Dia 22 de Abril de 1500 - Achamento do Brasil. Recriação do primeiro encontro com os índios (23 de Abril). |
O relato da chegada dos navios de Pedro Álvares Cabral ao litoral brasileiro (região depois conhecida por Porto Seguro, no sul do estado da Bahia) evidencia que os navegantes, desgastados por uma viagem de mais de quarenta dias, se supuseram encaminhados para uma qualquer espécie de paraíso terrestre.
De acordo com o que escreveu Pêro Vaz de Caminha (ver aqui e aqui), tudo lhes pareceu deslumbrante naquela terra nova - o clima, a beleza natural, as pessoas acobreadas que testemunhavam, pasmadas, mas confiantes, o seu feito...
Caminha gastou algum tempo a descrever aquelas gentes desconhecidas - e o seu relato não podia ser mais benévolo e sugestivo:
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.
Caminha gastou algum tempo a descrever aquelas gentes desconhecidas - e o seu relato não podia ser mais benévolo e sugestivo:
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.
Andavam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar as suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. (...)
O contacto com os pequenos grupos que erravam pela costa convenceu os portugueses de que se achavam perante a gente mais pacífica do mundo - inocente, amável e inofensiva.
As mulheres nuas sorriam com facilidade aos marinheiros, e os homens, também nus, não pareciam nada incomodados com isso. Quando subiram confiadamente a bordo da armada lusitana, alguns deles assustaram-se com a presença de uma galinha cacarejante. Mas depois deitaram-se a dormir tranquilamente e passaram a noite na caravela sem qualquer receio dos seus hospedeiros brancos.
Tudo parecia indicar que aquela gente se tornaria rapidamente colaborante e - tão ou mais importante do que isso - apta a converter-se às crenças religiosas dos invasores da sua terra...
Por essa altura, como é evidente, os portugueses não faziam a mais pequena ideia acerca dos povos que habitavam o território que formaria, um dia, o grande e portentoso Brasil.
Calcula-se que existissem cerca de milhar e meio de tribos pertencentes a 40 famílias linguísticas.
As estimativas mais credíveis sobre a população total apontam para um número a rondar os 3 milhões de almas (praticamente o dobro dos habitantes do Portugal de então).
Com a passagem do tempo, os recém-chegados acabariam por classificar os habitantes em três grupos principais: os tupis, os guaranis e os tapuias.
Os dois primeiros grupos integravam-se num mesmo tronco linguístico (o tupi-guarani). Tratava-se de duas línguas diferentes, mas estreitamente aparentadas, como são, por exemplo, as línguas ou dialectos ibéricos.
Tribos costeiras do Brasil antigo.
Os nomes em itálico referem-se às tribos tapuias, não incluídas no grupo tupi-guarani a que pertenciam as restantes. |
Nas primeiras décadas do século XVI, até ao estabelecimento do sistema das Capitanias do Brasil (1534) - ponto de partida para um processo sistemático de colonização e expansão do território -, os Portugueses foram realizando diversas viagens até à costa brasileira.
Vinham sobretudo para comerciar. Carregavam o precioso pau-brasil (muito utilizado na tinturaria europeia) e adicionavam-lhe outras "mercadorias", como papagaios e macacos.
Os índios, que colaboravam também no abastecimento das frotas, recebiam em troca autênticas preciosidades para o seu quotidiano: facas, facões, machados, enxadas, anzóis, sementes, tecidos, etc.
Esses contactos permitiram que os portugueses conhecessem cada vez melhor o litoral e, acima de tudo, os seus habitantes. Nomes de povos até então desconhecidos passaram a ser-lhes familiares: tupinambás, tupiniquins, goitacazes, carijós, guaranis, tamoios, caetés, potiguares, aimorés e muitos outros.
Tudo indica que os amáveis habitantes que testemunharam a chegada de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro pertencessem à tribo dos tupiniquins.
Tudo indica que os amáveis habitantes que testemunharam a chegada de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro pertencessem à tribo dos tupiniquins.
Os índios distribuíam muito simplesmente o seu tempo disponível: tratavam primeiro de assegurar a sobrevivência material das suas aldeias (300 a 500 habitantes cada uma) com a caça, a pesca e alguma agricultura de subsistência.
Como não tinham necessidade de acumular bens nem possuíam a noção de propriedade privada, reservavam todo o tempo que lhes sobrava para o ócio e a guerra - uma guerra frequente e mortífera, caracterizada por ódios e vinganças recíprocas entre tribos.
Aos poucos, os portugueses foram-se apercebendo das relações de aliança ou de inimizade entre os diversos grupos étnicos. Ao sabor das circunstâncias e dos seus interesses, eles foram forjando as suas próprias alianças com algumas tribos e passaram a interferir nos conflitos tão frequentes no território.
(Continua em 8-Agosto-2020 - aqui)
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