sábado, 3 de agosto de 2019

Hernán Cortés e os Astecas - A conquista do México pelos Espanhóis - 2.ª Parte

Hernán Cortés, nascido em Medellín, Espanha, em 1485

Continuação de 27-Julho-2019 (1.ª parte - Ver aqui)

Hernán Cortés, o homem que em breve corporizaria os terrores e a desgraça dos Astecas, vivia há anos em Cuba - a ilha do mar do Caribe que, estendida à entrada do golfo do México, entre a Florida e a península do Yucatán, parecia apontar ameaçadoramente, com a sua extremidade ocidental, para as terras longínquas de Moctezuma.

Em Espanha, Cortés iniciara estudos de leis na Universidade de Salamanca, mas não tardou a desistir deles. Dois anos depois trabalhava como escrivão da corte em Valladolid, mas logo concluiu que também não nascera para aquele tipo de existência sedentária. Em 1504 resolveu embarcar para vida mais aventurosa, nas então chamadas Índias Ocidentais, e acabou por fixar-se em Cuba, governada, ao tempo, por Diego Velásquez. Conseguiu, como funcionário do governo, reunir um conjunto considerável de bens, mas estava ainda longe da fortuna que ambicionava.

Por essa altura, os Espanhóis já deitavam olhares cobiçosos para oeste de Cuba. Nos últimos anos, as costas do golfo do México tinham sido bordejadas pelos seus navios e Diego Velásquez, o governador da ilha, achou as informações obtidas suficientemente auspiciosas para mandar expedições à península de Yucatán.
Em 1517 partiu a primeira expedição, comandada por Francisco Hernández de Córdoba, que alcançou fracos resultados. Em 1518 seguiu outra, chefiada por Juan de Grijalva. Ambas tiveram de enfrentar, nalguns locais, a resistência armada dos habitantes. Noutros pontos, todavia, sobretudo no caso de Grijalva, a recepção tinha sido amistosa, sendo mesmo possível reunir, a troco de bugigangas, algumas jóias primorosamente trabalhadas.

Grijalva regressou a Cuba com as jóias e com duas notícias de sinal diferente. Primeira: ele encontrara inesperadamente uns índios que se lhe haviam anunciado como emissários de um misterioso imperador, Moctezuma, que habitava muito para o interior do território. Além das jóias gentilmente ofertadas aos expedicionários, o imperador prometia-lhes amizade.
A segunda notícia era mais inquietante. Num dos ilhéus que exploraram, dentro de uma construção repleta de ídolos, os Espanhóis tinham deparado com uma cena horrorosa - cinco cadáveres de índios, recentemente sacrificados, naquilo que parecia corresponder a um qualquer ritual religioso.


Grijalva achara que correria riscos excessivos se se tivesse fixado num dos locais explorados. O governador Diego Velásquez pensava exactamente ao contrário e repreendeu-o por não ter tentado. Ao mesmo tempo, começou a congeminar o envio de outra expedição, desta vez conduzida por alguém mais expedito. Assim pensando, fixou-se na figura de Hernán Cortés, que, para além de ter colaborado na conquista de Cuba, servira durante algum tempo como seu secretário.

Os objectivos do governador eram múltiplos, mas rodavam todos em torno de um eixo fundamental: o de se criarem condições para a futura ocupação daquelas terras. A expedição deveria encetar relações comerciais com os habitantes; procuraria lançar bases para a sua conversão à fé cristã; instilaria neles o respeito pela grandeza e poderio do rei de Espanha; sobretudo, devia reconhecer a costa em pormenor, sondando as suas entradas e baías com vista a futuras navegações; devia informar-se sobre os produtos da terra, sobre as características dos diferentes povos, sobre as suas instituições e o seu grau de civilização; e devia elaborar acerca de tudo um relatório minucioso, a enviar oportunamente para Espanha, acompanhado de amostras dos produtos passíveis de comercialização. (Nota)

Cortés, convocado para o efeito, agarrou a oportunidade como se fosse a última da sua vida. Empenhou-se a fundo na organização da expedição e gastou nisso praticamente todos os bens que fora acumulando na ilha. A dado passo teve que recorrer a empréstimos, incorrendo numa dívida elevadíssima. Semelhante entusiasmo, associado à sua personalidade autoritária e às ideias próprias que professava - ele orgulhava-se de pensar pela própria cabeça -, começaram a suscitar as desconfianças do governador Velásquez, que se recordou então das fricções que tinham acontecido entre os dois no passado. As intrigas de alguns fizeram o resto. Assim, já convencido de que Cortés poderia transformar-se, em caso de êxito, num rival temível, o governador resolveu retirar-lhe o comando da expedição. Mais do que isso, pensou em metê-lo na prisão.


Cortés, prevenido a tempo, decidiu antecipar-se. No dia 18 de Novembro de 1518 levantou âncora do porto de Santiago de Cuba e fez-se à aventura da sua vida. Durante alguns meses rondou as costas da ilha, detendo-se sucessivamente em Trinidad e La Habana para completar os recursos humanos e materiais de que necessitava.
Diego Velásquez, numa derradeira tentativa de o neutralizar, expediu ordens para que o prendessem durante essas paragens, informando que o destituíra do comando da expedição. Mas não achou ninguém com disposição ou coragem para cumprir tais ordens: o rebelde era já suficientemente poderoso para dissuadir qualquer iniciativa do género.
Quando enfim se achou pronto para partir à conquista do império de Moctezuma, o comandante dispunha de 11 navios, de mais de seis centenas de homens capazes de combater (entre soldados e marinheiros), de 200 carregadores índios e de uns poucos auxiliares negros. O seu poder de fogo era considerável: além das armas individuais, como os arcabuzes, contava com dez peças grandes de artilharia e quatro peças ligeiras (falconetes), tudo servido por municiamento abundante. Seguiam ainda na frota dúzia e meia de cavalos, animais desconhecidos dos Astecas. 

Antes do embarque que os levaria ao Yucatán, Cortés dirigiu uma alocução motivadora aos seus homens. Ele era o tipo de líder que combinava sabiamente as manifestações de afecto e a severidade disciplinadora como suporte do seu carisma natural, o que lhe garantia um ascendente sem sobressaltos sobre os que o seguiam. Por isso o ouviram com credulidade e respeito quando ele lhes prometeu que os conduziria à glória, a mais sublime recompensa a que pode aspirar um homem.
Acreditaram igualmente que Deus - que nunca tinha abandonado os Espanhóis nos seus combates com os infiéis - os salvaria em qualquer provação, ainda que se vissem rodeados por uma nuvem de inimigos. Mas Cortés conhecia profundamente os seus ouvintes, pelo que acrescentou: se alguns ambicionam algo mais do que a fama, a riqueza, sejam-me fiéis como eu vos serei fiel; e prometo que vos farei donos de mais ouro do que aquele que qualquer europeu possa ter visto nos seus sonhos mais ambiciosos.

Esta oratória, assente no zelo religioso e na cobiça, produziu o efeito pretendido. Os expedicionários irromperam em aclamações delirantes e todos se mostravam impacientes por partir. Cortés, satisfeitíssimo com aquele entusiasmo, colocou a frota sob a protecção de S. Pedro e mandou celebrar uma missa.
No dia 18 de Fevereiro de 1519, os navios levantaram ferro e rumaram finalmente à península do Yucatán. 
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Entretanto, em Cuba, Diego Velásquez fervia de raiva. Mas, não se dando por vencido, começou logo a planear mais uma expedição, cujo comando confiaria a Pánfilo de Narváez. A ideia consistia em perseguir Cortés para, quando fosse oportuno, o meter na ordem de uma vez por todas.

(Continua em 10 de Agosto de 2019 - 3.ª Parte - ver aqui)

(Nota) - Itálico transcrito de: William H. Prescott, History of the Conquest of México, 1843, vol. 1

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