I - 24 suicídios na France Telecom
Um funcionário da France Telecom atirou-se de um viaduto, depois de escrever uma carta denunciando o clima profissional vivido no seio da gigante das telecomunicações francesa France Telecom.
Esta morte aumenta para 24 o número de suicídios de empregados da empresa nos últimos 18 meses.
Um funcionário da France Telecom atirou-se de um viaduto, depois de escrever uma carta denunciando o clima profissional vivido no seio da gigante das telecomunicações francesa France Telecom.
Esta morte aumenta para 24 o número de suicídios de empregados da empresa nos últimos 18 meses.
Casado e pai de dois filhos, o homem de 51 anos deixou dentro do carro uma carta dirigida à sua mulher, “evocando o sofrimento vivido no contexto profissional” (…).
Desde Fevereiro de 2008 que tem havido uma vaga de suicídios na France Telecom, uma maré negra que provocou reacções emotivas na empresa e motivou a intervenção do Estado, accionista principal da empresa.
Os sindicatos reagiram com indignação ao mais recente suicídio de um quadro da empresa, denunciando as condições de trabalho na central telefónica de Annecy.
Desde Fevereiro de 2008 que tem havido uma vaga de suicídios na France Telecom, uma maré negra que provocou reacções emotivas na empresa e motivou a intervenção do Estado, accionista principal da empresa.
Os sindicatos reagiram com indignação ao mais recente suicídio de um quadro da empresa, denunciando as condições de trabalho na central telefónica de Annecy.
Segundo o sindicato SUD-Solidaires, o funcionário que se suicidou tinha sido transferido recentemente e “não se sentia bem” no seu novo serviço, “do qual se libertou”.
"É aterrorizante. Ele trabalhava numa secção conhecida há muito tempo por ser insuportável, havia uma verdadeira indiferença, nenhum calor humano, não se falava senão de números, os empregados eram carne para canhão”.
O presidente da empresa, Didier Lombard, foi “imediatamente” ao local de trabalho do funcionário que se suicidou.
O ministro do Trabalho, Xavier Darcos, pediu a Lombard que acelerasse as “negociações para a prevenção dos riscos psicossociais” no seio da empresa.
A meio de Setembro, pressionado pelo governo francês, o presidente da France Telecom tinha prometido mudar certos métodos de gestão. (*)
(*) - (Dos jornais)
II - Neoliberalismo e restauração do poder de classe
(...) A ortodoxia neoliberal, pressionada tanto pela Inglaterra como pelos EUA, introduziu-se nas instituições financeiras internacionais depois de 1980.
O Fundo Monetário Internacional tornou-se o principal agente na promoção das políticas de “ajustamento estrutural” sempre que tinha de lidar com uma crise de crédito.
Como resultado, países como o México, Argentina, Brasil e África do Sul foram arrastados para o campo neoliberal.
O preço de entrar no sistema económico global para muitos países da área soviética foi a privatização e o assumir de uma postura neoliberal.
A competição global arrastou muitos outros países, até a China e a Índia, para algo aproximado a uma estrutura de Estado neoliberal. (...)
Mas algumas variantes de Estado neoliberal agora predominam em todo o mundo. (...)
Num mundo darwiniano, o argumento neoliberal vinga:
Ficas para trás porque não és competitivo.
Apenas sobrevives se te encaixares suficientemente bem.
Não há nada sistematicamente errado.
A falha está em ti. Não és suficientemente neoliberal.
Em segundo lugar, e mais importante, os grupos com rendimentos mais elevados tornaram-se infinitamente mais ricos sob o neoliberalismo.
A desigualdade social aumentou em vez de diminuir.
Assim, o neoliberalismo tem sido erguido sobre a restauração do poder de classe de uma pequena elite de financeiros e directores-executivos.
E uma vez que essa classe tem um controlo decisivo sobre os processos políticos e sobre os instrumentos de persuasão, é claro que insiste em que o mundo está muito melhor.
"É aterrorizante. Ele trabalhava numa secção conhecida há muito tempo por ser insuportável, havia uma verdadeira indiferença, nenhum calor humano, não se falava senão de números, os empregados eram carne para canhão”.
O presidente da empresa, Didier Lombard, foi “imediatamente” ao local de trabalho do funcionário que se suicidou.
O ministro do Trabalho, Xavier Darcos, pediu a Lombard que acelerasse as “negociações para a prevenção dos riscos psicossociais” no seio da empresa.
A meio de Setembro, pressionado pelo governo francês, o presidente da France Telecom tinha prometido mudar certos métodos de gestão. (*)
(*) - (Dos jornais)
II - Neoliberalismo e restauração do poder de classe
(...) A ortodoxia neoliberal, pressionada tanto pela Inglaterra como pelos EUA, introduziu-se nas instituições financeiras internacionais depois de 1980.
O Fundo Monetário Internacional tornou-se o principal agente na promoção das políticas de “ajustamento estrutural” sempre que tinha de lidar com uma crise de crédito.
Como resultado, países como o México, Argentina, Brasil e África do Sul foram arrastados para o campo neoliberal.
O preço de entrar no sistema económico global para muitos países da área soviética foi a privatização e o assumir de uma postura neoliberal.
A competição global arrastou muitos outros países, até a China e a Índia, para algo aproximado a uma estrutura de Estado neoliberal. (...)
Mas algumas variantes de Estado neoliberal agora predominam em todo o mundo. (...)
Num mundo darwiniano, o argumento neoliberal vinga:
Ficas para trás porque não és competitivo.
Apenas sobrevives se te encaixares suficientemente bem.
Não há nada sistematicamente errado.
A falha está em ti. Não és suficientemente neoliberal.
Em segundo lugar, e mais importante, os grupos com rendimentos mais elevados tornaram-se infinitamente mais ricos sob o neoliberalismo.
A desigualdade social aumentou em vez de diminuir.
Assim, o neoliberalismo tem sido erguido sobre a restauração do poder de classe de uma pequena elite de financeiros e directores-executivos.
E uma vez que essa classe tem um controlo decisivo sobre os processos políticos e sobre os instrumentos de persuasão, é claro que insiste em que o mundo está muito melhor.
E está, para eles.
Mas se o crescimento agregado é tão lento, como é que as classes superiores acumulam tanta riqueza?
Elas fazem-no em larga medida devido ao uso de práticas predatórias, desapropriando outros.
Esta “acumulação por desapropriação” assume muitas formas.
Mão-de-obra barata é rapidamente saqueada e quanto mais barata e dócil, melhor.
Os direitos comuns de propriedade (água, território, etc.) estão a ser privatizados.
Populações de camponeses desfazem-se dos seus terrenos.
O meio-ambiente é degradado.
Patentes de direitos para tudo, desde materiais genéticos, sementes, produtos farmacêuticos, até ideias, permitem extrair dinheiro de populações com baixos rendimentos.
Bens fundamentais como a educação e cuidados de saúde são tornados comercializáveis e os preços dos utentes sobem em flecha.
E a lista continua sempre a aumentar.
Mas, mais importante de tudo, os sistemas de crédito e financiamento são usados activamente para acumular riqueza num pólo enquanto a extraem do outro.
O neoliberalismo é uma transferência maciça de riqueza dos pobres para os ricos.
Estas injustiças acenderam inúmeros protestos em todo o mundo, vagamente unidos no movimento anti-globalização ou pela justiça global.
A resposta do neoliberalismo foi frequentemente a repressão do Estado.
Dada a sua base de classe, o Estado neoliberal é compreensivelmente antidemocrático.
A viragem para o autoritarismo e neo-conservadorismo é ilustrativa de quão longe irá essa classe e as estratégias que está preparada para desenvolver a fim de preservar e aumentar os seus poderes.
A massa da população terá de submeter-se a este esmagador poder de classe ou reagir-lhe também em termos de classe.
Se isto parece, age e se sente como luta de classe, então temos de estar preparados para chamá-la pelo seu nome e agir em conformidade. (*)
(*) - David Harvey (Professor de Antropologia no Graduate Center da Universidade da Cidade de Nova Iorque.
O seu livro mais recente é The New Imperialism, publicado pela Oxford University Press.)
III- O liberalismo da 25.ª hora
Mas se o crescimento agregado é tão lento, como é que as classes superiores acumulam tanta riqueza?
Elas fazem-no em larga medida devido ao uso de práticas predatórias, desapropriando outros.
Esta “acumulação por desapropriação” assume muitas formas.
Mão-de-obra barata é rapidamente saqueada e quanto mais barata e dócil, melhor.
Os direitos comuns de propriedade (água, território, etc.) estão a ser privatizados.
Populações de camponeses desfazem-se dos seus terrenos.
O meio-ambiente é degradado.
Patentes de direitos para tudo, desde materiais genéticos, sementes, produtos farmacêuticos, até ideias, permitem extrair dinheiro de populações com baixos rendimentos.
Bens fundamentais como a educação e cuidados de saúde são tornados comercializáveis e os preços dos utentes sobem em flecha.
E a lista continua sempre a aumentar.
Mas, mais importante de tudo, os sistemas de crédito e financiamento são usados activamente para acumular riqueza num pólo enquanto a extraem do outro.
O neoliberalismo é uma transferência maciça de riqueza dos pobres para os ricos.
Estas injustiças acenderam inúmeros protestos em todo o mundo, vagamente unidos no movimento anti-globalização ou pela justiça global.
A resposta do neoliberalismo foi frequentemente a repressão do Estado.
Dada a sua base de classe, o Estado neoliberal é compreensivelmente antidemocrático.
A viragem para o autoritarismo e neo-conservadorismo é ilustrativa de quão longe irá essa classe e as estratégias que está preparada para desenvolver a fim de preservar e aumentar os seus poderes.
A massa da população terá de submeter-se a este esmagador poder de classe ou reagir-lhe também em termos de classe.
Se isto parece, age e se sente como luta de classe, então temos de estar preparados para chamá-la pelo seu nome e agir em conformidade. (*)
(*) - David Harvey (Professor de Antropologia no Graduate Center da Universidade da Cidade de Nova Iorque.
O seu livro mais recente é The New Imperialism, publicado pela Oxford University Press.)
III- O liberalismo da 25.ª hora
"A meritocracia", a "gestão por objectivos", a facada nas costas, o desprezo pela condição humana, enfim, o pensamento triunfante que calcula e que governa um pouco por toda a parte, já conduziu ao suicídio de vinte e quatro funcionários da France Telecom.
Condoído, o gerente da coisa prometeu mais "humanidade" e maior atenção às relações laborais e às transferências de postos de trabalho.
Por cá, os "intelectuais" do liberalismo da vigésima quinta hora devem achar maravilhosa a prática desta privatizada empresa.
O bezerro de ouro - o lucro - justifica tudo e o seu contrário, porque vivemos num tempo desprovido de ética e onde o homem se limita a ser uma peça descartável.
E há sempre alguém (o alguém é uma metáfora) disponível para ocupar o lugar do morto seguinte em nome dos "objectivos".
O homem não foi feito para a derrota, como escreveu o Hemingway?
Não teria tanta certeza.
Afinal, a France Telecom (isto é só um nome) prova que pode ser derrotado e destruído." (*)
(*) - "Portugal dos Pequeninos"
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