“Quando, em 1768, Luís XV conseguiu reunir a Córsega à França, como não suspeitou ele de que o fundador de uma quarta dinastia nasceria lá um ano depois da sua nova aquisição?
Mas - e se a anexação não tivesse tido lugar?
Em França, eram numerosos os que a não desejavam, considerando-a inútil e embaraçosa.
Se tivesse prevalecido a sua opinião, a ilha ou cairia nas mãos dos ingleses ou seria independente sob o comando de Paoli.
Qual teria sido nesse caso a sorte de Napoleão?
Uma vida obscura, no meio das rivalidades dos clãs, e, quando muito, a propriedade de alguns olivais e de uns quantos pés de vinha. Provavelmente, funções medíocres e honoríficas, a exemplo de seu avô Ramolino, que foi inspector de pontes e calçadas por conta da República genovesa.
E os Ingleses? Esses, nem sequer há a certeza de que tivessem dado um uniforme ao jovem indígena.
Quanto à possibilidade de pôr a sua espada ao serviço de um país estrangeiro, ter-lhe-ia decerto faltado a educação militar. Ou tê-la-ia Napoleão recebido?
Sem a França, o seu génio não se teria revelado.
A anexação constituiu o seu primeiro golpe de sorte, pois uniu a Córsega a um país suficientemente liberal, confiante e generoso para abrir as suas melhores escolas aos franceses de última hora.
Além disso, o país atravessaria uma fase de perturbação precisamente na data em que o jovem ajacciano atingia os vinte anos. E esta vasta desordem viria a oferecer oportunidades de inauditos destinos aos indivíduos bem dotados.
Este homem extraordinário não só sabia o que o seu destino tinha tido de prodigioso, como também possuía consciência da conjugação de ocorrências que haviam sido necessárias para o elevar ao Império e torná-lo sobrinho do rei de quem, lugar-tenente obscuro, ele tinha visto a queda por ocasião da jornada do 10 de Agosto.
Este homem extraordinário não só sabia o que o seu destino tinha tido de prodigioso, como também possuía consciência da conjugação de ocorrências que haviam sido necessárias para o elevar ao Império e torná-lo sobrinho do rei de quem, lugar-tenente obscuro, ele tinha visto a queda por ocasião da jornada do 10 de Agosto.
Que romance, no entanto, foi a minha vida!, exclamará, no momento do epílogo.
De uma outra vez, em Santa Helena (ver aqui), dizia que passariam mil anos antes que as circunstâncias que se tinham acumulado sobre a sua cabeça viessem a escolher um outro de entre a multidão para o elevar assim tão alto (…).” (*)
(*) Napoleão – Jacques Bainville (1879-1936)
(Publicado em Portugal por Editorial Aster, Lisboa, 1960)
1812 - Abertura
(Tchaikovsky):
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