As muito feias que me
perdoem
mas beleza é fundamental.
É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
qualquer coisa de dança,
qualquer coisa de haute couture em tudo isso
(ou então que a mulher se socialize elegantemente,
em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível.
É preciso que tudo isso seja belo.
É preciso que, súbito,
mas beleza é fundamental.
É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
qualquer coisa de dança,
qualquer coisa de haute couture em tudo isso
(ou então que a mulher se socialize elegantemente,
em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível.
É preciso que tudo isso seja belo.
É preciso que, súbito,
tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada
e que um rosto adquira de vez em quando
essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser,
mas que se reflita e desabroche
no olhar dos homens.
É preciso, é absolutamente preciso
que isso tudo seja belo e inesperado.
e que um rosto adquira de vez em quando
essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser,
mas que se reflita e desabroche
no olhar dos homens.
É preciso, é absolutamente preciso
que isso tudo seja belo e inesperado.
É preciso que umas
pálpebras cerradas
lembrem um verso de Éluard
e que se acaricie nuns braços
alguma coisa além da carne:
que se os toque como ao âmbar de uma tarde.
Ah, deixai-me dizer-vos
que é preciso que a mulher que está ali
como a corola ante o pássaro
seja bela
ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo
e que seja leve como um resto de nuvem:
mas que seja uma nuvem com olhos e nádegas.
Nádegas é importantíssimo.
Olhos, então, nem se fala,
que olhem com uma certa maldade inocente.
Uma boca fresca (nunca húmida!)
móvel, acordada
é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras;
que uns ossos despontem,
sobretudo a rótula no cruzar das pernas,
e as pontas pélvicas
no enlaçar de uma cintura semovente.
lembrem um verso de Éluard
e que se acaricie nuns braços
alguma coisa além da carne:
que se os toque como ao âmbar de uma tarde.
Ah, deixai-me dizer-vos
que é preciso que a mulher que está ali
como a corola ante o pássaro
seja bela
ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo
e que seja leve como um resto de nuvem:
mas que seja uma nuvem com olhos e nádegas.
Nádegas é importantíssimo.
Olhos, então, nem se fala,
que olhem com uma certa maldade inocente.
Uma boca fresca (nunca húmida!)
móvel, acordada
é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras;
que uns ossos despontem,
sobretudo a rótula no cruzar das pernas,
e as pontas pélvicas
no enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo, porém, é o problema das saboneteiras: (*)
uma mulher sem saboneteiras
é como um rio sem pontes.
Indispensável que haja uma hipótese de barriguinha,
e em seguida a mulher se alteie em cálice,
e que seus seios sejam uma expressão greco-romana,
mais que gótica ou barroca
e possam iluminar o escuro
com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinente
é estarem a caveira e a coluna vertebral
levemente à mostra;
e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que se terminem como hastes,
com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinente
é estarem a caveira e a coluna vertebral
levemente à mostra;
e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que se terminem como hastes,
mas bem haja um certo volume de coxas
e que elas sejam lisas,
e que elas sejam lisas,
lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
no entanto sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva
no entanto sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva
com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
de forma que a cabeça dê por vezes a impressão
de nada ter a ver com o corpo,
e a mulher não lembre flores sem mistério.
Pés e mãos devem conter elementos góticos discretos.
Pés e mãos devem conter elementos góticos discretos.
A pele deve ser fresca
nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias
tenham uma temperatura
nunca inferior a 37º centígrados,
podendo eventualmente
provocar queimaduras do primeiro grau.
Os olhos, que sejam de preferência grandes
e de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra;
e que se coloquem sempre
para lá de um invisível muro de paixão
que é preciso ultrapassar.
Que a mulher seja em princípio alta
ou, caso baixa,
que tenha a altitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão
de que se fechar os olhos
ao abri-los ela não mais estará presente
com seu sorriso e suas tramas.
Que ela surja, não venha;
parta, não vá
e que possua uma certa capacidade
de emudecer subitamente
e nos fazer beber o fel da dúvida.
de que se fechar os olhos
ao abri-los ela não mais estará presente
com seu sorriso e suas tramas.
Que ela surja, não venha;
parta, não vá
e que possua uma certa capacidade
de emudecer subitamente
e nos fazer beber o fel da dúvida.
Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca,
não importa em que mundo
não importa em que circunstâncias,
a sua infinita volubilidade de pássaro;
E que acariciada no fundo de si mesma
transforme-se em fera sem perder sua graça de ave;
e que exale sempre o impossível perfume;
e destile sempre o embriagante mel;
e cante sempre o inaudível canto da sua combustão;
e não deixe de ser nunca
a eterna dançarina do efêmero;
e em sua incalculável imperfeição
constitua a coisa mais bela e mais perfeita
de toda a criação inumerável.
e que exale sempre o impossível perfume;
e destile sempre o embriagante mel;
e cante sempre o inaudível canto da sua combustão;
e não deixe de ser nunca
a eterna dançarina do efêmero;
e em sua incalculável imperfeição
constitua a coisa mais bela e mais perfeita
de toda a criação inumerável.
(*) Saboneteira: cada uma das duas depressões situadas logo acima da clavícula, mais visíveis em pessoas magras.
Autor: Vinícius de Moraes (Brasil)
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