sábado, 6 de março de 2021

CLÁUDIO, imperador de Roma (Triunfante na política, infeliz aos amores...)



 

Cláudio nasceu em Lugduno, na Gália dominada pelos Romanos (actual Lyon, França), a 1 de Agosto do ano 10 antes de Cristo (a. C.). Faleceu em Roma a 13 de Outubro de 54 depois de Cristo (d. C.).

Foi o quarto imperador romano da dinastia cláudio-juliana (sendo antecedido por Augusto, Tibério e Calígula; e seguido por Nero). Foi também o primeiro imperador a nascer fora da península itálica.

Cláudio era neto de Lívia, esposa do grande imperador Augusto (primeiro da dinastia). Era tio do extravagante e sanguinário Calígula, que o antecedeu.

Ninguém poderia prever, nas primeiras décadas da sua existência, que ele pudesse vir a chegar onde chegou. Padecia de várias deficiências físicas e passava facilmente por diminuído mental. Era gago, coxeava, babava-se e, às vezes, rompia num riso estridente e descontrolado, o que em nada contribuía para o favorecer.


Antónia, mãe de Cláudio

A mãe, Antónia, apoucava-o com frequência e apresentava-o como um monstro, uma espécie de ser inacabado e genuíno exemplo de estupidez. A avó, Lívia, mulher de Augusto, pouco ou nada lhe falava, preferindo enviar-lhe curtas mensagens escritas de reprovação em que invariavelmente o rebaixava. Por tudo isto, era por norma mantido mais ou menos à margem da política e dos assuntos familiares mais importantes.

Foi em grande parte devido ao juízo que faziam dele que Cláudio saiu incólume das tremendas disputas pelo poder que caracterizavam a política romana do tempo. Julgavam-no inofensivo. Pôde por isso escapar, sem grandes sobressaltos, às matanças perpetradas por Tibério e Calígula, seus antecessores.

No entanto, ainda que assim desprezado, ele estava longe de ser estúpido ou intelectualmente destituído. Dedicando-se às leituras e ao estudo persistente, tornou-se um homem de cultura muito superior à daqueles que o rodeavam e diminuíam. Dominou matérias como a matemática, a gramática, a geometria, a medicina, o grego e, acima de tudo, a História. E entregou-se, com grande mérito, à investigação e à escrita da história romana.


O guarda pretoriano descobre Cláudio escondido por trás da cortina.


Houve todavia um momento, a 24 de Janeiro de 41 (d. C.), em que Cláudio sentiu que tinha a vida presa por um fio. Foi nesse dia que a guarda pretoriana resolveu executar Calígula, um imperador psicopata, pondo termo ao seu governo repleto de crueldades, assassínios e episódios irracionais. Logo a seguir a Calígula, tombaram, sob as espadas dos guardas, muitos aristocratas e membros da família imperial.

Em pânico, convencido de que seria a próxima vítima, Cláudio fugiu do centro dos acontecimentos e, na tentativa de passar despercebido, escondeu-se por trás da pesada e espessa cortina de uma porta. Foi aí que um dos guardas o descobriu pouco depois. Cláudio, transido de medo, aguardou o golpe fatal. Mas, para seu espanto, o guarda (diz-se que se chamava Grato) curvou-se respeitosamente diante dele e tratou-o como se ele fosse imperador.


A guarda pretoriana escolhe Cláudio para imperador de Roma


Conduzido ao acampamento da guarda pretoriana, Cláudio viu-se efectivamente proclamado imperador pelo grosso da soldadesca. Ele era agora o único homem adulto da sua família, e o senado, algo recalcitrante a princípio, acabou por aceitar a escolha. O novo soberano teve logo um gesto tão inteligente como prudente, mandando distribuir milhares de sestércios pela guarda pretoriana à qual devia o poder.

Daí partiu o outrora desprezado Cláudio para um meritório governo de cerca de treze anos. Revelou-se um excelente administrador, concretizando obras públicas importantes e lançando notáveis reformas legislativas.

A economia de Roma melhorou com as suas iniciativas, fazendo lembrar a muitos os tempos áureos de Augusto e lançando para o esquecimento o período caótico de Calígula.

Cláudio distinguiu-se igualmente, no tocante à expansão militar romana, com várias e importantes conquistas: Trácia, Ilíria, Judeia, Lícia, Nórica, Panfília e Mauritânia foram anexadas ao império. A conquista mais retumbante foi, porém, a da Britânia (actual Inglaterra e Gales - ver aqui).


Cláudio

Cláudio foi casado quatro vezes e foi infeliz outras tantas.
Teve Pláucia Urgulanila como primeira esposa, mas acabou divorciado dela por conduta escandalosa e suspeita de actividades criminosas.
A segunda mulher foi Élia Pecina, de quem o imperador se separou por "pequenas ofensas".

A terceira esposa de Cláudio foi a infame Messalina, adúltera impenitente e intriguista política sem escrúpulos. Levou Cláudio a suspeitar da própria sombra, convencendo-o de que vivia cercado de inimigos que urgia liquidar. E foi desse modo que dezenas de senadores e cavaleiros - odiados por Messalina - acabaram por perder a vida.

Um dia, a mulher do imperador ultrapassou todos os limites da devassidão, atrevendo-se a casar, num acto de pública bigamia, com um dos seus numerosos amantes. Dessa vez, Cláudio não perdoou: foram ambos executados. Messalina, que contava apenas 26 anos à data da morte, tinha todavia dado ao imperador dois filhos: Octávia e Britânico.


A Morte de Messalina
(Quadro de Georges Antoine Rochegrosse)


Embora tivesse prometido  a si próprio nunca mais voltar a casar-se, Cláudio não tinha, afinal, aprendido a lição. Cerca de um ano mais tarde, no primeiro dia de 49 (d. C.), desposou a quarta e última mulher, a famosa Agripina, sua sobrinha, que trouxe para o casamento um filho de anterior matrimónio - Nero, de quem Roma e o mundo muito ouviriam falar através das eras.

Agripina, além de sobrinha de Cláudio (era filha de um irmão deste), era bisneta do imperador Augusto e irmã do terrível Calígula.

Ambiciosa, fria, implacável e isenta de escrúpulos, viveu como esposa do imperador durante um período de quase seis anos, em que manobrou politicamente, sem olhar a meios - incluindo os mais violentos -, para aumentar a sua influência e, sobretudo, para impor o seu filho Nero como sucessor de Cláudio.

Ao longo desse tempo tratou de mandar liquidar não só os que permaneciam fiéis à memória de Messalina, como aqueles que considerava obstáculos à futura ascensão de Nero.


Agripina Menor, 4.ª e última esposa de Cláudio
e mãe de Nero, futuro imperador.


Cláudio, durante os primeiros anos de matrimónio, foi presa fácil das artes de manipulação da jovem esposa (Agripina tinha menos 25 anos do que ele). Não só lhe tolerou as tenebrosas jogadas políticas, como adoptou o filho dela, Nero, dando-lhe preferência, como sucessor, relativamente ao seu próprio filho, Britânico.

No entanto, à medida que ia conhecendo melhor Agripina, Cláudio parece ter-se arrependido de algumas das decisões que tomara. Passou a manifestar público apreço por Britânico, e tudo indica que terá voltado a pensar seriamente nele como seu sucessor, em detrimento de Nero.

Por outro lado, também se conta que ele se lamentava amiúde da pouca sorte que tivera com os casamentos, dizendo que era seu destino sofrer para depois castigar a infâmia das suas mulheres.


Agripina coroando o seu filho Nero como imperador de Roma


Para Agripina, atenta a todos aqueles sinais, o momento da decisão tinha chegado. Na noite de 12 para 13 de Outubro do ano de 54 (d. C.) - passaram quase 2 000 anos -, ela fez servir a Cláudio uma refeição de cogumelos frescos, que o imperador muito apreciava. Mas os cogumelos tinham sido previamente envenenados.

Agripina terá contado, para concretizar o seu plano, com a colaboração de Locusta, um perito em venenos do palácio, e com a cumplicidade de Halotus, o provador oficial da comida. O médico da corte, Xenofonte, chamado para assistir aos últimos momentos do imperador, terá também ajudado à liquidação deste, passando-lhe uma pena envenenada pela garganta (a pretexto de lhe provocar um vómito que o aliviasse).

Fosse como fosse, Cláudio morreu às primeiras horas da manhã de 13 de Outubro. Fora, durante quase 14 anos - e contra todas as previsões da sua juventude -, o homem mais poderoso do  mundo.

Agripina, vencedora em toda a linha, atingira o seu grande objectivo, empurrando o seu filho para o poder máximo.
Menos de cinco anos depois, esse filho, o abominável Nero, recompensou à sua maneira todas as manobras e crimes que a progenitora tinha arriscado em seu favor - mandando que a assassinassem...

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