domingo, 21 de julho de 2019

"D. Sebastião desapareceu em Alcácer do Sal?"... "O grito do índio Ipiranga?"... etc., etc., etc.




Isabel Carla Moreira de Brito, licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal) e professora daquela disciplina no Ensino Básico e Secundário, teve a virtuosa ideia de editar em 2018, na Manuscrito, o livro cuja capa acima se reproduz.
A obra - cuja leitura vivamente recomendamos - contém mais de uma centena de respostas disparatadas fornecidas por alunos durante as aulas ou em fichas de trabalho, testes de avaliação e exames.

Como Isabel esclarece na Introdução:

os erros nas aulas e testes de História acontecem e, na maior parte das vezes, originam histórias engraçadas impossíveis de esquecer. Em momentos de ansiedade, de pouca inspiração, ou… de pouco estudo, podemos tornar-nos mais criativos! (…)
Sou professora de História há largos anos e fui reunindo as respostas mais divertidas que encontrei. Umas foram dadas em salas de aula, outras em testes escritos, umas aconteceram comigo, outras foram-me contadas por colegas e amigos, também docentes de História. São erros da História de Portugal e da História Universal capazes de proporcionar episódios com bastante humor.

Mas Isabel Moreira de Brito não se limita a reproduzir as originalíssimas e mirabolantes respostas de alguns discentes. Ela apresenta as perguntas que as originaram e o respectivo contexto; depois, relativamente a cada uma delas, expõe em linguagem atractiva, rigorosa e com notável sentido pedagógico a resposta que deveria ter sido dada.
Trata-se, portanto, de uma obra que tanto diverte (frequentemente até às lágrimas…) como ensina.
No final do volume é facultada uma útil e extensa bibliografia.  



Do fantástico e, por vezes, delirante universo contido neste livro, é quase impossível destacar qual o contributo mais inesperado, mais surpreendente ou, até, mais atordoante...
Algumas das respostas, se não chegaram para fugir ao doloroso "chumbo", mereceriam ao menos uma qualquer generosa recompensa pela extraordinária criatividade e pelo insuperável espírito de "desenrascanço" que revelam (atávica característica da lusitana humanidade…).
Sete exemplos, de um conjunto vastíssimo:

- D. Sebastião não morreu, de facto, em Alcácer-Quibir (como se contou aqui); ele terá antes desaparecido quando se encontrava a combater os mouros na cidade marroquina de Alcácer do Sal, ali para os lados de Setúbal...

- o presidente norte-americano Abraham Lincoln foi assassinado quando passava pelas ruas de Dallas num carro descapotável...

- Waterloo não se tornou conhecida por causa da derrota que Napoleão aí sofreu, mas porque foi com esse tema que os inesquecíveis Abba venceram o Festival Eurovisão da Canção...

- o sempre lembrado "Grito do Ipiranga" é assim explicado: os brasileiros não queriam continuar a ser uma colónia e por isso lutaram contra os portugueses; durante uma batalha, o índio Ipiranga, que estava junto de D. Pedro, gritou: "Independência ou Morte!"...

- ainda no Brasil, o padre António Vieira ensinava latim aos índios para que estes pudessem comunicar com os portugueses...

- a rainha D. Maria Pia (esposa do rei português D. Luís e mãe do rei D. Carlos, assassinado em 1908) "ficou para a História por ser uma gastadeira; vestidos, quadros, mobília, ela comprava de tudo com frequência e ainda dava festas grandiosas, gastando todo o dinheiro do marido, que depois tinha de pedir emprestado ao governo. Mais gastadeira do que ela, só mesmo a rainha Maria Antonieta de França"... 

- a Santa Aliança, criada na Europa após a derrota de Napoleão Bonaparte, tinha como responsáveis Deus Pai, Filho e Espírito Santo...

… e mais, muito mais, neste livro delicioso - que não deve perder!



Isabel Moreira de Brito, autora do livro


Isabel é ainda autora de um excelente blogue, Estórias da História, que, decerto com muitíssimo proveito, poderá visitar aqui.

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