Pequenas e grandes histórias da História e mensagens mais ou menos amenas sobre vidas, causas, culturas, quotidianos, pensamentos, experiências, mundo...
… eu sustento Mãe e Filha (ai, Mãe e Filha) bem contra a minha vontade.
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Boa noite, meus senhores, minhas senhoras,
lindas flores,
que aqui estais neste salão,
eu pr'a todos vou cantar
e a todos quero saudar
do fundo do coração...
A Brigada Victor Jara é uma das mais famosas bandas musicais portuguesas, tendo sido criada no ano de 1975 por um grupo de jovens de Coimbra.
Ainda se mantém em actividade, tendo lançado o mais recente disco em 2015.
O vídeo acima reproduzido (Charamba, belíssima peça do folclore português, e em particular dos Açores) foi publicado por Luís Garção Nunes, um dos integrantes da banda.
Pode saber mais sobre este agrupamento de excelência clicando aqui.
Nos primeiros anos da década de 1870, ainda que a instabilidade persistisse nalgumas regiões do Sudoeste, um número elevado de apaches já havia sido confinado em reservas, por regra muito afastadas dos sítios de fixação tradicionais. Ao fim de décadas de confrontos, o próprio Cochise compreendera que os seus obstinados inimigos eram demasiado poderosos para que os Apaches tivessem qualquer possibilidade de vencê-los. O chefe índio estava agora próximo dos sessenta anos de idade e sentia-se bastante fatigado. Andara algum tempo pelo México com o seu povo, mas, quando soube que o governo local oferecia 300 dólares por cada escalpe apache, decidira regressar aos seus velhos refúgios das Montanhas Dragoon, em território americano. Aí, passou a ser procurado, vivo ou morto, por diversas companhias de soldados do Exército, comandadas pelo general George Crook, a quem os índios chamavam Lobo Cinzento.
Certo dia, em Cañada Alamosa, Cochise aceitou falar do fim das hostilidades com o general Gordon Granger. No longo discurso que fez, garantiu que os Apaches Chiricahuas queriam uma paz boa, sólida e duradoura. Referindo-se aos hábitos livres e à forma de vida apache, acrescentou: O mundo não foi sempre assim. Deus não nos fez como vocês. Nós nascemos como os animais, na erva seca, não em camas como vocês. Por isso fazemos como os animais; saímos à noite, atacamos e saqueamos. Se eu tivesse as coisas que vocês têm, não faria o que faço, pois então não precisaria. Há índios que matam e roubam. Eu não os comando. Se os comandasse, não fariam isso.
O general americano explicou que a paz só seria viável se os apaches aceitassem instalar-se numa reserva. Cochise, em princípio, aceitou, o que equivalia, finalmente, à sua rendição. Mas quando perguntou onde seria a reserva, Gordon informou-o de que o governo tencionava enviá-los para Forte Tularosa, nas montanhas Mogollons[Novo México]. Cochise reagiu mal: Quero viver onde estou [no Arizona].Não quero ir para Tularosa. É muito longe daqui. As moscas dessas montanhas comem os olhos dos cavalos. Os maus espíritos moram ali.
Gordon garantiu que faria o possível para que o governo americano autorizasse os Chiricahuas a viverem em Cañada Alamosa, com as suas correntes de água fria e limpa. O chefe índio prometeu que manteria o seu povo em paz. E assim se despediram.
Cochise foi fiel à sua palavra e viveu pacificamente com o seu povo nos meses seguintes. O general Gordon procurou defender o que prometera, mas o governo não lhe secundou as boas intenções. E um dia chegou a ordem para que todos os Chiricahuas fossem arrebanhados e transferidos de Cañada Alamosa para Forte Tularosa, exactamente o local rejeitado pelo chefe índio. Este não suportou o procedimento dos brancos, que só veio confirmar no seu íntimo aquilo que há muito pensava: eles eram traiçoeiros por natureza e indignos de confiança. Dividiu então o povo em pequenos grupos e mudou-se com eles para as montanhas secas e pedregosas do sudeste do Arizona. Mesmo que Lobo Cinzento (o general George Crook) o perseguisse até ali, estava disposto a resistir-lhe por todos os meios e, se tivesse que morrer, tombaria com honra.
Em Setembro de 1872, Cochise recebeu a visita de TomJeffords, o Barba Vermelha, e de um general, Oliver Otis Howard, também de barba cerrada, ao qual faltava o braço direito.
Tom Jeffords era provavelmente o único branco em quem Cochise e os seus homens confiavam sem reservas. Conheciam-se desde a época em que os Apaches combatiam os Casacos Azuis, depois do incidente de Apache Pass. Nesse tempo, Jeffords estava contratado para levar o correio entre Forte Bowie e Tucson. Mas ele e os seus ajudantes eram frequentemente emboscados pelos índios, o que ameaçava acabar-lhes com o negócio.
Certa ocasião, Jeffords apresentou-se desarmado e sozinho no acampamento de Cochise e disse ao chefe índio que pretendia fazer um acordo pessoal com ele, para poder ganhar a vida transportando o correio. Cochise ficou espantado com o arrojo do interlocutor, mas admirou-lhe a coragem. Nunca vira um branco assim. A verdade é que prometeu a Tom Jeffords que podia carregar o correio à vontade, sem quaisquer problemas, e cumpriu escrupulosamente o seu compromisso. Firmou-se entre os dois, a partir daí, uma forte amizade, e Tom aparecia muitas vezes nos acampamentos de Cochise para conversar e beber com este.
Foi sem dúvida devido à confiança depositada em Tom Jeffords que Cochise aceitou conversar com o general Oliver Howard. Este ambicionava, obviamente, combinar o termo das lutas. Cochise ripostou-lhe que ninguém desejava mais a paz do que ele próprio. Howard sugeriu que os Chiricahuas viveriam muito melhor se aceitassem transferir-se para uma grande reserva, por exemplo, no Rio Grande. Cochise respondeu que preferia a região de Apache Pass e das Montanhas Chiricahua. O general disse que talvez se pudesse considerar tal hipótese.
Oliver Howard permaneceu no acampamento apache durante onze dias, ao longo dos quais se desenvolveram as conversações. O general teve tempo para conhecer melhor o chefe índio, ficando sensibilizado com a sua cortesia, simplicidade e estilo directo. Encantou-se também com as mulheres e as crianças apaches. A conclusão foi feliz: Fui forçado a abandonar o plano inicial, escreveu ele depois, e a dar-lhes, como Cochise sugerira, uma reserva que abrangia parte das Montanhas Chiricahua e do vale adjacente a oeste.
Faltava ainda abordar um ponto: pela lei americana, a nova reserva deveria ter à sua testa um homem branco. Para Cochise, como para os restantes Chiricahuas, não havia que pensar muito para solucionar o problema: Tom Jeffords era o único branco em quem confiavam plenamente. Tom resistiu à ideia, afirmando não ter experiência para um cargo desse tipo. Mas Cochise insistiu, repetidamente, com ele. Por fim, Tom Jeffords acedeu ao pedido do amigo e os Apaches concordaram em transferir-se.
Na Primavera de 1874, Cochise começou a sentir-se doente e o seu estado geral era de grande debilidade. Tom Jeffords foi a Forte Bowie buscar um médico do Exército, que não conseguiu diagnosticar ao certo de que padecia o chefe apache, mas que lhe deu alguns remédios. Cochise não melhorou e passou a sentir dores intensas.
Jeffords dispôs-se a ir de novo a Forte Bowie, e Cochise perguntou-lhe: Acha que me verá vivo quando voltar?
Jeffords usou da franqueza habitual entre os dois amigos: Não, não acho.
Cochise, resignado, disse: Penso que morrerei amanhã, por volta das dez horas da manhã. Acha que nos tornaremos a ver?
Jeffords: Não sei. O que acha?
Cochise: Não sei, não está claro no meu espírito. Mas talvez nos vejamos, sim, nalgum outro lugar.
Cochise faleceu em 8 de Junho de 1874, antes que o seu amigo Tom Jeffords regressasse de Forte Bowie.
Com apenas mais duas semanas de vida do queGreta Thunberg(completa 17 anos no próximo mês de Dezembro), Billie Eilish, nova vedeta norte-americana da moda e da moderna música pop, percorre, com estilo porventura mais irreverente, caminhos semelhantes. Numa recente entrevista ao jornal português Expresso, foi interpelada sobre a grave situação do nosso planeta - e falou como se conta abaixo:
A
preocupação com as alterações climáticas é outro assunto que a apoquenta.
“Fico
muito incomodada, porque as pessoas fingem estar preocupadas com a situação.
Não sabem, na verdade, nada sobre o assunto. Na semana em que aquela
fotografia, linda e horrível, dos incêndios na Amazónia andou a circular,
lembro-me de ver todos os meus amigos e toda a gente que algum dia conheci a
partilharem-na e a dizerem “isto é um horror, precisamos de salvar o planeta”.
“Fiquei
ali a pensar: vocês nem se deram ao trabalho de pesquisar o porquê de a
floresta estar a arder. Se o tivessem feito, seus pequenos idiotas, não andavam
aí a questionar-se sobre quem provocou aquilo… Porque foram vocês!
Sabem
por que razão a Amazónia está a arder, seus cretinos? Sabem porquê? Porque para
haver quintas com gado, para criar vacas e matá-las para as colocarem nos
vossos pratos, começaram a derrubar árvores com o intuito de arranjar mais
espaço. Como isso se tornou crime, passaram a incendiar florestas para criar
espaço.
Isto
não está a acontecer de forma espontânea, há mesmo pessoas a provocar incêndios
para acabar com as árvores. E vocês, depois de darem uma dentada, afastam-se e
partilham nas redes sociais a vossa indignação com os incêndios.
Se
calhar, em vez de sacarem dos vossos sacos os pratos de plástico para porem um
pedaço de carne em cima deles, podiam PARAR! Não o façam. Fico doida…”
………………………...
Oiçam Billie Eilish num dos seus grandes êxitos: All the good girls go to hell
("Todas as boas meninas vão para o inferno")
Fonte:E - Revista do jornal Expresso - Lisboa - Portugal - Edição 2447, de 21 de Setembro de 2019 - Pág. E-30.
Em 1862, o grande e carismático chefe apache Mangas Coloradas recuperava, nas Montanhas Mimbres (Novo México), do grave ferimento que sofrera em combate contra os soldados dos Estados Unidos. Embora envelhecido e bastante mais magro, achava-se ainda capaz de montar a cavalo e de conduzir os seus guerreiros, a maior parte dos quais com metade ou um terço da sua idade. Mangas Coloradas não alimentava ilusões acerca dos caminhos da guerra. Mesmo podendo contar com um aliado excepcional como Cochise, seu genro, ou com guerreiros não menos valorosos, como Victorio ou Gerónimo, ele sabia que era impossível continuar a resistir por muito mais tempo ao poderio esmagador do exército norte-americano (os Casacos Azuis). Tomara conhecimento de que, ainda recentemente, o inimigo lograra cercar os seus irmãos Mescaleros, confinando-os no Bosque Redondo - mais uma "prisão sem grades". Por outro lado, sabia que os Casacos Azuis procuravam sem descanso os Apaches que recusavam render-se, para os matar com os seus sabres afiados e com a metralha das suas peças de artilharia. Como se não bastasse, os invasores brancos eram agora auxiliados por batedores índios, alguns deles apaches, habilíssimos em seguir os rastos deixados pelos seus irmãos insubmissos. O coração de Mangas Coloradas sofria muito com isso.
Foi nessa altura que o velho chefe começou a pensar em conseguir a paz para o seu povo antes que a morte o surpreendesse. Talvez lhe fosse possível repetir, cogitou ele, o que fizera em Santa Fé, uns anos antes, na década de 1850, quando os Apaches e os Estados Unidos tinham combinado viver em paz para sempre. É claro que esse acordo acabara por ser rompido - era por isso que agora se viviam os dias dramáticos que ameaçavam acabar com ele e com o seu povo. Mas o chefe acreditava, apesar de tudo, que seria ainda viável conversar amistosamente com aqueles terríveis inimigos.
Mangas Coloradas
Em Janeiro de 1863, estando Mangas Coloradas acampado nas margens do rio Mimbres, aconteceu algo que, face aos seus propósitos, ele achou providencial. Um mexicano desconhecido, brandindo a bandeira de tréguas, apresentou-se-lhe no acampamento e informou-o de que havia militares americanos, próximos dali, que tinham vontade de falar de paz. Os soldados, pertencentes aos Voluntários da Califórnia, eram comandados pelo capitão Edmond Shirland.
Mangas teria preferido conferenciar com alguém de patente mais elevada, como, por exemplo, um "chefe estrelado" (um general). No entanto, pressionado pela situação difícil em que se encontrava, resolveu acompanhar o mensageiro. Os seus guerreiros suspeitaram de uma armadilha e aconselharam-no a não ir. Recordaram-lhe o que sucedera a Cochise, em Apache Pass, e os conflitos que se haviam seguido. Mangas insistiu na resolução e, seguido por uma escolta de quinze guerreiros, tomou o trilho que conduzia ao acampamento americano. Um homem que falava espanhol veio ao encontro da comitiva para guiar o chefe apache até ao capitão Shirland, mas os índios da escolta recusaram deixá-lo ir enquanto não fosse hasteada uma bandeira branca no ponto de destino.
A bandeira acabou por surgir e o próprio Mangas Coloradas ordenou aos seus homens que se fossem embora e o deixassem entrar sozinho no acampamento inimigo. Sentia-se protegido pela trégua oferecida pelos brancos. Cavalgou então, tranquilamente, para o que pensava vir a ser uma proveitosa conversa de paz. Contudo, mal os seus guerreiros desapareceram de vista, irrompeu das imediações um bando de soldados que lhe deram voz de prisão. Com esta pasmosa facilidade (e, certamente, com inesperada ingenuidade) se deixou capturar o famoso guerreiro índio.
Entretanto, no regresso ao acampamento do rio Mimbres, a escolta apache, agora neutralizada, estava longe de imaginar a trágica situação vivida nessa altura pelo seu velho chefe.
Mangas Coloradas foi pressurosamente conduzido ao acampamento dos seus captores. Chegou pouco depois ao local um "chefe estrelado", o general Joseph West, que se apressou a ir ver o prisioneiro e a deambular à sua volta, com mórbida curiosidade, como se estivesse na presença de um animal raro. West teve de o olhar de baixo para cima, porque o índio era muito mais alto do que ele. Mangas já se arrependera amargamente de ter concedido crédito à palavra dos inimigos, mas, com os seus guerreiros ausentes, não havia nada que ele pudesse fazer.
Nessa noite, o chefe apache foi entregue à guarda de dois soldados. Fazia frio, pelo que estes armaram uma grande fogueira de troncos para se aquecerem. Posteriormente, uma testemunha, o soldado Clark Stocking, revelaria ter ouvido o general West a falar com os dois guardas, tendo-lhes dirigido as seguintes palavras: Quero-o morto ou vivo amanhã de manhã - compreendem? - quero-o morto. O destino de Mangas Coloradas tinha sido traçado - e a sentença não poderia ser mais clara.
Uma outra testemunha, Daniel Conner, que patrulhava o acampamento, contou ter presenciado uma cena sinistra por volta da meia-noite. Perto da fogueira, o prisioneiro dormia, ou tentava dormir, tapado por uma manta, mas de vez em quando remexia-se furiosamente. Conner escondeu-se fora do alcance da luz da fogueira e não tardou a perceber o que se passava: os dois guardas aqueciam as lâminas das baionetas nas chamas para logo as encostarem às pernas do chefe índio. Este foi suportando a tortura, até que se ergueu, cheio de indignação, para censurar asperamente os seus algozes. Disse-lhes, em espanhol, que não era uma criança para que brincassem assim com ele. Mas não pôde falar muito mais, porque os guardas dispararam sem aviso e, quando o viram tombado no chão, esvaziaram os tambores dos revólveres no corpo inerte. A cabeça foi-lhe separada do corpo e o seu crânio acabaria por ser vendido a um frenologista do Leste. O corpo decapitado foi atirado para uma vala.
No relatório militar dedicado ao assunto escreveu-se que Mangas Coloradas havia sido abatido quando tentava fugir do acampamento.
Como é óbvio, episódios como este em nada contribuíam para a pacificação das relações entre Apaches e Norte-Americanos. Pelo contrário, a primeira consequência da traição perpetrada por Joseph West foi, como seria de esperar, o recrudescimento das hostilidades. Como testemunhou Daniel Conner: Os índios entraram francamente em guerra e pareciam decididos a vingar a morte de Mangas Coloradas com todas as suas forças.
Cochise, que salvara a vida de Mangas pouco tempo antes, tratava agora, com os seus trezentos guerreiros, de o vingar com ofensivas vigorosas desde o território chiricahua do Arizona até às montanhas Mimbres do Novo México. Desejava, como sempre, expulsar da região os brancos que haviam traído outra vez a sua palavra.
Outros chefes, como Nana e Gerónimo, empenhavam-se também nesta luta de vida ou morte. Victorio conseguiu reunir um importante efectivo, ao qual juntou apaches mescaleros fugidos da reserva de Bosque Redondo, e com ele atacou núcleos de colonos, postos de exército e vias de comunicação, contribuindo para lançar o pânico na região que se estendia ao longo do Rio Grande até El Paso. Durante cerca de dois anos, estes pequenos exércitos apaches mantiveram o Sudoeste americano em sobressalto, impedindo ou dificultando a fixação branca ou o trânsito para a Califórnia. Nem sempre dispunham de armas de fogo, mas não era por isso que renunciavam ao combate. Tinham sempre à disposição os seus arcos e flechas, sendo estas dotadas de pontas de quartzo de terrível eficácia: quando atingiam os alvos, elas penetravam com a força de uma bala cónica.
Lutando numa proporção de um para cem, os Apaches não tinham outro futuro que não fosse a morte ou a prisão. A esse destino só conseguiam furtar-se aqueles que, seduzidos pelas palavras dos brancos, concordavam em servi-los como batedores, seguindo no terreno as pistas dos seus irmãos em luta.
Batedores apaches ao serviço do exército dos Estados Unidos
A outra consequência da atitude dos invasores para com os nativos foi a perda de confiança destes nas diversas iniciativas de negociação. Mas a guerra cansava e destruía, e o poder avassalador dos brancos parecia crescer a cada dia. Por isso, não admira que, já depois de terminada a Guerra Civil americana, alguns chefes índios, com os recursos esgotados, se dispusessem enfim a fazer a paz com aquele inimigo aparentemente invencível. Foi o que sucedeu com Victorio e Nana, por exemplo.
Em Abril de 1865, ambos se avistaram com um representante dos Estados Unidos. Victorio disse que o seu povo era pobre e que quase já não tinham nada para comer ou vestir. Estavam todos cansados e queriam a paz. No fim, para garantir a seriedade das suas palavras, proclamou: Lavei as minhas mãos e a boca com água fria e fresca e o que digo é verdade. Mas a resposta do americano foi curta e brutal, comunicando aos interlocutores que não viera pedir-lhes que fizessem a paz. Se queriam paz, só tinham que aceitar abandonar a região com a sua gente e deslocar-se para a reserva de Bosque Redondo.
Tanto Victorio como Nana tinham ouvido as piores coisas acerca de Bosque Redondo, uma das "prisões sem grades" que os inimigos ofereciam aos índios. Não era por acaso que muitos dos seus irmãos se evadiam de lá e se juntavam às forças em luta. Ficaram, por isso, indignados, e Nana traduziu essa indignação com secura. Disse: Não tenho bolsos para guardar o que acaba de dizer. Mas as suas palavras mergulharam fundo no meu coração. Não serão esquecidas.
Victorio percebeu também que não havia mais nada para falar com aquele homem. Para não levantar suspeitas, disse-lhe que partiria para a reserva dentro de dias, depois de reunir o seu povo e os cavalos. Mas estava evidentemente decidido a não ceder ao ultimato.
O agente americano esperou pelos índios, em Pinos Altos, durante quatro dias. Mas não apareceu um só apache: eles tinham perdido completamente a confiança nos brancos e odiavam a simples ideia de se deixarem confinar em Bosque Redondo. Alguns abdicaram da luta e seguiram para sul, internando-se nas terras mexicanas. Outros cavalgaram para se juntarem a Cochise, no seu refúgio das Montanhas Dragoon.
Lembrado do que lhe sucedera em Apache Pass e do traiçoeiro assassínio de Mangas Coloradas, Cochise continuava o combate contra os americanos. Estes, considerando-o o adversário mais temível, haviam tentado várias aproximações para pôrem fim à guerra com um acordo. Mas o chefe apache não se dignou responder a tais iniciativas: não acreditava na sinceridade dos brancos.
Durante cinco anos, prosseguiram as guerrilhas apaches. Os índios evitavam sistematicamente acercar-se das povoações de colonos ou dos fortes militares, preferindo emboscar caravanas, rancheiros ou garimpeiros isolados. Nessas alturas, investiam para obter cavalos, armas e gado, deixando às vezes para trás algumas vítimas mortais.
No ano de 1870, as guerrilhas atingiram o auge, em locais dispersos e separados uns dos outros por centenas de quilómetros. Como Cochise era o apache mais conhecido dos Americanos, estes responsabilizavam-no, invariavelmente, pela totalidade dos ataques. Na Primavera de 1871, o comissário americano para os Assuntos Índios, Ely Parker, teve a ideia de convidar o chefe apache para viajar até Washington a fim de conversarem. Cochise tornou a recusar. Se já desconfiava antes, mais desconfiado tinha ficado nesse ano, após ser informado do que acontecera ao povo do chefe Eskiminzin.
Eskiminzin, que liderava uma pequena tribo de 150 apaches estabelecidos nas margens do riacho Aravaipa, falara com os Americanos e aceitara entregar as armas. O seu povo vivia agora pacificamente ao longo do Aravaipa, plantando milho e cozinhando mescal. Alguns chegaram mesmo a empregar-se como lavradores em ranchos das proximidades. Um dia, houve um ataque de apaches a cerca de uma centena de quilómetros dali, incidente logo atribuído, injustamente, aos apaches do Aravaipa.
Uma força fortemente armada, composta por voluntários e mercenários, partiu então de Tucson para assaltar a aldeia do Aravaipa. O massacre foi terrível. Em cerca de meia hora, e com excepção de umas poucas fugas, a população foi abatida pelos atacantes.
O tenente Royal Whitman, que estabelecera relações amistosas com Eskiminzin, testemunhou: Descobri várias mulheres mortas enquanto dormiam, ao lado dos fardos de forragem que haviam reunido para transportar de manhã. Os feridos que não puderam fugir tiveram as cabeças esmagadas com clavas ou pedras, enquanto alguns haviam sido crivados de flechas depois de mortalmente feridos a tiros. Todos os corpos foram desnudados.
O médico C. B. Briesly, que acompanhava o tenente Whitman, informou que duas das mulheres estavam numa tal posição e, pela aparência dos seus órgãos genitais e das suas feridas, não podia haver dúvida de que haviam sido primeiramente violadas e, depois, mortas a tiros… Uma criança de cerca de dez meses foi atingida duas vezes e a sua perna quase foi cortada.
Posteriormente, foram encontrados nas proximidades da aldeia mais alguns cadáveres, fixando-se em 144 o total de vítimas mortais.
Eskiminzin escapou ao massacre, e alguns apaches acreditavam que ele voltaria a fazer a guerra. Mas não voltou. Anos mais tarde, acabaria por ir parar a uma reserva com algumas dezenas de sobreviventes do seu povo.