassado remoto o cavaquinho português).



segunda-feira, 18 de março de 2019

Cantares de Venezuela (1) - Soledad Bravo ("Polo Margariteño")



Soledad Bravo é uma cantora venezuelana (embora nascida em Espanha no ano de 1943).
É uma das mais importantes figuras da música latino-americana. Senhora de uma voz cristalina e poderosa, abordou os mais variados géneros musicais.
O começo da sua carreira ficou, porém, associado à canção folclórica e de protesto, onde alcançou enorme popularidade. Contribuiu para dar a conhecer os compositores mais representativos da chamada "Nova Trova Cubana" e da "Nova Canção Latino-Americana".



(Vídeo de RecordsFromShelf)

quinta-feira, 14 de março de 2019

"Brasileirinho"

Waldir Azevedo, compositor brasileiro, mestre de cavaquinho.
Nascido no Rio de Janeiro (1923). Falecido em São Paulo (1980).

A inesquecível composição de Waldir Azevedo ("Brasileirinho") é aqui magistralmente executada por Fábio Lima: