sábado, 31 de julho de 2021

O general António de Spínola e Otelo Saraiva de Carvalho na guerra da Guiné-Bissau (1) - O dia em que Spínola se pôs à frente das balas de um soldado africano das tropas portuguesas

 

Spínola com os seus oficiais no teatro de operações.
De camuflado, monóculo, luvas e pingalim.


O general António Sebastião Ribeiro de Spínola foi, entre 1968 e 1973, o penúltimo governador e comandante-chefe das Forças Armadas portuguesas na então colónia da Guiné-Bissau.

No ano seguinte ao do termo da comissão, e após o golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 em Portugal, seria mandatado pelos revoltosos para receber o poder das mãos do primeiro-ministro Marcelo Caetano, entretanto cercado no quartel do Carmo, em Lisboa. Tornar-se-ia nesse mesmo dia presidente da Junta de Salvação Nacional e, posteriormente, Presidente da República de Portugal (cargo que ocuparia por breves meses).


Na Guiné-Bissau, colónia difícil, pantanosa, de pequena expressão territorial (pouco mais de um terço da superfície de Portugal) e ameaçada por bases inimigas localizadas em países limítrofes (Senegal, Guiné-Conacri), as tropas portuguesas enfrentavam a mais difícil das três frentes em que combatiam na época (as outras eram Angola e Moçambique).

No ano de 1973, as Forças Armadas dispunham, na Guiné-Bissau, de 58 000 homens, dos quais 36 000 oriundos de Portugal e cerca de 22 000 recrutados localmente para as chamadas Forças Africanas (Comandos e Fuzileiros Africanos, Milícias, Autodefesas, etc.).

No comando absoluto deste efectivo, o general António de Spínola combinava as acções de combate no terreno (onde ele comparecia com frequência, correndo os riscos inerentes) com campanhas maciças de propaganda e de acção psicológica, visando a conquista de adesões entre as populações autóctones.

Spínola cumprimenta um dos militares guineenses das Forças Armadas portuguesas

O recentemente falecido coronel Otelo Saraiva de Carvalho, que viria a ser o estratega do golpe de 25 de Abril de 1974, achava-se em comissão de serviço na Guiné-Bissau desde 1970.
Detentor, na altura, do posto de capitão, não pertencia propriamente às forças operacionais, pois fora colocado na Repacap (Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica). Essa posição permitiu-lhe uma relativa aproximação ao general Spínola, cujo perfil e desempenho pôde observar durante os anos em que coexistiram naquele teatro de guerra.

No seu livro Alvorada em Abril, publicado em 1977, Otelo de Carvalho procura delinear o retrato do famoso general. Torna-se evidente, ao correr de dezenas de páginas, que não morria de amores pelo comandante-chefe (a quem ele, e outros camaradas, chamavam o Velho). Nas suas próprias palavras: Admirando o Velho como chefe militar, não o respeitava como homem.

Assim, ainda que lhe reconheça o carisma, as extraordinárias capacidades de liderança, a enorme coragem física, a invulgar resistência e a inesgotável capacidade de trabalho, Otelo atribui a Spínola o propósito de apenas desejar aproveitar a comissão na Guiné para se projectar para voos mais altos. A sua ambição é um cavalo selvagem que mal consegue dominar. Sabe o que quer e para onde vai. A Presidência da República atrai-o com uma força irresistível.


Autoritário, sanguíneo, por vezes irascível, o general Spínola – segundo Otelo - conduzia os seus batalhões da Guiné através do medo. Com um perfil operacional inconfundível – de camuflado, monóculo, luvas e pingalim – o comandante-chefe tinha o hábito de poisar sem aviso junto de qualquer unidade, procurando detectar falhas, negligências ou o mais pequeno sinal de incompetência.

Foi assim que muitos comandantes se viram afastados dos postos perante formaturas dos seus homens, o que equivalia, praticamente, à morte militar do oficial atingido. Mas o Velho, ainda de acordo com Otelo, colhia depois o fruto dessas acções de terror auto-infligidas, obtendo das forças no terreno um elevadíssimo nível de operacionalidade e eficácia – tudo à custa de dezenas de noites insones, nervos esfrangalhados e envelhecimentos precoces.

O general Spínola mostrava-se particularmente atento à divulgação, pelos meios de comunicação social, da sua acção governativa e do seu modo de fazer a guerra. Quase sempre seguido pela imprensa e pelos meios televisivos, raro era o dia em que não tomava lugar num helicóptero para visitar um ou mais destacamentos militares, contactar populações nativas, inspeccionar a instrução de novas companhias de milícias, presidir a juramentos de bandeira ou inaugurar vários melhoramentos no território.

Tudo isto  lhe granjeou, na Guiné, em Portugal e em muitos países estrangeiros, um prestígio imenso e uma auréola de “herói militar” que o transformou na personagem central de numerosas reportagens e figura frequentíssima em capas de revistas.

Otelo, porém, admitindo embora as excelsas qualidades militares do general, achava que este as aplicava, embora invocando permanentemente “a Pátria”, em exclusivo proveito próprio, para seu engrandecimento e satisfação narcísica da sua vaidade e da sua ambição pessoal. Os seus defeitos sobrepujavam as qualidades (…) Medularmente vaidoso e autoritário, sempre o reconheci totalmente incapaz de se atribuir o mínimo erro ou de debitar a mais suave autocrítica. Sendo detentor da razão e da verdade absolutas, era com displicência e sem remorso que liquidava o bode expiatório escolhido para arcar com as responsabilidades de qualquer falhanço pessoal.

Spínola passando revista a tropas guineenses do Exército Português

 A propósito da irresistível (por vezes quase suicida) inclinação de Spínola para o exibicionismo e a auto-promoção, Otelo de Carvalho narra um extraordinário episódio ocorrido entre o general e um membro das milícias africanas, na povoação de Tite, margem sul do rio Geba.

Por essa altura, em Janeiro de 1971, estava de visita à Guiné-Bissau um jornalista norte-americano, Jimmy Hoagland, correspondente do Washington Post em Nairobi. Otelo, que dominava bem o idioma inglês, servia-lhe de cicerone nas suas andanças pela colónia. Num dia em que o general Spínola tinha resolvido ir a Tite para assistir à sessão final de instrução da milícia africana, Otelo levou o visitante até lá e apresentou-o ao comandante-chefe.

Spínola passou revista aos novos combatentes, falou à formatura e presenciou com agrado as evoluções de ordem unida. De repente, perguntou: Qual é, de todos os instruendos, o melhor atirador? Os oficiais responsáveis fizeram avançar um negro baixo, de olhos vivos: É este, meu general. Chamamos-lhe “o Americano”. Jimmy Hoagland achou graça à coincidência e houve gargalhada geral entre os circunstantes.

Spínola perguntou ao rapaz: Então, olha lá: como é que gostas mais de fazer fogo com a espingarda? De pé, de joelhos, deitado ou sentado? O soldado respondeu que preferia ficar deitado no chão. Bom, então agora quero ver a tua pontaria a cem metros do alvo. Deitas-te aqui e vais apontar e disparar para o alvo que eu indicar.

O soldado obedeceu, encostou a arma à cara e preparou-se para fazer fogo. Ante o espanto geral, o general encaminhou-se calmamente para a zona dos alvos-silhueta, a cem metros de distância, e postou-se junto de um deles. O comandante do batalhão, aflito, apressou-se a acompanhá-lo, mas o general ordenou: Vá lá pró pé dos outros. O comandante, um tenente-coronel, insistiu em ficar, mas Spínola não esteve pelos ajustes. Vá lá para trás, já lhe disse. O comandante, que suava frio, retirou enfim.

Spínola junto dos alvos da carreira de tiro

O general apontou com o pingalim para um dos alvos, a um escasso metro de distância dele, e comandou: Estás a ver este? Atira para ele.
O comandante do batalhão, cada vez mais angustiado, torcia as mãos. O Americano, de olhos esbugalhados, esperava a ordem para disparar. Spínola impacientou-se: Então o que é que há?
O comandante ripostou: Estamos à espera de que o meu general saia daí!
Spínola, furioso, voltou à carga: Não saio nada daqui. O gajo que dispare. Se é bom atirador, não falha o alvo. Vamos lá, depressa.
Jimmy Hoagland, o jornalista, perguntava a Otelo: Mas o homem é doido ou quê? Ele sabe que o “Americano” só tem 49 dias de instrução acelerada e nunca tinha visto antes uma espingarda?

O comandante do batalhão, sem outra saída, deu finalmente voz de fogo e fechou os olhos. Spínola, ao lado do alvo, não se mexia. O Americano disparou uma, duas, três… dez vezes.
Após cada um dos dez tiros, o general apontava o impacte da bala com o pingalim e elogiava o atirador – que não falhou uma única vez.

Toda a gente soprou de alívio quando a série de disparos terminou e Spínola chamou toda a gente para que se apreciassem os resultados. O Americano passara no teste – e o general convencera-se de que também passara no teste do jornalista norte-americano.
Piscando o olho a Otelo, revelou o que lhe ia na alma: Então o que disse o jornalista disto? Ficou de boca aberta, não? Nunca tinha visto uma coisa assim.
Otelo retorquiu: Ele já me deu a sua opinião.
- Ah! Sim? E então?
- Diz que o meu general é doido.
E Otelo rematou assim a narrativa: Spínola, feliz, exultante, ria à gargalhada. Traduzi para Jimmy. Riu também.


Veja mais um episódio passado entre estas duas personagens - aqui

Saiba mais sobre o general António de Spínola - aqui
Saiba mais sobre o coronel Otelo Saraiva de Carvalho - aqui


sexta-feira, 30 de julho de 2021

JOÃO AFONSO - Lembranças portuguesas de Moçambique...

 


"Morrer em Zanzibar"
(João Afonso)

Português nascido em Lourenço Marques,
actual Maputo,
Moçambique,
em 1965
(ver mais - aqui)


As histórias que contavas lá da aldeia a bola no telhado da vizinha o branco no amarelo da eira e a calça sem bainha

A varanda e a calça sem bainha
a semana na baía
a pesca à linha
a vizinha,
o que querias da montanha

Que pensamento querias da montanha fugiste um dia p'ra Kilimanjaro seria o jeito sábio dum cocoana a falar sob um céu claro a marimba, a falar sob um céu claro a madeira, de pau preto um aparo a montanha vou de boleia em boleia Agora vou de boleia em boleia agora vou voltar a ser menino parar, ouvir silêncios sobre a areia visitar-te em S. Francisco Sobre a areia, visitar-te em S. Francisco lua cheia a subir tudo o que lembro a gavinha, numa noite de Dezembro Deixaste o sol na praia de Inhambane no cais da ponte o dia do vapor amigos que p'ra longe a pátria bane num retrato de esplendor Ventoinha, num retrato de esplendor casuarina, quinino saga e calor a cantina com o sabor e fico com o sabor das leituras percorro a vossa esteira pelo mar com um baú de histórias de aventuras vou morrer em Zanzibar...

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Angola, a UNITA e o MPLA nos "Jogos Africanos" de Jaime Nogueira Pinto (Um livro notável)

 



Embora aborde também a situação militar e política de Moçambique e da Guiné-Bissau nos derradeiros anos do domínio colonial português (que teve os dias contados após a revolução de 25 de Abril de 1974) e no período que imediatamente se lhe seguiu, Jogos Africanos, a excelente obra de Jaime Nogueira Pinto (JNP) publicada em 2008 por A Esfera dos Livros, assenta sobretudo em  dois robustos pilares narrativos:

- a forte ligação do autor a Angola, “jóia da Coroa” do império, que o levaria a participar, após a independência, como conselheiro político da UNITA (de Jonas Savimbi), na guerra civil que opôs este movimento ao MPLA (de Agostinho Neto e do sucessor deste, José Eduardo dos Santos);

- e, ponto de partida para tudo o mais, o seu fascínio por África e pela história colonial portuguesa.


Tropas portuguesas nas guerras de África.


A ligação a África de JNP começou na infância, como aconteceu a tantas crianças portuguesas da sua geração, e inaugurou-se com o acesso às histórias, reais ou imaginárias, de militares intrépidos e de heróicos exploradores dos sertões.

Num sótão convidativo da residência familiar, na cidade do Porto, descobriu o pequeno JNP um mundo até então ignorado mas de que nunca mais se conseguiria libertar. Nas suas próprias palavras:

Foi aí, entre uma série de itinerários africanos de viajantes portugueses do século XIX, que nos apareceram o Capelo e o Ivens sentados numa sanzala, de chapéu colonial, carabina, pistolão e bota alta. (…) Do mesmo armário saiu-nos o Serpa Pinto em forma de foto-desenho, de cabelo e barbas hirsutos, no seu “Como eu atravessei África” (…) E lá vinha outra vez o explorador, agora sob a legenda “Serpa Pinto e os seus moleques de confiança”, sentado, armado e ladeado por dois negros com bom aspecto, também de carabinas.


Líderes angolanos em 1975: Da esq. para a dir. - Holden Roberto (FNLA),
Jonas Savimbi (UNITA) e Agostinho Neto (MPLA)


Contributo poderoso para a construção mental e sentimental dessa África mitificada, em grande parte apenas imaginária ou já extinta, foi a posterior leitura de “As Minas de Salomão”, de Ridder Haggard, na versão de Eça de Queiroz.

Diz JNP:

Vivi a fundo, com o Eça, este mundo das raças negras guerreiras, dos regimentos zulus ou impis, das danças rituais, das batalhas da colina e de Lu, onde as armas de fogo dos europeus faziam a diferença. E vivi também a morte, sempre tão presente nesta e noutras narrativas de África. A morte à espreita no campo aberto da savana com o leão, nos rios, com o crocodilo, na selva, com as cobras. Ou a que vem dos homens, das setas envenenadas, das emboscadas, dos recontros.


Soldados da UNITA em marcha.

 

O início da guerra em Angola, no ano sangrento de 1961, trouxe a JNP uma outra África: a que, irresistivelmente impulsionada pelos “ventos da História”, caminhava em passos por vezes lentos, mas seguros e imparáveis, para a libertação dos jugos coloniais.

Daí até 1974/1975, os anos do fim colonial, foram 13 anos de guerra implacável em três frentes de combate – na Guiné-Bissau, em Moçambique e em Angola. Em nenhuma das três frentes os portugueses foram militarmente derrotados – a sua capitulação definitiva foi política, depois da revolução ocorrida em Portugal no ano de 1974.


Soldados cubanos em Angola. Ao fundo, o retrato de Agostinho Neto.

 

JNP era, e continua a ser, um homem politicamente situado à direita. Mas pertence a uma direita infelizmente hoje muito rara em Portugal: intelectualizada, reflexiva e moderada, com a qual os adversários conseguem dialogar e discutir sem se desembocar em vias de facto.

Em 1974, porém, o fascínio outrora nascido naquele sótão encantado estava longe da extinção em JNP:

Era a minha segunda África (…) Era um mito, um valor e, como todos os mitos e todos os valores, intocável e indiscutível (…) Defender o Império, o Portugal do Minho a Timor, era para nós, à direita, o mesmo, mas ao contrário, do que era o abandono incondicional do Ultramar para os anticolonialistas da esquerda.


Tropas sul-africanas em Angola.
 

Isto explica, em grande parte, o que foi a insólita e anacrónica "carreira" de JNP no Exército português. Tendo-se oferecido como voluntário para Angola, quando nada o obrigaria a isso, acabou embarcado para a colónia em Julho de 1974 - isto é, depois da revolução, quando o movimento das gentes lusas era já, pelo menos em potencial, de refluxo, de abandono, de liquidação definitiva do império.

A ideia de JNP, naquela altura como sempre, era a de defender o que fosse possível defender para que a ex-“jóia da Coroa” não acabasse em mãos erradas…

Daí as manobras conspiratórias, as alianças fugazes de última hora, os enganos e desenganos – até ao desenlace lógico, o único possível, daquela aventura: a fuga rocambolesca de Angola, pelo sul desértico, acompanhado pela sua esposa (Maria José Nogueira Pinto), acabando tudo em periclitantes refúgios nos territórios sob controlo dos sul-africanos.


Visita à cidade da Jamba. Da esquerda para a direita: Maria José Nogueira Pinto
(esposa do autor), sua irmã Maria João Avillez, Jonas Savimbi, Ana Isabel Savimbi
e Jaime Nogueira Pinto (foto incluída no livro).

 

O livro prossegue, ora em tom dramático, ora em pinceladas de irresistível humor, pelo exílio do autor e da sua família – ele, como tantos outros, já não era bem-vindo no Portugal democrático...

Depois foi a reaproximação a Angola através de uma longa ligação à UNITA, como conselheiro político, numa guerra civil que se estenderia por 26 anos (o dobro da duração da “guerra portuguesa” em África!) e que só findaria com a morte em combate de Jonas Savimbi (22 de Fevereiro de 2002).

Pelo meio fica o relato das andanças de JNP por vários países e da sua intervenção activa no processo político em curso, designadamente os seus contactos com alguns dos principais intervenientes no conflito, incluindo o próprio Savimbi, na mítica (ou mitificada) cidade da Jamba, capital da resistência da UNITA no sudeste angolano.


Tropas da UNITA na Jamba. Ao fundo, a imagem de Jonas Savimbi.

 

O livro de JNP é de muito proveitosa leitura e fornece um contributo indispensável para a compreensão da guerra civil em Angola e das intervenções armadas externas - e directas - no conflito: Cuba do lado do MPLA e África do Sul em apoio da UNITA. E explica de forma clara a evolução político-militar, a nível mundial e no contexto angolano, que levaria à saída dessas forças “exógenas” do campo de luta angolano.

Complementado, por exemplo, pela obra de Margaret Anstee, representante do Secretário-Geral da ONU em Angola (Órfão da Guerra Fria), Jogos Africanos possibilita uma visão tanto quanto possível equilibrada do que foram as eleições de 1992 (relativamente às quais Savimbi sustentou até ao fim ter existido fraude) e do quase imediato massacre em Luanda, pelas forças do MPLA, de importantes dirigentes e de milhares de simpatizantes da UNITA.


Um dos encontros entre José Eduardo dos Santos (MPLA) e Jonas Savimbi (UNITA). Apesar da aparente afabilidade e dos sucessivos "acordos", a paz tinha-se tornado impossível entre estas duas personagens.


Dessas ocorrências trágicas em Luanda resultaram mais dez anos de guerra civil. Ficou claro, depois delas - não obstante os esforços de vários homens e mulheres de boa vontade e da celebração de múltiplos “acordos” MPLA/UNITA –, que o problema de Angola só seria resolúvel por uma de duas formas: 

- ou através da secessão do território, com entrega de cada uma das parcelas divididas aos partidos em conflito;

- ou com o aniquilamento de uma das forças combatentes e a morte do seu chefe – como viria a suceder em 22 de Fevereiro de 2002.

Jogos Africanos, de Jaime Nogueira Pinto, torna isto tão cristalino como a água pura...

A ler e a reler.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Elis Regina e Tom Jobim - Águas de Março

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"São as águas de Março fechando o Verão..."
Vem sendo, desde há cerca de cinquenta anos, uma das composições mais famosas da música ligeira universal.
A mim, para além da lembrança do Brasil, transporta-me sempre para as terras natais de Angola - pela sonoridade, pelas imagens, pela vastíssima coincidência de evocações...

Não é para admirar, se atendermos à ligação histórica e geográfica destes dois mundos, que se fitam eternamente por sobre as águas do Atlântico. De um lado Luanda, do outro Recife; Benguela e Maceió; Namibe e Aracaju; Porto Amboim e Salvador; Sumbe e Ilhéus...

Em palco, dois gigantes da música brasileira, tão prematuramente desaparecidos:

Elis Regina (1945-1982) - voz, garra e sentimento, a Pimentinha de mestre Vinicius de Moraes...
Tom Jobim (1927-1994) - compositor, executante, cantor, um dos progenitores da bossa nova...

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Poema dos Olhos da Amada (Vinicius de Moraes - Brasil)

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Ó minha amada
que olhos os teus.
São cais noturnos
cheios de adeus

são docas mansas
trilhando luzes
que brilham longe
longe nos breus…

Ó minha amada
que olhos os teus.

Quanto mistério
nos olhos teus
quantos saveiros
quantos navios
quantos naufrágios
nos olhos teus…

Ó minha amada
que olhos os teus.

Se Deus houvera
fizera-os Deus

pois não os fizera
quem não soubera
que há muitas eras
nos olhos teus.

Ah, minha amada
de olhos ateus.

Cria a esperança
nos olhos meus
de verem um dia
o olhar mendigo
da poesia
nos olhos teus.

Ney Matogrosso
(Poema dos Olhos da Amada)

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Derramezinhos Cerebrais... (2)

 Recorde mais derrames - aqui




SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1939-1945)

“A Inglaterra não se verá envolvida numa guerra. Durante este ano, ou mesmo durante o ano que vem, não haverá qualquer guerra importante na Europa. Os alemães não se apoderarão da Checoslováquia. Por conseguinte, tratem dos vossos negócios, tenham confiança no futuro e não tenham receio”.
(Daily Express, Londres, 1938)

IMPOSTOS

“É preciso ir buscar o dinheiro onde ele se encontra: os pobres”.
(Alphonse Allais)

RIQUEZA

“Hoje em dia sabemos praticamente tanto sobre a circulação das riquezas como se sabia sobre a circulação do sangue no tempo de Carlos Magno”.
(Alfred Capus, 1920)

POLÍTICOS

“Um bom político é o que é capaz de prever o futuro e que, depois, é também capaz de explicar por que é que as coisas não se passaram como ele tinha predito”
(Winston Churchill, 1959)



ALMA (Perspectiva histórica)

“Para a Igreja, a mulher passou a ser a sequaz de Satanás. Era a impura, a que perdeu a humanidade. O direito canónico declarava que só o homem tinha sido criado à imagem de Deus e que, por conseguinte, a mulher deveria ser a subordinada do homem, quase sua escrava. Desenvolvendo este princípio, a Igreja foi ainda mais longe: no concílio de Mâcon, no ano de 581, a questão que se punha era a de saber se a mulher tinha uma alma e se fazia parte da Humanidade”.
(Madame Avril-de-Sainte-Croix, 1907)
 
MILAGRE

“Fui ao santuário de Lourdes com a minha mulher. Não houve milagre. Voltei com ela”.
(Deymour Brussels, 1991)

 

PARAÍSO

“As mulheres não irão para o Paraíso porque num versículo do Apocalipse está escrito: E haverá no céu meia hora de silêncio!”
(Henry de Montherlant, 1936)

 

RACISMO

“Sou judeu, nova-iorquino, intelectual e de esquerda. Nos Estados Unidos, estas são quatro razões para nos lincharem”.
(Woody Allen, 1992)

Fonte: Antologia da Asneira no Século XX - Jérôme Duhamel - Editado por Publicações Europa-América, Mem Martins, Portugal (ano de 1997)