"Durante o século XVI, os Hereros, pastores negros que viviam na região dos Grandes Lagos, no Leste de África, voltaram costas aos solos gastos do que havia sido até essa altura a sua pátria. Deram então começo com o seu gado a uma extensa viagem para sudoeste, em busca de pastos e sobrevivência.
Segundo o que se presume ter sido um dos seus itinerários, irromperam pelo que viria a constituir, muitos anos mais tarde, a fronteira oriental de Angola. Rumando a ocidente, atravessaram o coração do Bié, contornaram por norte os domínios das tribos nhanecas-humbes e desceram enfim do planalto em direcção ao mar, um pouco abaixo da actual Benguela.
Achavam-se agora numa faixa de território espartilhada entre as vagas do Atlântico e as cadeias montanhosas da Chela. Era uma imensidão escalvada e pedregosa, crestada de mil sóis, com pouco mais de uma centena de quilómetros de largo nalguns pontos.
A vegetação, definhada e triste, animava-se a espaços com manchas de arbustos e arvoredos ralos. Para os lados do mar desdobrava-se um cordão arenoso de enseadas e baías, divididas por arribas de um dourado vivo, confinantes com o deserto do Namibe. Na parcela mais meridional deste mundo inóspito estendiam-se grandes dunas movediças, a que as ventanias salgadas arrancavam turbilhões espessos que encobriam a luz solar (...)
Secos, altivos e ferozmente independentes, os Cuvales chegaram ao território com as suas mulheres de invulgar beleza - os olhos amendoados e cintilantes, o sorriso enigmático, a cabeça coberta pelo gracioso chapéu de pele de carneiro - e procederam sem delongas à conquista das áreas mais fecundas. (...)
Senhores de uma nova pátria, desembaraçados de qualquer oposição séria, os Cuvales, tal como os restantes hereros, disseminaram pelo território a sua lei (...)." (*)
(*) FONTE - José Bento Duarte - Senhores do Sol e do Vento - Histórias Verídicas de Portugueses, Angolanos e Outros Africanos - Editorial Estampa - Lisboa, 1999
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