sábado, 30 de outubro de 2021

Crimes no nevoeiro de Londres - Quem foi "Jack, o Estripador"?

..



Há pouco mais de 130 anos, nos finais do Verão e durante o Outono de 1888, os habitantes da cidade de Londres viveram cerca de três meses de terror, quando uma figura sinistra, surgida das sombras da noite e do nevoeiro, deixou atrás de si um rasto de mulheres assassinadas, uma a uma, da forma mais cruel.
.
Com espantoso sangue frio, o criminoso mutilou a maioria das vítimas e chegou ao ponto de enviar à polícia fragmentos de órgãos humanos acompanhados de mensagens sarcásticas.

Escrevendo com tinta vermelha, gabava-se dos seus feitos, garantia que nunca o apanhariam e, autodenominando-se Jack, o Estripador, inscrevia no remetente: Do Inferno.
.

.

Os crimes ocorreram nas ruas, becos e vielas sujas do bairro de Whitechapel, habitado por uma população pobre e fartamente provido de tabernas, bordéis e antros de ópio.

Muitas jovens, condenadas à miséria, enveredavam por uma vida de prostituição, calcorreando o bairro, noite após noite, década após década, indefesas e precocemente envelhecidas, até que o misterioso "Jack" chegou para lhes trazer o seu inferno.

.

.

A primeira vítima foi Mary Ann "Polly" Nichols, de 42 anos, esfaqueada por uma lâmina de 25 cm no dia 31 de Agosto.

A segunda foi "Dark Annie" Chapman, de 47 anos, minada pela tuberculose e assassinada de forma idêntica, com o mesmo tipo de arma.

Calhou depois a vez a Elizabeth "Long Liz" Stride, de 45 anos, encontrada no chão com um cacho de uvas numa das mãos e alguns doces na outra.

A seguir, na mesma noite de 30 de Setembro, Catherine Eddowes, de 43 anos...

O último dos ataques atribuído a Jack, o Estripador, aconteceu a 10 de Novembro e vitimou Jane "Black Mary" Kelly, a mais jovem das suas presas - 24 anos. 
.


.

O assassino parecia protegido por artes diabólicas. Surgia e desaparecia repentinamente, sem deixar rasto, apesar dos fortes contingentes policiais empenhados no patrulhamento da área. Um dos crimes foi praticado a escassos metros de um agente da autoridade, que não deu por nada...

Comerciantes londrinos, preocupados com os efeitos dos acontecimentos nos seus negócios, instituíram a Comissão de Vigilância de Whitechapel, em que logo se alistaram detectives privados e inúmeros voluntários civis. "Jack" permaneceu, porém, a salvo de todas as diligências.

Não obstante, os peritos conseguiram determinar certos padrões dos crimes.

Concluíram, por exemplo, que o assassino era canhoto e que tinha bastantes conhecimentos de anatomia, pois sabia extrair com precisão órgãos humanos. 

E verificou-se que todos os crimes ocorreram entre as 11 horas da noite e as 4 da madrugada.
Isto não foi contudo suficiente para capturar "Jack".

.


.
Desorientada, pressionada pela imprensa e pela opinião pública, a polícia começou a perseguir gente que, não obstante as suas características e antecedentes, se provaria nada ter a ver com as trágicas ocorrências - criminosos de delito comum, agressores sexuais conhecidos, cirurgiões e talhantes com doenças mentais.
.
Espalhavam-se boatos incontroláveis.
Um deles atribuía as mortes a um neto da rainha Vitória, o duque de Clarence, filho mais velho do futuro rei Eduardo VII, que sofria de alguma instabilidade mental. Os defensores desta pista faziam notar que ele fora internado num hospital de doentes mentais depois do último crime de "Jack"  e que nunca mais de lá saiu.

No entanto, investigações recentes demonstraram que o duque se encontrava a caçar na Escócia na altura em que pelo menos dois dos crimes foram cometidos...



Montague John Druitt
.
.
 
 Poucos dias depois do assassínio de Jane "Black Mary" Kelly (10 de Novembro), a polícia encerrou o caso e a Comissão de Vigilância de Whitechapel recebeu a informação de que o assassino confessara o crime antes de se suicidar, por afogamento, no rio Tamisa.
Contudo, a nota de suicídio, se existiu, nunca foi publicamente exibida. Muita gente suspeitou de que as autoridades tinham engendrado um embuste para proteger alguém - ou o duque de Clarence ou um agente da polícia.
.
Quanto à história do homem afogado, fora na verdade retirado do Tamisa o corpo de um suicida depois do derradeiro assassínio de "Jack".

Tratava-se de um advogado, Montague John Druitt, homem de vida difícil, propenso a perturbações do foro psicológico e conhecido pelo seu  ódio às mulheres.
Para visitar a mãe, internada numa clínica de doenças mentais, tinha de atravessar o bairro de Whitechapel. Isso bastou para o transformar, até aos dias de hoje, no principal suspeito dos crimes de "Jack". Mas o mistério perdurará, provavelmente, para sempre...
.
Quem terá sido, de facto, "Jack, o Estripador"?

.



1 - Jack de Ripper
(Trailer - 1976)


2 - Jack, The Ripper
(Tema musical):
ema musical):.


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Pintores da Península Ibérica (Espanha) - Antonio Abellán




O Mercado






Rumba des Launes
(Manitas de Plata)




Quarteto de Jazz
















Dia de Praia
















A Despedida















Eva















Chuva na Cidade














Os Três Amigos
















Leitores de Jornais

















Jogadores de Xadrez















A Ceia

















O Baile















A Boda















O Baptizado
















A Família no Sofá















As Três Idades


terça-feira, 26 de outubro de 2021

Poema para Galileu (António Gedeão - Portugal)

 


Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te?
A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… Eu sei…
As margens doces do Arno
às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileu Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita
num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar
(que disparate, Galileu!)
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa
ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.


Estava agora a lembrar-me, Galileu,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos,
hirtos,
de toga e de capelo
a olharem-te severamente.

Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível
que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando num perigo
para a Humanidade
e para a civilização.

Tu, embaraçado e comprometido,
em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites
e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas
(parece-me que estou a vê-las),
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.

E tu foste dizendo a tudo que sim,
que sim senhor,
que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado
e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite
louvores à harmonia universal.

E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo,
na própria intimidade do teu pensamento,
(livre e calma),
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.

Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juízes,
grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo,
empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.

Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer,
homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.

Por isso, estoicamente,
mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias,
a todos os contratempos,
enquanto eles,
do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.

António Gedeão - Lisboa, Portugal (1906-1997)

Oiça este poema dito por Mário Viegas:


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Grandes fados e canções de Portugal - MARIA TERESA DE NORONHA ("Fado das Horas")




(1918-1993)




Chorava por te não ver
Por te ver eu choro agora

Mas choro só por querer
Querer ver-te a toda a hora

Passa o tempo de corrida
Quando falas eu te escuto

Nas horas da nossa vida
Cada hora é um minuto

Quando estás ao pé de mim
Sinto-me dona do mundo

Mas o tempo é tão ruim
Tem cada hora um segundo

Deixa-te estar a meu lado
E não mais te vás embora

P'ra meu coração, coitado
Viver na vida uma hora
..........

Saiba mais sobre Maria Teresa de Noronhaaqui

sábado, 23 de outubro de 2021

Um herói universal - Aristides de Sousa Mendes no Panteão Nacional (Lisboa)

 

Aristides de Sousa Mendes (1885-1954)

Na passada 3.ª feira, 19 de Outubro, deram entrada no Panteão Nacional de Lisboa, em justíssima homenagem, os restos mortais do antigo diplomata português Aristides de Sousa Mendes.

Nascido em Cabanas de Viriato (distrito de Viseu), Sousa Mendes era, em 1940, cônsul de Portugal em Bordéus.

Com o avanço e o triunfo das tropas alemãs em França, milhares de refugiados, maioritariamente judeus, acorreram àquela cidade e procuraram obter vistos de saída que lhes permitissem escapar à perseguição das hordas nazis.

Nesse tempo, Portugal era governado por Salazar, que havia declarado a neutralidade do país face ao conflito em curso. Sousa Mendes estava assim proibido de conceder vistos de entrada em Portugal.

A consciência do diplomata e os seus valores humanitários acabaram por impor-se. Consciente de que arriscava a carreira e a tranquilidade familiar, Sousa Mendes desobedeceu ao ditador português e concedeu, por sua iniciativa, milhares de vistos que salvaram outras tantas vidas e possibilitariam, no futuro, a constituição de famílias que, sem ele, nunca teriam existido.

Salazar não perdoaria o gesto sublime - que, para ele, não passara de um acto de intolerável rebeldia.

Aristides de Sousa Mendes acabaria exonerado e perseguido, sendo praticamente impedido de ganhar a vida em Portugal. Morreria pobre e só, num hospital de Lisboa.

Em Israel, há muito sabiam do que lhe era devido. Por isso o consideraram Justo entre as nações e plantaram árvores em sua memória.

Em Portugal, o reconhecimento do seu gesto ímpar foi chegando com maior lentidão, vários anos depois da revolução de Abril de 1974.

A homenagem agora prestada, com a transladação para o Panteão Nacional, chega 67 anos depois da sua morte...

Saiba mais sobre este homem admirável, que honrou Portugal e se tornou expoente dos melhores e mais puros valores universais - aqui.


Panteão Nacional (Lisboa)
A nova e justa casa de Aristides de Sousa Mendes


A cerimónia da transladação foi acompanhada por intervenções do coro do Teatro de S. Carlos, que interpretou vários excertos do Requiem de Gabriel Fauré. Um deles foi o In Paradisum, que aqui lembramos:


sexta-feira, 22 de outubro de 2021