quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O assassínio da família imperial da Rússia pelos bolcheviques de Lenine (17 de Julho de 1918) - 1.ª Parte

Identificação das 11 vítimas

I - O casal imperial

1 - Czar Nicolau II
(morto aos 50 anos)


 



2 - Czarina Alexandra
(morta aos 46 anos)




II - As quatro filhas e o filho do casal imperial


3 - Grã-duquesa Olga
(morta aos 22 anos)







4 - Grã-duquesa Tatiana
(morta aos 21 anos)








5 - Grã-duquesa Maria
(morta aos 19 anos)






6 - Grã-duquesa Anastásia
(morta aos 17 anos)








7 - Czarevich Alexei
(morto aos 13 anos)










Retrato conjunto das sete vítimas da família imperial.
Da esq. para a direita: Olga, Maria, Nicolau II,  czarina Alexandra, Anastásia, Alexei e Tatiana.


III - Os quatro acompanhantes da família imperial também assassinados na mesma altura


8 - Anna Demidova, camareira da czarina
(morta aos 40 anos)








9 - Alexei Trupp, criado particular
(morto aos 62 anos)










10 - Ivan Kharitonov, cozinheiro
(morto aos 48 anos)








11 - Dr. Eugene Botkin, médico da família imperial
(morto aos 53 anos)

..........


A matança destas 11 pessoas, concretizada às primeiras horas da madrugada de 17 de Julho de 1918 em Ecaterimburgo - localidade russa situada na parte oriental dos Montes Urais -, ficou a constituir uma das mais hediondas façanhas praticadas por qualquer força política em qualquer tempo. O crime choca e repugna ainda hoje pelo calculismo maquiavélico e pela brutal crueldade com que foi executado.

Independentemente das crenças e simpatias de cada um, não existe possibilidade honesta de defender ou compreender, seja em nome de que causa for, o assassínio a frio de uma criança doente e sofredora, de algumas jovens mulheres mal saídas da adolescência e dos quatro acompanhantes cuja única culpa foi a de se acharem na sinistra casa de Ipatiev e de estarem ao serviço dos Romanov cativos dos "bolcheviques" (mais tarde rebaptizados de "comunistas").

Mais do que a impiedosa ferocidade da brigada assassina comandada por Yakov Yurovski, um homem da Tcheka, o episódio reflecte, como um espelho trágico, a crueldade intrínseca de Lenine, chefe do Partido Bolchevique e presidente do Sovnarkom (Conselho de Comissários do Povo, a autoridade máxima). Na verdade, a matança exemplifica a maneira de ser e de sentir do líder e aquilo que ele pensava constituir a forma mais adequada de agir em circunstâncias como aquela.

Demonstrou-o em inúmeras ocasiões, como, por exemplo, no posterior assassínio de um irmão do czar, Mikhail Romanov, ou na liquidação de outros membros da família Romanov mais alargada - e dos seus servos -, tudo levado a cabo em condições igualmente horrorosas, que Lenine aplaudiu com júbilo.
Não deixam dúvidas os telegramas furiosos que ele expedia para os carrascos, censurando-os por não terem actuado com “o máximo de crueldade” e incentivando-os a não se ficarem por “meias-medidas”.

As notas que deixou escritas falam por si: exige sempre o extermínio dos inimigos, a forca, o fuzilamento, a morte cruel. Inimigos, ou opositores, a quem ele se referia como carraças, aranhas, sanguessugas... E os que o rodeavam nessa altura em nada contribuíam para um eventual apaziguamento: não só Trotsky, mas, sobretudo, Estaline - um lobo tão sedento de sangue como Lenine.

Todavia, Lenine e os seus mais próximos perceberam que o assassínio da família imperial e dos seus acompanhantes, exactamente pelas condições em que ocorreu, encerrava o perigo potencial de virar contra os bolcheviques uma parte significativa da opinião pública. Se havia muitos que não lamentariam por aí além o desaparecimento do czar Nicolau – e talvez ainda menos o da czarina Alexandra -, o mesmo não se poderia dizer dos outros nove, irrefutavelmente inocentes.
Por isso se ergueu celeremente uma cortina de silêncios, omissões, deturpações, calúnias, mentiras e pistas falsas.

Começou-se por negar o acontecido. Mais tarde, admitiu-se a morte do czar, e só a dele: a restante família teria sido levada para local seguro. E quando a realidade da matança total não pôde mais ser ocultada, atribuiu-se a iniciativa exclusiva do crime ao poder local em Ecaterimburgo, ou seja, ao Comité Executivo do Soviete Regional dos Urais.

Esta foi a mentira que perdurou durante décadas, sustentada pelas autoridades soviéticas e alimentada, ainda na actualidade, por uma legião de admiradores de Lenine. O que só prova, no fundo, que também eles consideraram e consideram que a chacina foi monstruosamente inaceitável: havia por isso que retirar o líder bolchevique da cena sanguinária. Ele estava em Moscovo e  nada teria tido a ver com o que se passava nos Urais... 

Hoje, na presença de documentos e testemunhos entretanto surgidos, sabe-se a verdade. Lenine não só sabia como autorizou os tiros e as punhaladas da madrugada fatal.
É certo que ainda não apareceu nenhum papel, com a sua assinatura, ordenando a execução. Mas se fosse esse o único critério para apurar a verdade do caso, concluiríamos sem hesitação que Adolfo Hitler, uns anos mais tarde, não teria tido culpa nenhuma da morte de milhões de judeus... (Continua em 3 de Outubro de 2020)

Ver as restantes 7 partes:

2.ª Parte - A Revolução e a Queda da Monarquia (aqui)
3.ª Parte - Cativeiro em Tsarskoe Selo (aqui)
4.ª Parte - Cativeiro em Tobolsk (aqui)
5.ª Parte - Cativeiro em Ecaterimburgo e Assassínio (aqui)
6.ª Parte - Reabilitação da Família e Funerais (aqui)
7.ª Parte - Galeria Final de Fotos - I (aqui)
8.ª Parte - Galeria Final de Fotos - II (aqui)

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