Tropas alemãs invadem a União Soviética |
O
objectivo de construir um império da Alemanha no Leste da Europa, sobretudo à custa da
Rússia comunista, era há muitos anos defendido por Adolf Hitler, que se baseava
na necessidade de expandir o “espaço vital” do povo germânico.
Ele não fazia
segredo da sua admiração pelo império colonial britânico, especialmente pela
sua “jóia da Coroa”, a Índia, onde centenas de milhões de seres humanos eram
subjugados e “mantidos na ordem” por uns poucos milhares de soldados. A ideia
de Hitler consistia em reproduzir na Rússia aquilo que os britânicos tinham feito na Índia.
Ainda que a invasão da União Soviética tivesse sido apresentada ao povo alemão como uma acção preventiva ("fazemos isto antes que eles tomem a iniciativa de nos fazerem o mesmo"), o propósito final era o da construção desse império.
Foi por
isso que, a 22 de Junho de 1941, Hitler lançou sobre a União Soviética mais de
três milhões de homens, apoiados por milhares de tanques, aviões e veículos
blindados.
As primeiras semanas dos combates pareceram mais do que auspiciosas aos invasores, que aprisionaram centenas de milhares de soldados soviéticos e destruíram no solo grande parte da aviação de guerra de Estaline.
Hitler, e os seus
generais, exultavam, considerando que a guerra estava ganha. Chegou a
prever-se, tal a velocidade e a mortífera eficácia do avanço, uma
desmobilização parcial do exército invasor, já considerado excedentário.
Como relata Ian Kershaw na sua excelente biografia do ditador alemão, este revelou aos que o rodeavam, nessas semanas triunfais, as suas ideias delirantes – e criminosamente desumanas - acerca do sonhado império colonial na Rússia.
Depois da guerra,
cujo final se previa para breve, grandes extensões seriam ocupadas por
soldados-camponeses alemães, capazes de cultivarem a terra e de a defenderem em
caso de necessidade.
A fim de que os alemães tivessem espaço para se instalar, milhões de seres humanos seriam deportados para as terras inóspitas de
além-Urais. A sobrevivência desses deslocados não constituía qualquer
preocupação para Hitler, para o qual seria preferível que eles morressem à
fome: na sua visão doentia, o povo russo era sub-humano e não servia
para mais nada além do trabalho forçado imposto pela violência.
O comunismo seria impiedosamente erradicado através da execução sumária de qualquer indivíduo tido como influente ou “perigoso”. Moscovo e Leninegrado (São Petersburgo) seriam arrasadas “para exemplo”.
A Crimeia seria transformada
numa espécie de colónia de férias de luxo, para onde os cidadãos alemães viajariam,
ao longo de magníficas autoestradas (a construir), nos “carros do povo” que
todos possuiriam (os famosos Volkswagen).
Quanto à justificação que assistia à Alemanha para fazer tudo isto, Hitler era de uma franqueza brutalmente cruel: o seu direito era o da força. No entendimento dele, um povo culturalmente superior (como ele considerava os germânicos relativamente aos eslavos) não necessitava de outros argumentos para se apoderar das terras alheias…
Segundo Kershaw, ele resumia a questão da seguinte forma:
Se agora causo mal aos russos, a razão é que, caso contrário, seriam eles a
causar-me mal. O querido Deus faz com que as coisas sejam assim. Ele,
subitamente, atira as massas da humanidade para a Terra e cada um tem de olhar
por si próprio e encontrar maneira de se safar. Uma pessoa tira uma coisa a
outra. E, no fim, só se pode dizer que o mais forte ganha. Isto é, afinal de
contas, a ordem mais judiciosa das coisas.
Dentro de poucas semanas, este sonho grandioso e maligno principiaria a esfumar-se, uma vez que se provou, em duros combates no terreno, que Hitler e os seus conselheiros tinham subestimado grosseiramente o poderio militar soviético e a capacidade de resistência dos russos.
Menos de quatro anos depois, em finais de Abril de 1945, o ansiado “império
colonial alemão na Europa” acabaria reduzido ao espaço exíguo e insalubre de
um “bunker” miserável de Berlim, transformado no primeiro túmulo de um ditador
louco e suicida…
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