sábado, 10 de julho de 2021

O projectado e medonho império colonial de Hitler na Europa (Rússia - 1941)

 

Tropas alemãs invadem a União Soviética


O objectivo de construir um império da Alemanha no Leste da Europa, sobretudo à custa da Rússia comunista, era há muitos anos defendido por Adolf Hitler, que se baseava na necessidade de expandir o “espaço vital” do povo germânico.

Ele não fazia segredo da sua admiração pelo império colonial britânico, especialmente pela sua “jóia da Coroa”, a Índia, onde centenas de milhões de seres humanos eram subjugados e “mantidos na ordem” por uns poucos milhares de soldados. A ideia de Hitler consistia em reproduzir na Rússia aquilo que os britânicos tinham feito na Índia.

Ainda que a invasão da União Soviética tivesse sido apresentada ao povo alemão como uma acção preventiva ("fazemos isto antes que eles tomem a iniciativa de nos fazerem o mesmo"), o propósito final era o da construção desse império.

Foi por isso que, a 22 de Junho de 1941, Hitler lançou sobre a União Soviética mais de três milhões de homens, apoiados por milhares de tanques, aviões e veículos blindados.


Hitler examina os mapas das operações militares

As primeiras semanas dos combates pareceram mais do que auspiciosas aos invasores, que aprisionaram centenas de milhares de soldados soviéticos e destruíram no solo grande parte da aviação de guerra de Estaline.

Hitler, e os seus generais, exultavam, considerando que a guerra estava ganha. Chegou a prever-se, tal a velocidade e a mortífera eficácia do avanço, uma desmobilização parcial do exército invasor, já considerado excedentário.

Como relata Ian Kershaw na sua excelente biografia do ditador alemão, este revelou aos que o rodeavam, nessas semanas triunfais, as suas ideias delirantes – e criminosamente desumanas - acerca do sonhado império colonial na Rússia. 

Depois da guerra, cujo final se previa para breve, grandes extensões seriam ocupadas por soldados-camponeses alemães, capazes de cultivarem a terra e de a defenderem em caso de necessidade.

Tropas alemãs na Rússia: um rasto de destruição e morte


A fim de que os alemães tivessem espaço para se instalar, milhões de seres humanos seriam deportados para as terras inóspitas de além-Urais. A sobrevivência desses deslocados não constituía qualquer preocupação para Hitler, para o qual seria preferível que eles morressem à fome: na sua visão doentia, o povo russo era sub-humano e não servia para mais nada além do trabalho forçado imposto pela violência.

O comunismo seria impiedosamente erradicado através da execução sumária de qualquer indivíduo tido como influente ou “perigoso”. Moscovo e Leninegrado (São Petersburgo) seriam arrasadas “para exemplo”.

A Crimeia seria transformada numa espécie de colónia de férias de luxo, para onde os cidadãos alemães viajariam, ao longo de magníficas autoestradas (a construir), nos “carros do povo” que todos possuiriam (os famosos Volkswagen).

Soldados russos a caminho do cativeiro


Quanto à justificação que assistia à Alemanha para fazer tudo isto, Hitler era de uma franqueza brutalmente cruel: o seu direito era o da força. No entendimento dele, um povo culturalmente superior (como ele considerava os germânicos relativamente aos eslavos) não necessitava de outros argumentos para se apoderar das terras alheias…

Segundo Kershaw, ele resumia a questão da seguinte forma:

Se agora causo mal aos russos, a razão é que, caso contrário, seriam eles a causar-me mal. O querido Deus faz com que as coisas sejam assim. Ele, subitamente, atira as massas da humanidade para a Terra e cada um tem de olhar por si próprio e encontrar maneira de se safar. Uma pessoa tira uma coisa a outra. E, no fim, só se pode dizer que o mais forte ganha. Isto é, afinal de contas, a ordem mais judiciosa das coisas.


Última fotografia de Hitler, à entrada do seu "bunker", em Berlim (1945)


Dentro de poucas semanas, este sonho grandioso e maligno principiaria a esfumar-se, uma vez que se provou, em duros combates no terreno, que Hitler e os seus conselheiros tinham subestimado grosseiramente o poderio militar soviético e a capacidade de resistência dos russos.

Menos de quatro anos depois, em finais de Abril de 1945, o ansiado “império colonial alemão na Europa” acabaria reduzido ao espaço exíguo e insalubre de um “bunker” miserável de Berlim, transformado no primeiro túmulo de um ditador louco e suicida…

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