quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Pintores da Península Ibérica (Espanha) - Antonio Abellán




O Mercado






Rumba des Launes
(Manitas de Plata)




Quarteto de Jazz
















Dia de Praia
















A Despedida















Eva















Chuva na Cidade














Os Três Amigos
















Leitores de Jornais

















Jogadores de Xadrez















A Ceia

















O Baile















A Boda















O Baptizado
















A Família no Sofá















As Três Idades


terça-feira, 26 de outubro de 2021

Poema para Galileu (António Gedeão - Portugal)

 


Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te?
A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… Eu sei…
As margens doces do Arno
às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileu Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita
num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar
(que disparate, Galileu!)
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa
ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.


Estava agora a lembrar-me, Galileu,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos,
hirtos,
de toga e de capelo
a olharem-te severamente.

Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível
que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando num perigo
para a Humanidade
e para a civilização.

Tu, embaraçado e comprometido,
em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites
e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas
(parece-me que estou a vê-las),
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.

E tu foste dizendo a tudo que sim,
que sim senhor,
que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado
e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite
louvores à harmonia universal.

E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo,
na própria intimidade do teu pensamento,
(livre e calma),
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.

Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juízes,
grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo,
empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.

Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer,
homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.

Por isso, estoicamente,
mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias,
a todos os contratempos,
enquanto eles,
do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.

António Gedeão - Lisboa, Portugal (1906-1997)

Oiça este poema dito por Mário Viegas:


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Grandes fados e canções de Portugal - MARIA TERESA DE NORONHA ("Fado das Horas")




(1918-1993)




Chorava por te não ver
Por te ver eu choro agora

Mas choro só por querer
Querer ver-te a toda a hora

Passa o tempo de corrida
Quando falas eu te escuto

Nas horas da nossa vida
Cada hora é um minuto

Quando estás ao pé de mim
Sinto-me dona do mundo

Mas o tempo é tão ruim
Tem cada hora um segundo

Deixa-te estar a meu lado
E não mais te vás embora

P'ra meu coração, coitado
Viver na vida uma hora
..........

Saiba mais sobre Maria Teresa de Noronhaaqui

sábado, 23 de outubro de 2021

Um herói universal - Aristides de Sousa Mendes no Panteão Nacional (Lisboa)

 

Aristides de Sousa Mendes (1885-1954)

Na passada 3.ª feira, 19 de Outubro, deram entrada no Panteão Nacional de Lisboa, em justíssima homenagem, os restos mortais do antigo diplomata português Aristides de Sousa Mendes.

Nascido em Cabanas de Viriato (distrito de Viseu), Sousa Mendes era, em 1940, cônsul de Portugal em Bordéus.

Com o avanço e o triunfo das tropas alemãs em França, milhares de refugiados, maioritariamente judeus, acorreram àquela cidade e procuraram obter vistos de saída que lhes permitissem escapar à perseguição das hordas nazis.

Nesse tempo, Portugal era governado por Salazar, que havia declarado a neutralidade do país face ao conflito em curso. Sousa Mendes estava assim proibido de conceder vistos de entrada em Portugal.

A consciência do diplomata e os seus valores humanitários acabaram por impor-se. Consciente de que arriscava a carreira e a tranquilidade familiar, Sousa Mendes desobedeceu ao ditador português e concedeu, por sua iniciativa, milhares de vistos que salvaram outras tantas vidas e possibilitariam, no futuro, a constituição de famílias que, sem ele, nunca teriam existido.

Salazar não perdoaria o gesto sublime - que, para ele, não passara de um acto de intolerável rebeldia.

Aristides de Sousa Mendes acabaria exonerado e perseguido, sendo praticamente impedido de ganhar a vida em Portugal. Morreria pobre e só, num hospital de Lisboa.

Em Israel, há muito sabiam do que lhe era devido. Por isso o consideraram Justo entre as nações e plantaram árvores em sua memória.

Em Portugal, o reconhecimento do seu gesto ímpar foi chegando com maior lentidão, vários anos depois da revolução de Abril de 1974.

A homenagem agora prestada, com a transladação para o Panteão Nacional, chega 67 anos depois da sua morte...

Saiba mais sobre este homem admirável, que honrou Portugal e se tornou expoente dos melhores e mais puros valores universais - aqui.


Panteão Nacional (Lisboa)
A nova e justa casa de Aristides de Sousa Mendes


A cerimónia da transladação foi acompanhada por intervenções do coro do Teatro de S. Carlos, que interpretou vários excertos do Requiem de Gabriel Fauré. Um deles foi o In Paradisum, que aqui lembramos:


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Quando Napoleão Bonaparte devassava a Europa ... (Extraído de "El-Rei Junot" ) (Raul Brandão - Portugal)



“Napoleão marcha sobre o mundo. Revolve tudo. Assola, destrói e saneia. Remexe as nações bolorentas e espessas, os povos no marasmo, as cortes de aparato: a Espanha, a Alemanha, a Itália e o Papa, tudo a soldadesca num ímpeto derruba, levando-o em cacos diante de si.

Sobre a Europa extravasa esses homens, numa perpétua agitação, a geração do Terror, e cria outras ideias, espalha outras ânsias. Por cima das ruínas e da morte paira um desmedido sonho de aflição…

Porém a matéria só na verdade gera a matéria. O que sacode as almas é uma força espiritual, que Napoleão, colocado por acaso na sua frente, desvirtua e desnorteia. O mundo transformou-se – o homem interior é que se transformou, e só assim se compreende, primeiro a exaltação dos exércitos napoleónicos; depois as vitórias consecutivas, as hostes arcaicas em farrapos, as cortes desmanteladas, os generais derrotados, a Europa revolvida de lés a lés. (…)

(…) São estas as personagens: a Inglaterra com o mar, as esquadras, os cofres abarrotados de oiro e um misto de ódio, de orgulho e de sonho; Bonaparte com exércitos após exércitos, levas impetuosas e exaltadas.

A Europa atónita espera, desconfiada e dividida, com as suas cortes inimigas, cheias de preconceitos e rancores, de espiões, de intrigas, de generais derrotados, de diplomatas cerimoniosos levados à ponta de baioneta, e de agentes de Pitt com os bolsos cheios de oiro, concitando obstáculos e atritos entre farrapos do cenário antigo – docéis, tronos, cerimónias, pompas.

Isolar a ilha, separá-la do mundo e arruinar-lhe o negócio, era o plano de um; era o plano do outro reunir os escorraçados e os batidos, insuflar-lhes vida e oiro – oiro sem fim, oiro às pazadas – até aniquilar a França.

A Inglaterra há-de ser sempre o inimigo de todos os poderosos que se atrevam a sonho maior que o seu. (…)”


El-Rei Junot - Raul Brandão (1867-1930) (Publicado por Atlântida Editora, Coimbra, Portugal, 1974).

Saiba mais sobre Raul Brandãoaqui




terça-feira, 19 de outubro de 2021

Pintores Portugueses - Silva Porto (1850-1893)



Guardando o Rebanho









Suite Alentejana (Fandango)
(Luís de Freitas Branco)












Colheita - Ceifeiras















Apanha do Sargaço











A Charneca de Belas ao Pôr-do-Sol















Retrato de Menina
















Recanto de Praia

















A Ceifa















Na Cisterna
















Carro de Bois

















No Areinho - Porto













Volta do Mercado















Pequena Fiandeira Napolitana
.

António Carvalho da Silva foi um pintor português (Porto, 1850-1893) que adoptou como apelido o nome da sua cidade natal, ficando conhecido por Silva Porto.

Estudou na Academia Portuense de Belas Artes, estagiou em Paris (1876-1877) e em Itália (1879).

Em 1879 regressou a Portugal. Aureolado de prestígio, foi convidado a ensinar na Academia de Lisboa como mestre de Paisagem.

Em 1880 realiza uma exposição de quadros paisagísticos inundados de luz, tendo D. Fernando adquirido o quadro Charneca de Belas ao Pôr-do-Sol.

Fez parte do chamado Grupo do Leão, juntamente com António Ramalho, João Vaz, José Malhoa, Cesário Verde, Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro.

Entre outros galardões, recebeu a medalha de ouro da Exposição Industrial Portuguesa de 1884 e a primeira medalha do Grémio Artístico.

A sua pintura, cheia de luz e de cor, é sobretudo inspirada na Natureza, sendo tido como um dos fundadores do naturalismo em Portugal.

Encontra-se largamente representado no Museu do Chiado (Lisboa) e no Museu Nacional de Soares dos Reis (Porto).

Existe uma rua com o seu nome, na freguesia de Paranhos (Porto) e o Parque Silva Porto na freguesia de Benfica (Lisboa).