"Uma vez, era ele Presidente e eu jornalista, encontrámo-nos entre cabinas de um avião, num voo presidencial sobrevoando a Ásia. Como sabia que ele gostava de anedotas, perguntei-lhe se sabia a anedota sobre a sua própria morte.
Respondeu-me que não e eu contei-lha:
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Mário Soares morre e vai ter com São Pedro para pedir para entrar no Paraíso. Depois de consultar o seu computador, São Pedro responde-lhe que nem pensar: "Tu foste um pecador horrível, vais é para o Inferno!"
Mas Soares insiste, justifica os seus pecados, pede clemência. E São Pedro reconsidera: "OK, vou pôr-te à prova: durante dez anos, dia por dia, do acordar ao adormecer, tu vais estar sempre ligado à madre Teresa de Calcutá e sem nenhuma relação com mais quem quer que seja. E, daqui a dez anos, se te portares bem, logo se vê."
Sem nenhuma escapatória, Soares aceita. Mas, assim que arranca, de mão dada com a madre Teresa, vê Cavaco Silva de mão dada com Madonna. E, aí, Soares passa-se, volta atrás e diz a São Pedro: "Está bem que eu fui um grande pecador. Mas o Cavaco foi algum santinho para ter como penitência a Madonna?"
Ao que São Pedro lhe responde: "Calma, Mário, essa é a penitência da Madonna!"
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Nessa noite, nesse avião, algures no céu da Ásia, Mário Soares ia-se engasgando a rir com a anedota que eu lhe contei sobre a sua morte.
Estávamos os dois vivos, a Ásia estava lá em baixo e a morte era apenas uma anedota.
Mas não tenho a certeza se agora, voando lá em cima sobre o mundo, ele não estará a desafiar as regras estabelecidas da eternidade."
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Narrado por Miguel Sousa Tavares na "E", Revista do jornal Expresso - Edição 2307, de 14 de Janeiro de 2017, pág. 16 - Número Especial inteiramente dedicado à figura de Mário Soares.
Título do artigo: "O Seu Nome, Liberdade".