Miguel Torga nasceu em São Martinho da Anta, proximidades de Vila Real, Trás-os-Montes, em Agosto de 1907, e faleceu em Janeiro de 1995.
Era prosador e poeta à maneira da sua terra nortenha. Esquivo, face angulosa, cheio de esquinas, grandioso e duro, esmagador como as fragas natais.
Um dia pôs-se a mirar em redor com um olhar grande e abrangente, nostálgico da terra antiga e vasta dos antepassados. A terra próxima alargou-se-lhe até à Hispânia velha e total, herdeira de Visigodos, mãe de nações de aventureiros, avó de povos morenos longínquos, para lá do mar. E, porventura sentado numa fraga rasa, criou este espantoso poema:
Ibéria
Terra.
Quanto a palavra der, e nada mais.
Só assim a resume
Quem a contempla do mais alto cume,
Carregada de sol e de pinhais.
Terra-tumor-de-angústia de saber
Se o mar é fundo e ao fim deixa passar...
Uma antena da Europa a receber
A voz do longe que lhe quer falar...
Terra de pão e vinho
(A fome e a sede só virão depois,
Quando a espuma salgada for caminho
Onde um caminha desdobrado em dois).
Terra nua e tamanha
Que nela coube o Velho Mundo e o Novo...
Que nela cabem Portugal e Espanha
E a loucura com asas do seu Povo.
(Miguel Torga - Poesia Completa - Vol. II - pág. 245 - Publicações Dom Quixote)
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