Jan van Bijlert - Holanda (1597-1671)
Pequenas e grandes histórias da História e mensagens mais ou menos amenas sobre vidas, causas, culturas, quotidianos, pensamentos, experiências, mundo...
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Gastronomia Ibérica - "Pulpo/Polvo a la Feria" (ou "a la Gallega")
Ingredientes para 4 pessoas:
2 kgs. de polvo
1 cebola pequena
1 chávena de azeite
1 colher cheia de pimentão doce
1 colher cheia de pimentão picante
Sal grosso
Método:
Lavar o polvo.
Batê-lo para que amacie.
Pôr água a ferver com a cebola num tacho.
Pôr água a ferver com a cebola num tacho.
Quando levantar fervura introduzir o polvo, retirando-o duas ou três vezes e voltando a pô-lo na água.
Deixar cozer durante 45 minutos, picar e, se estiver tenro, retirar do fogo.
Deixar repousar durante 15 minutos.
No momento de servir, retirar o polvo do tacho e cortá-lo em rodelas não muito grossas (figura acima).
Temperar com sal e azeite e polvilhar com o pimentão (a quantidade é variável, consoante o picante que se deseje).
(Pode ser acompanhado por “Pimentos de Padrón” – foto abaixo).
Deixar cozer durante 45 minutos, picar e, se estiver tenro, retirar do fogo.
Deixar repousar durante 15 minutos.
No momento de servir, retirar o polvo do tacho e cortá-lo em rodelas não muito grossas (figura acima).
Temperar com sal e azeite e polvilhar com o pimentão (a quantidade é variável, consoante o picante que se deseje).
(Pode ser acompanhado por “Pimentos de Padrón” – foto abaixo).
sábado, 24 de outubro de 2009
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Grandes Quadros (Manuel Castellano - Espanha)
Manuel Castellano (Espanha) - 1828-1880
Aberturas de Grandes Livros - "A Vida de D. Pedro I" (Octávio Tarquínio de Sousa - Brasil)
“O casamento do infante D. João, filho segundo de D. Maria I, rainha de Portugal, com a infanta D. Carlota Joaquina de Bourbon, filha dos príncipes das Astúrias, foi tipicamente um negócio em que não entraram em conta as aspirações, a maneira de ser e de sentir, a vontade e o desejo dos noivos.
Apenas o interesse político, a razão de estado, a conveniência dinástica.
Nenhuma gratuidade de simpatia, nenhuma busca de sentimentos afins, nenhuma atracção de sexo. Casamento por dever, união compulsória.
E ainda por cima o inevitável quinhão de aventura que se liga sempre a esse acto, embora celebrado nas melhores circunstâncias, acrescido pelo total desconhecimento recíproco.
Para cúmulo, certa aversão inicial espontânea a transformar-se muitas vezes em ódio surdo e definitivo. Assim casavam os príncipes.
Em 1783, contava D. João dezasseis anos. O príncipe herdeiro D. José, com seis anos de casado, não tinha prole, o que dava ao irmão mais moço a presunção de suceder-lhe na Coroa.
Em 1783, contava D. João dezasseis anos. O príncipe herdeiro D. José, com seis anos de casado, não tinha prole, o que dava ao irmão mais moço a presunção de suceder-lhe na Coroa.
Logo se começou a cuidar de casar também D. João. Cogitou-se de fazer sua mulher uma princesa filha do Grão-Duque da Toscana. Mas a esposa que lhe tocou afinal foi a infanta Carlota Joaquina, que melhor aproximaria as casas reinantes e os reinos de Portugal e Espanha.
Em 1785, depois das dispensas de Roma, estava realizado o enlace. O noivo ia completar dezoito anos e a noiva apenas dez. Um rapazola e uma menina impúbere.
Não faltaram os festejos comemorativos numa e noutra corte – Te Deum, luminárias, salvas, bailes, ceias, representações teatrais.
O Marquês de Louriçal, mentindo como bom embaixador, mandara dizer de Madrid, em 1783, que a infanta – “é magra, muito bem feita de corpo, todas as feições são perfeitas, dentes muito brancos, e como não há muito tempo teve bexigas, ainda não se desvaneceram de todo as covas delas; é branca, corada, muito viva”.
O Marquês de Louriçal, mentindo como bom embaixador, mandara dizer de Madrid, em 1783, que a infanta – “é magra, muito bem feita de corpo, todas as feições são perfeitas, dentes muito brancos, e como não há muito tempo teve bexigas, ainda não se desvaneceram de todo as covas delas; é branca, corada, muito viva”.
Ao casar dois anos depois, Carlota Joaquina crescera pouco (nunca a sua altura passou de 1,47 m) e provavelmente não embelezara.
De seu lado, o infante D. João já apresentava os traços que o tempo acentuaria de um homem feio, gorducho, tímido e triste. (…)”
A Vida de D. Pedro I – Octávio Tarquínio de Sousa (1889-1959)
(Co-edição da Editora Itatiaia e Editora da Universidade de São Paulo, 3 vols., Brasil, 1988)
Disponível na Biblioteca Nacional de Lisboa (Portugal)
3 vols. com as seguintes cotas:
H. G. 46491 V.
H. G. 46492 V.
H. G. 46493 V.
domingo, 18 de outubro de 2009
Trás-os-Montes, Portugal, por um brasileiro (David Nasser, de "O Cruzeiro")
Uma noite, Miguel Torga, genial poeta português, nascido em S. Martinho de Anta, Trás-os-Montes, falou no Brasil acerca da sua terra.
Escutaram-no numerosos componentes da colónia portuguesa e, também, alguns brasileiros.
Entre estes últimos, David Nasser, o grande jornalista de O Cruzeiro.
Entre estes últimos, David Nasser, o grande jornalista de O Cruzeiro.
David Nasser viria depois a Portugal, que percorreu de norte a sul (dessa viagem deixar-nos-ia um livrinho - Portugal, Meu Avôzinho).
O jornalista não mais esqueceu - nem aquela memorável noite lusitana no Rio de Janeiro, com Torga, nem a sua viagem de férias.
Compôs então, na sua revista (O Cruzeiro, 3 de Outubro de 1964), um dos mais belos e sentidos hinos de amor a Portugal e, em particular, a Trás-os-Montes.
Uma crónica surpreendente.
Tanto mais surpreendente quanto é certo que ele não tinha ascendência portuguesa (seus pais eram naturais do Líbano).
(Na transcrição da crónica, respeita-se a grafia brasileira)
Saudade Defumada
Trás-os-Montes, agôsto
Comecei esta viagem - que é uma romaria de amor - com Miguel Torga e é com êle que eu vou. É com êle que vou a Trás-os-Montes.
Não posso me esquecer daquela noite, numa pequena rua da Tijuca, no Rio de Janeiro, mal sacudido por uma revolução sem sangue - e entre as paredes de uma residência transformada em centro tansmontano, a figura sombria de Miguel ao fundo da sala, a falar de um mundo seu.
Tendeiros, biscateiros, marceneiros, canteiros, taberneiros, carvoeiros e outros eiros misturados a atacadistas, varejistas, sêco-molhadistas, capitalistas e outros istas de um reino emigrado.
O reino maravilhoso daquela gente simples, da côr da terra, do coração grande e das mãos sempre estendidas - para o abraço ou para o murro.
Não existe povo mais autêntico sôbre a face da terra que o povo de Trás-os-Montes.
Espigueiro (celeiro)
Ouço ainda Miguel Torga a falar de sua província, a uma saudade estatelada dentro do salão.
Um namorado a dizer maravilhas da namorada.
A paixão - desculpou-se êle - é uma fôrça terrível, move montanhas, transpõe oceanos e obriga homens tímidos a essas violências do pudor.
E lá ficou a falar de Trás-os-Montes, procurando não meter na conversa sombra de literatura.
Suas palavras foram, na realidade, palavras físicas, realidades físicas, como urgueiras floridas, talefes brancos, restolhos dourados - doirados dizem êles - a fazerem, na oração, de sujeito, de verbo e de complemento.
Ponte romana
Em vez de catadupas de som, Torga despejou cêstos de uva, sacos de castanhas, presuntos, facadas, procissões, feiras e uma encosta de Montesinho ou de Barroso a servirem de pano de fundo aos olhos de uma platéia enlevada.
Em muitos olhos duros de português transmontano havia lágrimas.
Talvez nos olhos de gente que não chorasse nem na morte da mãe.
Ao escutar o idioma, como pedra cristalina, descendo das pedras de Torga, via-o a fazer a barba do pai, em S. Martinho de Anta, a ajudá-lo na semeadura, ou sentia-o a chorar numa fazenda de Leopoldina, em Minas, adolescente ainda, sob um saco de café, onde o que pesava mais era a saudade.
Tenho a impressão de que essa palavra - saudade - foi inventada aqui em Trás-os-Montes.
Nos poucos minutos daquela prosa, o poeta levou seus irmãos pelo caminho que vai à padroeira de cada freguesia, misturou o seu barro humano com o de sua gente, fazendo com que saísse da união a imagem verdadeira, ampla e significativa dum berço que é todo simplicidade.
Falou sem preocupação de gramática nem de estilo, porque, ao primeiro sinal de retórica, aquêle berço deixaria de embalar.
De olhos enxutos, um povo esmagado de lembranças, Torga estendeu no soalho da sala o mapa invisível de Trás-os-Montes, e cada um se sentiu com os pés enterrados no húmus de sua aldeia.
Os da Régua se sentiram na Régua. Os de Vinhais, em Vinhais. Os de Mirandela, em Mirandela. Os de Carrazeda, em Carrazeda.
O que Miguel Torga não imaginou é que eu, um brasileiro de Jaú, estivesse em Vila Real, a beber do vinho honesto do Padre Henrique, a almoçar na Quinta do Narciso, a comer em Rebordelo os salpicões da mãe do meu companheiro Luiz dos Santos; a dormir debaixo de uma ramada, como alguém que volta a uma pátria escolhida.
A sua pátria intelectual.
Entrei no reino transmontano de Torga, formando a guarnição do pequeno mundo que viu nascer a todos aquêles bons homens que estavam numa sala explosiva de saudade.
Desde então passei a mourejar com todos os glóbulos sarracenos prestes a incendiarem como os xistos de lá. A saudade de um transmontano é saudade defumada, que conserva a gostosura da carne, a doçura do clima e a amargura da terra.
O homem, Torga, fêz descer a todos, fêz voltar a todos, fêz chorar a todos.
Fêz chorar até a mim, que não tenho nada com isso.
Sé Catedral - Vila Real
Vim a baixar da Terra-Fria, aonde nunca tinha ido, para a Ribeira à frente da roga, de harmônio ao peito como um fadista.
Depois fui contrabandear na raia, senti-me a desconjuntar lusitanamente os verbos, a ceifar na lomba, a saibra, a redrar, conforme a hora, conforme o tempo.
Aportuguesei-me.
Amiguei-me com Portugal.
De cama, de mesa e de graça.
Espigueiros
- Que diabo de língua falas tu? - perguntou-me, em tom naturalmente altivo, um pastor que descia a Chaves.
E ao ouvir Torga no centro transmontano do Rio de Janeiro, recordei-me de Rubem Braga, a dizer a Rachel de Queiroz que a língua portuguêsa emigrou para o Brasil quando estava no apogeu - e em Portugal ficou apenas um dialeto falado por um grupo reduzido.
Até Camões é mais Camões recitado por um brasileiro.
Camões em ritmo português é Camões de pé-quebrado, diz a presunção brasileira.
Mas não é possível descrever a Portugal e muito menos ao melhor de Portugal, que está atrás dos montes, onde se grita ao lá de fora: - Entre quem é! -
Não se pode pintar a êsse quadro com as nossas tintas.
São fortes demais na luz. São fracas demais na côr.
Naquela noite, em que, pela primeira vez, me levaram pela palavra para além do Marão, a sala teve sol e neve.
Naquela noite, em que, pela primeira vez, me levaram pela palavra para além do Marão, a sala teve sol e neve.
Como um hipnotizador, Miguel Torga, o gênio transmontano, carrancudo e generoso, traçou para cada um o rosto da amada perdida.
Fê-los subir, a todos, o outeiro da memória.
Acendeu na alma de cada um o fogo dos arraiais distantes.
E todos, agachados, ficamos a ouvi-lo, como a um pajé misterioso que estivesse a cortar fatias de lembranças. Não, não era uma descrição, era uma comunhão, onde eu, como um maometano que não sou entre cristãos que não eram, vinha juntar-me.
O rebanho, o pastor, os cães e a neve
Naquela noite de Torga, quem era de Vila Flor passou mentalmente a apanhar azeitona na sala.
Do Romeu, a descascar sobreiros.
De Favaios, a cozer trigo.
Do Vimioso, a escavacar pedreiras.
- Mas, eu?
- De onde é o amigo?
- Do Jaú.
- Pois entre no grupo. Entre como se fôsse de Freixo. Entre na roda e coma amêndoas. Queria ficar de fora, o grande marôto!
- E nós, santinho? Somos de Pinhãocelo.
- De Pinhãocelo? Vamos, aparelhe os machos e ferre-lhes com a carga em cima. Depressa! Pena não haver ninguém de Pocinho. Há? Ó criatura de Deus, salte para dentro do rabelo e agarre-se à espadela. Mas cuidado! O cachão da Valeira é traiçoeiro. Apegue-se a S. Salvador do Mundo.
E assim, dentro daquela sala em cuja ampliação agora estou, Torga, naquela noite, teve seu reino animado.
Os rios com barcos e barqueiros, as serras com rebanhos e zagais, os lameiros com charruas e lavradores. Todos olhavam orgulhosamente, transmontanamente, para êsse reino viril de homens viris.
Nenhum outro reino mais belo, mais castiço e mais aberto.
- Entre quem é!
Nenhum outro reino tão capazmente servido pelo seus filhos nem tão devassado, tão escancarado para os que chegam de alma aberta.
- Entre quem é!
A beleza de lá não tem maneirismo, nem o catecismo de lá é arcaico, nem a fundura dos horizontes de lá significa perdição no vago, nem os sentimentos dos habitantes são mesquinharias.
De Trás-os-Montes, perdoem-me os outros, Portugal exporta o melhor.
.
De Sabrosa ao Pinhão, do Tua a Bragança, da Régua a Chaves, de Freixo a Barca de Alva ou em Boticas, é o que se vê: sempre o mesmo lençol de fragas e a mesma gente a nascer nêle.
A fisionomia dos relevos, a máscara enrugada das penedias, a estimulante largura dos descampados correspondem no humano a uma fisionomia igual, recortada em granito, máscula, austera, e, ao mesmo tempo, viva e generosa.
Ouço ainda a se dizer naquela sala, dentro da qual coube uma pequena leira lusíada, que o destino quis que houvesse no tôpo uma costeira, onde tudo tivesse caráter e dignidade.
Onde a vista pudesse desfrutar dali perspectivas originais, onde a enxada pudesse mostrar na dureza dos torrões a dureza do aço, onde o fole do peito se enchesse por inteiro a cada respiração, onde todos os sêres ali nascidos ou ali vividos estivessem à altura.
.
Portugal encontrou em Trás-os-Montes o seu telhado, a lousa que lhe resguarda as virtudes, a saúde física e moral, a tenacidade mourejadora (sempre os mouros do meu sangue), a pureza dos costumes e a expressão mais nobre e acabada das feições interiores, a mais severa e desassombrada parcela da pátria, a mais estremada expressão do seu povo.
A capa de honras daquele mirandês que ali aparece não é um trajo de festa, mas o paramento dum sacerdote laico da dignidade.
A louça negra que nos vende êste oleiro de Bisalhães não é, como parece, apenas barro amassado e cozido, mas o lado noturno da fome na sua expressão estóica, porque existe um Portugal pobre, que luta e sofre, a catar os seus próprios meios, a viver com os seus próprios recursos, mas um Portugal que não pede esmolas nunca.
Vai puxando lá embaixo o rabelo à sirga, um môço vai picando a junta de bois ou abrindo a valeira na teimosa persistência.
A admiração alheia é apenas um estímulo para prosseguir.
O transmontano sente a perfeição interior.
Sem favor algum, é perfeito desde a maneira de estender uma tigela de caldo a um pobre, à largueza de abraçar um amigo - ou em concretas obras-primas de sabor, de graça, de habilidade e de figura.
E até de grossura, diria eu, ao colhêr dessa epopéia escrita a enxadão tôda uma filosofia condensada num provérbio de sabedoria velha:
Quem tripas comeu e com viúva casou, sempre há de se lembrar do que por lá andou.
Por lá andei, com viúva não casei, por isto trago apenas, de Trás-os-Montes, um gôsto de saudade defumada, neste fim de viagem."
(David Nasser - O Cruzeiro - Rio de Janeiro - Brasil - 3 de Outubro de 1964)
sábado, 17 de outubro de 2009
Arte Africana (Quénia)
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sexta-feira, 16 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Meditação sobre os suicidas da France Telecom
"Que sociedade estamos a construir? Que mundo vem aí?"
As perguntas, tornadas um pungente requisitório, foram, há dias, formuladas por um trabalhador da France Telecom, numa manifestação contra o processo de "reestruturação" da empresa, cujos resultados têm conduzido à barbárie.
Vinte e quatro trabalhadores suicidaram-se, nos últimos dezanove meses, e mais treze foram socorridos quando se preparavam para pôr fim à vida.
Em nome da "competitividade" e em obediência às leis do mercado, um "gestor", Louis-Pierre Wenes, procedeu, a partir de 2005 (ele entrara na empresa em 2002), adjuvado por Didier Lombard, à "modernização" da empresa, o terceiro operador de telemóveis da Europa e o primeiro fornecedor de acesso à Internet.
A brutalidade das decisões não olhou a meios para justificar os fins.
Diz a France Press que
"o plano redundou num controlo cerrado dos funcionários, dos tempos de pausa, uma pressão insuportável por ganhos de produtividade e desumanização nas relações laborais.
Os comunicados dos sindicatos sublinham a incerteza organizada sobre a permanência de cada posto de trabalho, mudanças forçadas de funções, pressões insidiosas para que os trabalhadores se demitissem ou aceitassem despromoções, tentando fazê-los responsabilizar-se por essas novas situações.
"O "mercado", o "neoliberalismo" e a globalização atingiram novos patamares de infâmia.
Em Portugal desconhece-se a estatística de suicídios causados por compulsões semelhantes, e o facto de estarmos à beira dos setecentos mil desempregados deveria preocupar, seriamente, aqueles que nos governam.
A desumanização que se regista no mundo do trabalho explica-se pelo facto de o "homem de organização", quero dizer: o "gestor", não poder permitir-se ter princípios ou escrúpulos: deve, isso sim, ter reflexos.
A degradação da vida empresarial resulta dessa cartografia de horrores que consiste nos objectivos a atingir, nas etapas que se têm de percorrer, e dos lucros que terão de ser rápidos e vultosos.
O "gestor" é muitíssimo bem pago para ser um cão-de-fila.
Um universo sem paixões, gelado, uma mistura de indiferença humana com uma selvajaria abstracta.
"Que sociedade estamos a construir?
Que mundo vem aí?"
As dramáticas perguntas adquirem um novo relevo, quando se sabe que as "soluções" aplicadas pelos tais "gestores" se revelam ineficazes e conduzem as empresas, mais tarde ou mais cedo, à falência.
À falência económica e financeira, porque a falência moral já habita no corpo de quem as dirige.
A "organização", o "grupo", correspondem a esse capitalismo predador, que mantém uma "democracia de superfície", feroz e impositiva, que tem aniquilado sindicatos, partidos progressistas, organizações cristãs recalcitrantes, homens e mulheres, sobrepondo uma cultura que provoca a renúncia de pensar.
O poder económico a sobrepujar o poder político. (…)”
Baptista Bastos - Meditação sobre os suicidas da France Telecom (Jornal de Negócios – Lisboa – Portugal – 9 de Outubro de 2009)
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domingo, 11 de outubro de 2009
Mais um passo para a esperança...
(Prémio Nobel da Paz - 2009)
"(...) Argumentou-se que está há poucos meses na Presidência dos Estados Unidos e que ainda não teve tempo de ter feito nada de concreto.
Nem nos Estados Unidos, nem no Iraque, nem no Afeganistão, nem em Guantánamo.
Não fez nada?
É extraordinário!
Só fez isto: está a mudar radicalmente a América e o mundo.
A América de Bush estava desacreditada, tendo infringido gravemente os Direitos Humanos, a principal bandeira do chamado Mundo Livre, durante a "guerra fria", mentido sem pudor acerca da existência de armas de destruição maciça, no Iraque.
Marginalizou as Nações Unidas, provocou duas guerras cruentas: no Afeganistão e no Iraque, envolvendo a NATO na primeira, o que constituiu um erro fatal, para além de um crime.
Fortaleceu o capitalismo especulativo de inspiração neoliberal, dito de casino, o que provocou a maior crise global financeira e económica de sempre.
Barack Obama acabou com o unilateralismo arrogante e agressivo dos Estados Unidos - que, dado o seu poderio militar, tinham acreditado ser os "donos do mundo" - e aceitou o multilateralismo, promovendo o diálogo com todos os países emergentes,
- estendeu a mão aos árabes (discurso do Cairo), acabando com as humilhações a que estavam sujeitos,
- criou uma nova relação com os países emergentes, respeitando-os como iguais,
- prometeu a retirada dos mísseis instalados na Europa de Leste, obviamente dirigidos contra a Rússia,
- desenvolveu o diálogo com a China,
- está a promover um novo relacionamento, entre iguais, com a América Latina (aceitou negociar com Cuba, sem condições prévias e dar passos concretos para vir a pôr fim ao bloqueio),
- condenou o golpe de Estado nas Honduras, um sinal importantíssimo de mudança,
- estendeu a mão a África, invocando a sua qualidade de afro-americano,
- advogou nas Nações Unidas a importância do diálogo, da paz e do respeito pela dignidade dos Povos, propondo um plano de desnuclearização progressiva,
- vai, na próxima reunião de Copenhaga, na Dinamarca, subscrever e relançar os mecanismos de Quioto - como já anunciou - para reduzir drasticamente as emissões de CO2 e iniciar uma política concertada de defesa do planeta das ameaças de tanta gravidade para a sobrevivência das espécies e da espécie humana em particular, que sobre ele pesam.
Todos estes exemplos, entre tantos outros, são só palavras (promessas) e não valem nada?
Quem o diz é porque não tem a noção exacta da importância das ideias e da defesa das boas causas para a mudança do mundo.
Sempre assim foi." (*)
(*) - Mário Soares, antigo Presidente da República (Diário de Notícias - Lisboa - Portugal)
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009
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