domingo, 15 de julho de 2007

Miguel Torga - Poemas Ibéricos (Cortés)

Cortés

Queimar primeiro as naus da retirada.
Depois, o próprio crime
Agiganta e redime
O criminoso.
É um repto ao futuro...
Um acto absoluto,
Puro,
De tão cego e tão bruto.

Assim o herói desenha o seu perfil no tempo:
Brônzea fisionomia
Desumana.
Eterna crispação que desafia
A descuidada paz quotidiana.

Sangrento é o pé que em vez de caminhar
Ocupa.
Num México qualquer,
Numa hora de fúria ocidental,
Sem visível motivo,
Amanhece um destino pessoal
E anoitece um destino colectivo.

(Miguel Torga - Poesia Completa - Dom Quixote, Vol II)

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