sábado, 30 de dezembro de 2023

Saudando o Novo Ano...





… com o Massimo Ranieri, ao vivo, no Estádio Olímpico de Roma.
 
(Atenção ao bis…):

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Feliz Natal



Adeste Fidelis
(Vinde, Fiéis)

(Gravado na Abadia de Westminster)

[Para ampliar a imagem, clique no quadrado do canto inferior direito]


quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

MADY MESPLÉ - "Eu Quero Viver" (Da ópera "Romeu e Julieta", de Charles Gounod)

 

Mady Mesplé (1931-2020)
Saiba mais sobre ela - 
aqui ...


... e maravilhe-se com a sua voz extraordinária no vídeo abaixo:


MADY MESPLÉ
"Eu quero viver"
(De: Romeu e Julieta)
Compositor: Gounod


segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

"Green Book" - O excelente e muito recomendável filme que é uma lição de vida...



Green Book, filme norte-americano realizado em 2018 por Peter Farrelly, baseia-se na história verídica de um improvável convívio - o de um famoso pianista clássico, o negro Donald Walbridge Shirley (interpretado por Mahershala Ali), com o seu motorista e segurança Frank Anthony Vallelonga, um branco de ascendência italiana (Viggo Mortensen).

Os dois actores alcançam desempenhos fabulosos nas quase duas horas de película, conferindo credibilidade absoluta às suas personagens. Sem surpresa, saíram ambos premiadíssimos, tal como o filme, desta aventura cinematográfica. Mortensen, em particular, terá atingido aqui o pico da sua já longa carreira: não obstante a aparência vagamente "nórdica" que herdou do pai, um dinamarquês, ele é irrepreensivelmente convincente no papel do italo-americano a que lhe coube dar vida.

Quanto a Mahershala, sóbrio, seguro e competente, consegue uma incrível "ressurreição" do célebre Don Shirley, num trabalho de excelência que lhe valeu o Óscar de Melhor Actor (Green Book foi contemplado com o de Melhor Filme).

  


O título do filme inspira-se num livrinho à época indispensável a qualquer negro que se deslocasse pelo Sul dos Estados Unidos - aquele Sul profundo da intolerância e da segregação racial onde o poder federal tinha por vezes que intervir, com tropas e de armas na mão, para que alunos de pele mais escura pudessem frequentar certos estabelecimentos de ensino.

O livro (The Negro Motorist Green-Book, de que se vê acima a capa da edição de 1940) foi lançado em 1936 por Victor Hugo Green, um funcionário público. Continha a lista de lugares e serviços a que um afro-americano poderia ter acesso sem receio de ser discriminado ou hostilizado (hotéis, restaurantes, lojas, oficinas mecânicas, garagens, postos de abastecimento de combustível, barbeiros, etc.).

Foi amplamente distribuído e utilizado, pela população a que se destinava, no período compreendido entre 1936 e 1966.




A acção de Green Book decorre em 1962, nos Estados Unidos (estava John Kennedy na Casa Branca). Tudo começa quando Don Shirley se prepara para uma digressão artística que o levará, exactamente, àquele Sul de que falámos. Contrata, então, Frank Vallelonga - momentaneamente desempregado - como seu motorista e, atendendo aos riscos de uma viagem como aquela, também como seu segurança. É claro que Frank Vallelonga recebe, logo à saída de New York, o guia Green Book, que o orientará acerca dos lugares em que poderá entrar com o seu novo patrão.

O filme desdobra-se em vários planos narrativos que se vão sobrepondo e interligando de forma coerente e apelativa. Torna-se desde o início patente a enorme distância que separa Shirley de Vallelonga quanto a estilo e cultura.

O músico, homem de educação refinada e intelectualmente sofisticado, usa linguagem polida e tem modos distintos. Pinta, fala oito idiomas e, para além dos estudos musicais, possui um doutoramento em Psicologia (frequentou a Universidade Católica da América, em Washington, e a Universidade de Chicago).

Por isso, todos o tratam por Dr. Shirley. Quanto à sua valia artística, a crítica é unânime. O compositor russo Igor Stravinsky, rendido ao seu talento, comentou: o seu virtuosismo é digno dos deuses. 

Frank Vallelonga é o típico fura-vidas do Bronx, palavroso (chamam-lhe "Tony Lip"), descuidado nas conversas, praticante de calão e mestre em persuadir interlocutores renitentes, para o que recorre com frequência a expedientes nem sempre recomendáveis. Culturalmente, a diferença é abissal, o que conduz por vezes a situações hilariantes (um dia põe-se a discorrer sobre um tal Joe Pan, depois de ter ouvido ao patrão uma referência a Chopin)...




Uma das linhas mestras do filme é a subtil captação da mudança no relacionamento entre as duas personagens. Ao princípio não passa de uma ligação distanciada, algo tensa e nem sempre muito confiante, de patrão-empregado. Mas vai evoluindo gradualmente até um patamar de mútua e progressiva compreensão, que o tempo se encarregará de transformar em genuína amizade.

Frank Vallelonga oferece a Don Shirley a protecção física de que este precisa (como no dia em que o músico entra inadvertidamente num bar para brancos e é hostilizado; ou noutra ocasião, quando saem de um bar para negros e são alvo de uma tentativa de assalto por parte de dois frequentadores do mesmo).

Mas Frank não se fica pelo papel de guarda-costas. Em momentos de fugaz distensão, ele ensina o patrão a desfrutar dos pequenos e descomprometidos prazeres da vida, como na altura em que, em plena viagem, o convence a comer frango frito (que ele julgava detestar), com as mãos (hábito até então tido por Don como impróprio de gente civilizada).

Em contrapartida, Shirley dá a Frank lições de dicção e de bons modos e culmina auxiliando-o a escrever as cartas que ele vai enviando à esposa, Dolores. Esta passa a receber, para seu enlevo - e efusivo entusiasmo das amigas a quem as dá a conhecer -, missivas elaboradas e ternamente românticas, sem erros de ortografia e com incursões afectivas até então desconhecidas (a correspondência anterior quase se reduzia a uma espécie de relatórios sobre as refeições - pantagruélicas - de Frank, as suas lavagens de roupa nos albergues e a sucinta manifestação das saudades que ele ia tendo dela e das crianças).

É no fecho de uma dessas cartas ditadas por Shirley que ocorre outro momento divertido. Frank pergunta ao músico se pode acrescentar um pós-escrito. Shirley, que se esmerou na feitura daquela epístola amorosa, responde, de cara fechada: Um pós-escrito? Seria como tocar um badalo no fim da 7.ª Sinfonia de Shostakovich… Frank, que não apreendeu a ironia do comentário, conclui: Ah, então quer dizer que fica bem! E adiciona laboriosamente o seu pós-escrito para Dolores...





O pano de fundo da história é o Sul - o Sul profundo -, onde Don Shirley é recebido, em casas senhoriais ou nas salas de espectáculos, por plateias exclusivamente brancas que não lhe regateiam aplausos nem palavras de admiração. É uma das faces do Sul, amena e estimável.

A outra face revela, nos mesmos locais e com as mesmas pessoas, o esgar hediondo de um racismo antiquíssimo, doentiamente entranhado, cheio de contradições na sua visceral e absurda desumanidade. Como naquela mansão magnífica de um homem abastado do Mississippi, em que Shirley é festivamente acolhido como o génio que, de facto, é, mas onde lhe negam o acesso à casa de banho dos anfitriões.

Ou, ainda, no Concerto de Natal do hotel de uma cidadezinha do Alabama, em que centenas de pessoas pagaram para o ver e ouvir e o receberam como a grande "estrela" da noite, mas onde se vê impedido de jantar com os seus admiradores porque a sala do restaurante era reservada a brancos...


Frank Vallelonga testemunha estes incidentes e indigna-se com eles, reagindo-lhes com a violência e a linguagem castiça que lhe é peculiar. Começa a entender o drama do seu patrão - que, em diversas escalas, se reproduz em milhões de seres humanos. Envergonha-se com o procedimento da gente da sua cor, e a sua solidariedade para com Don evolui para um sólido princípio de amizade. Sobretudo quando lhe é dado saber, por experiência própria, que as fronteiras do preconceito possuem linhas muito ténues e que o mesmo pode estender-se a alvos inesperados...



Ainda no Mississippi, a horas tardias de uma noite chuvosa, são parados na estrada por dois agentes da polícia, que não compreendem como pode um branco servir de motorista a um negro. Frank explica, com lógica e simplicidade: Ele é o meu boss, ou seja, é o homem que lhe paga para que ele possa pôr pão na mesa da família.

Intrigado com o seu apelido - Vallelonga -, o guarda pergunta-lhe que nome é aquele. Frank responde que é de ascendência italiana. O semblante do guarda ilumina-se, porque, finalmente, julga ter compreendido: Ah, pois, você também é meio-negro.


Provavelmente, o polícia teria dito o mesmo a um grego, a um português ou a um espanhol. Ali, não pôde dizer mais nada, porque Frank o derrubou impulsivamente com um murro. A cena terminou com os dois, patrão e empregado, presos na esquadra da cidade - Frank pela agressão ao polícia, Shirley por ter violado a lei do recolher obrigatório: naquelas paragens, era proibido aos negros andarem na via pública depois do pôr-do-sol.

Só a intervenção de Robert Kennedy, Procurador-Geral dos Estados Unidos e irmão do Presidente (conhecido de Don Shirley), conseguiu que eles fossem libertados nessa mesma noite.

Quando retornaram a New York, na noite de Natal, Frank Vallelonga era um homem diferente - e, provavelmente, Don Shirley também o era, envolvendo-se na luta pelos direitos civis dos negros e aproximando-se de Martin Luther King.

Apesar de já não serem patrão e empregado, os dois mantiveram a ligação e ficaram amigos para o resto das suas vidas. Morreram, em datas próximas, no ano de 2013: Frank em 4 de Janeiro, com 82 anos; e Shirley em 6 de Abril, com 86.





Oiça 3 peças da banda sonora de Green Book:


1 - Go to the Mardi Gras
(Execução: Professor Longhair)





2 - The Lonesome Road
(Execução: Don Shirley)





3 - Rich Woman
(Execução: Li'l Millet and His Creoles)



segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

You're a Lady...


 

 
You're a Lady (Peter Skellern):

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

sábado, 2 de dezembro de 2023

"Mamã África" (PLAYING for CHANGE)

 


 
Playing for Change
(Mama Africa - Peter Tosh):

























































































































































































































































quarta-feira, 29 de novembro de 2023

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

John Kennedy, presidente dos Estados Unidos da América, foi assassinado há 60 anos. Crime individual ou conspiração?

John Fitzgerald Kennedy (1917-1963)

 
John Kennedy, 35.º presidente dos Estados Unidos, chegou ao aeroporto de Dallas, Texas, às 11:40 de 22 de Novembro de 1963. Na companhia da Primeira-Dama, Jacqueline, do governador do Estado, John Connally, e da esposa deste, Nellie, seguiu depois num cortejo automóvel pelas ruas da cidade.
O ambiente geral parecia desanuviado, mesmo festivo, apesar de serem  visíveis alguns rostos fechados e sombrios num ou noutro ponto do percurso.


Desfile pelas ruas de Dallas


Cerca das 12:30, o carro presidencial fez uma curva apertadíssima, de 120º, para a esquerda, virando da Houston Street para a Elm Street e entrando na Praça Dealey. A velocidade da viatura rondava agora os 15km/hora.

Kennedy levantou o braço direito para acenar a uma criança que o cumprimentava. Nesse momento soaram na praça vários disparos de arma de fogo, que algumas testemunhas descreveriam como "uma rajada". Sobressaltados, alguns bandos de pombos levantaram voo nas imediações. Muitas das pessoas que assistiam ao desfile atiraram-se para o chão, em pânico.


Esquema da Praça Dealey, onde ocorreu o crime


Durante alguns segundos o carro do presidente pareceu prestes a imobilizar-se. Depois ganhou outra vez velocidade e acelerou bruscamente, com destino ao Parkland Hospital. O presidente fora atingido por dois disparos: um no pescoço, tendo a bala saído pela garganta; e outro na cabeça, desfazendo-lhe parte do crânio. O governador Connally fora também atingido, ainda que sem a mesma gravidade.
Por um acaso, a sequência dos disparos que atingiram Kennedy ficou registada em filme por Abraham Zapruder, um cineasta amador que assistia ao desfile.

No Parkland Hospital, os médicos limitaram-se a verificar o óbvio: o presidente não tinha salvação possível e, às 13 horas, foi declarado o óbito. A confirmação oficial surgiu às 13:38.
O governador Connaly, igualmente hospitalizado, acabaria por sobreviver.

Ao início da tarde, já com o corpo de John Kennedy a bordo do Air Force One, o vice-presidente Lyndon Johnson prestou juramento, diante de uma juíza, como 36.º presidente dos Estados Unidos. A comitiva regressou depois a Washington.



Lyndon Johnson presta juramento como presidente a bordo do Air Force One.
Ladeiam-no a esposa e, à sua esquerda, a recente viúva, Jacqueline Kennedy.


Poucos minutos após o atentado, foi emitido por rádio um mandado de captura visando um trabalhador do armazém de livros (Texas School Book Depository) de cujo 6.º andar se pensava terem partido os tiros.

O visado chamava-se Lee Harvey Oswald, de 24 anos.

Oitenta minutos depois do assassínio do presidente, Oswald foi preso na sala de espectáculos onde se refugiara após ter abatido a tiro um polícia, J. D. Tippit, numa rua da cidade.

Nessa mesma 6.ª feira, Oswald foi acusado da morte de Tippit e, também, da do presidente.
O preso negou sempre ter disparado sobre Kennedy, argumentando que estava a ser um bode expiatório.

Oswald nunca chegou a ser julgado. Na manhã de domingo, 24 de Novembro, menos de dois dias depois do assassínio de Kennedy, Jack Ruby, um proprietário de cabaré com estreitas ligações ao mundo do crime organizado (e a muitos dos polícias da cidade, que faziam consumos gratuitos no seu estabelecimento), aproveitou a transferência de Lee H. Oswald para outro edifício e, numa cena transmitida em directo pela TV, assassinou-o a tiro. (Ruby morreria na prisão, aparentemente de cancro, cerca de três anos mais tarde).

O funeral do presidente Kennedy ocorreu a 25 de Novembro, 2.ª feira, em Washington. Ficou sepultado no cemitério de Arlington.


Jack Ruby precipita-se sobre Oswald de revólver em riste e assassina-o na presença de polícias e jornalistas. Crime transmitido em directo para milhões de espectadores de TV.


As circunstâncias do crime que vitimou o presidente dos Estados Unidos - bem como os acontecimentos que se lhe seguiram - suscitaram em muita gente as maiores dúvidas acerca da tese oficial que atribuiu a Lee H. Oswald a responsabilidade exclusiva do assassínio.

Como seria de esperar, as sombras do caso contribuíram para o surgimento de "teorias da conspiração" em que Oswald reparte sucessivamente culpas e cumplicidades com uma série de entidades. Mafia, CIA, FBI, União Soviética, Fidel Castro, polícia de Dallas, cubanos exilados, grupos económicos poderosos e o próprio governo dos Estados Unidos foram sendo apontados como possíveis responsáveis ou apoiantes do crime - às vezes por acção, outras por omissão.

Tenha sido ou não Oswald um matador isolado, o sucedido colocou pelo menos a nu o surpreendente comportamento das entidades encarregadas de proteger o presidente - Serviços Secretos e polícia local.

Dallas era, desde há tempos, uma cidade perigosa para Kennedy, que tinha ali muitos inimigos que não faziam segredo da aversão que nutriam por ele. Chamavam-lhe "comunista" em panfletos postos a circular recentemente e certa imprensa dedicava-lhe artigos violentos. Numa montagem fotográfica apresentavam-no de frente e de perfil, como se fosse um criminoso procurado ou um alvo a abater.



A Dealey Plaza (Praça Dealey) no centro dos acontecimentos.
Compare com o esquema acima (Clicar na imagem para ampliar).



Face ao que antecede, a protecção do presidente deveria ter sido garantida em grau máximo. No entanto, quase tudo o que foi feito a esse respeito violou as regras de segurança mais básicas: um carro aberto, a progredir vagarosamente por ruas repletas de gente, apertadas entre edifícios com escassa vigilância, e - imprudência fatal! - a fazer uma entrada lentíssima na Praça Dealey.

Diante de um quadro destes, qualquer agente principiante reconheceria que, naquele dia, John Kennedy estava a ser conduzido na direcção daquilo a que, em gíria militar, se chama a "zona de morte" de uma emboscada.

Ao entrar na praça como entrou (virando da Houston Street para a Elm Street, com o carro quase parado), o presidente ficou enquadrado num espaço-alvo ideal, onde um ou mais atiradores, devidamente ocultos e com caminho de fuga assegurado, o teriam à sua mercê.

Admitindo que foram disparados 3 tiros a partir do Texas School Book Depository (como fez a Comissão Warren, que investigou o caso por decisão do presidente Lyndon Johnson); admitindo ainda, de acordo com testemunhos credíveis e os elementos materiais disponíveis, que foi disparado pelo menos mais um tiro a partir da sebe e das árvores que encimavam o montículo relvado à direita do automóvel presidencial (junto à famosa "pérgula") - então conclui-se que houve uma emboscada e que ela foi montada em "V", com duas linhas de tiro que se entrecruzavam para prevenir eventuais falhanços e não deixar escapar o alvo.

A forma de tentar evitar o que sucedeu era recusar o percurso pela Houston Street e a viragem para a Elm Street, condicionando o trânsito e fazendo com que o desfile prosseguisse a direito, pela Main Street, passando por baixo da ponte ferroviária existente no local.
Paralelamente, deveria ter sido montada uma vigilância reforçada e directa em todos os edifícios da praça que pudessem servir de poiso a eventuais atiradores (seria fácil, pois eram poucos). Nada disso foi feito.

Deste modo, pode garantir-se, com certeza absoluta, que uma de duas coisas ocorreu àquela hora e naquela praça:

a) ou uma clamorosa demonstração da incompetência da polícia e dos encarregados da segurança presidencial;
b) ou a concretização de um plano friamente congeminado para facilitar o sucesso de uma emboscada fatal.




Restam actualmente poucas dúvidas de que Lee Harvey Oswald não agiu sozinho naquele 22 de Novembro e de que se assistiu na Praça Dealey, realmente, ao fatal desenlace de uma conspiração. Perante o que se sabe, a única impossibilidade que existe é a de imputar a responsabilidade máxima do crime a uma entidade ou a uma figura concreta: só a disponibilização total da documentação ainda sob reserva ou o aparecimento de um testemunho ou de uma confissão irrefutáveis o poderia permitir.

Alguns dos protagonistas daquele tempo nunca tiveram dúvidas acerca da existência de uma conspiração. Jacqueline nunca as teve e, sobretudo, Robert Kennedy (o irmão do presidente), também não. Nem Lyndon Johnson, pelo menos ao princípio.
Robert, aliás, passou parte dos anos seguintes a tentar descobrir os responsáveis; e talvez o conseguisse caso tivesse chegado à Casa Branca. Mas foi por seu turno assassinado, a tiro, durante a campanha eleitoral de 1968.

Nos finais da década de 1970, o relatório de uma comissão de investigação da Câmara dos Representantes americana concluiu que havia uma elevada probabilidade de o presidente ter sido alvejado por dois atiradores (o que implicava, automaticamente, ter existido uma conspiração).

O presidente era, sem dúvida, um homem marcado como alvo e estava a ser seguido para um encontro definitivo. Pouco antes do desfecho de Dallas, foram descobertos planos para o abater durante viagens que ele tencionava fazer - uma a Tampa (Florida) e outra a Chicago (Illinois). Pelo menos num dos casos foi detido um indivíduo com perfil muito semelhante ao de Oswald, provavelmente escolhido para ser o bode expiatório de um eventual crime.



Lee Oswald detido no Texas Theatre, 80 minutos depois do atentado.


Apontar Lee Harvey Oswald como actor isolado do crime exige que se aceitem como inocentes e naturais todas as inverosimilhanças, todas as incoerências, todas as omissões, todas as cortinas de fumo e todas as estranhas coincidências detectadas ao longo dos anos por investigadores competentes e descomprometidos.
A começar pelo mandado de captura emitido para os rádios policiais escassos minutos após o assassínio - quando, nesse exacto momento, nada havia ainda de concreto que pudesse ligar Oswald à morte do presidente.

É claro que tudo indica que ele teve uma participação - como atirador ou não - na consumação do crime. Quando, poucos minutos depois deste, Oswald saiu calmamente do Texas School Book Depository e apanhou um autocarro, estava provavelmente em rota de fuga após a emboscada (o mesmo terá feito, através do parque de estacionamento ali existente, o atirador postado junto à pérgula, entre as árvores).
O itinerário da retirada deve ter sido previamente fixado a Oswald por alguém com poder e ascendente para o fazer.

Durante essa fuga aconteceu o encontro de Oswald com o agente Tippit, um episódio muito mal explicado pelas autoridades e que permanece até hoje como um mistério - mistério cuja resolução lançaria jorros de luz sobre o caso.

Relembremos que Oswald tinha tido tempo para ir mudar de roupa no quarto alugado onde vivia e que voltara depois à rua. Estava já bastante longe do local do crime, caminhava sem precipitações e sem chamar a atenção de ninguém, era apenas mais um entre milhares de cidadãos anónimos de Dallas...
O que terá levado o agente Tippit a abordá-lo? Tê-lo-ia seguido, desde o início da fuga, até ali? Mas por que razão assumiria tal iniciativa, se Oswald ainda não era procurado no momento em que abandonou o depósito de livros?
Ou ter-se-á tratado - como sustentam muitos - de um encontro oportunamente marcado?


Lee Harvey Oswald (1939-1963)


Sabe-se, por testemunhos fiáveis, que Oswald se aproximou tranquilamente do carro policial de Tippit e que os dois homens falaram durante certo tempo. Quando o agente saiu da viatura, alguma coisa deve ter alarmado finalmente Oswald - alguma coisa dita ou esboçada por Tippit. O fugitivo terá percebido nesse instante que não estava a ser respeitado o guião que lhe havia sido transmitido. Puxou então da sua arma e abateu Tippit. Antes que este lhe pudesse fazer o mesmo?

Lee Harvey Oswald terá compreendido, nesses segundos terríveis para ele, que já não fazia parte do grupo de caçadores. Provavelmente nunca fizera, ao invés do que o terão levado a crer. Pelo contrário: ele era o alvo, a peça de caça escolhida para abate. Era-o desde o início, independentemente das tarefas - ou das manobras de diversão - que lhe foram sendo atribuídas no decurso da conspiração.
Por outras palavras, ele não terá passado de um bode expiatório pacientemente construído ao longo de meses.

Em pânico, desorientado, já consciente de que o tinham abandonado e deixado entregue a si próprio naquele palco de ilusões e de morte, desatou a correr pelas ruas de Dallas até encontrar refúgio precário numa casa de espectáculos que encontrou aberta. Foi ali que não tardaram a ir buscá-lo.
Era o princípio do seu fim - um fim de que se encarregaria dois dias depois, na manhã de domingo, dentro de uma esquadra da polícia de Dallas, o "gangster" Jack Ruby.
Antes que Oswald resolvesse confessar algo de explosivo e de irremediável aos seus captores...

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Evocação de John Kennedy

Discurso sobre a crise dos mísseis soviéticos instalados em Cuba
O Mundo à beira de uma guerra nuclear
22 de Outubro de 1962
(legendado em português)



Esta intervenção foi considerada como um dos momentos mais relevantes da presidência de John Kennedy - um discurso firme, duro, até ameaçador, sem contemplações para com o que parecia ser - e talvez fosse - uma fortíssima ameaça dos soviéticos aos Estados Unidos e a todo o mundo ocidental.

Entretanto, nos bastidores, desenvolviam-se esforços diplomáticos incessantes entre as duas maiores potências mundiais. Robert Kennedy, o irmão do presidente, desempenhou um papel importante nesses contactos.

A U.R.S.S. acabaria por recuar, fazendo retroceder os navios que enviara para Cuba e procedendo à retirada dos mísseis já instalados na ilha. Mas, em jeito de moeda de troca, os Estados Unidos arranjaram forma de salvar a face do poderoso adversário: ficou prometida a retirada, a prazo, dos mísseis americanos baseados na Turquia.