.
.
"(…) O que está a acontecer no nosso país é elucidativo.
O paradigma está a alterar-se, já se alterou, e os nossos políticos, culturalmente muito enfezados, agem na mesma esquadria de há trinta e quarenta anos.
Quero dizer: obedecem, cegamente, ao que do exterior lhes sussurram, e abdicam de criar um esquema próprio de solução dos problemas nacionais.
Sei que é difícil, mas não impossível.
Berlim manda e Bruxelas é o porta-voz. Porém, alguém tem de bater o pé a essa hegemonia.
Desde Bismarck que o Alemão vem por aí abaixo, com armas na mão.
E houve 1914-18 e 1939-45.
Derrotados e humilhados, serviram de veículo a ressentimentos seus e de outros.
A Alemanha não precisa da bomba nem do campo de concentração para ser a potência dominante na Europa.
Chega-lhe e sobra-lhe a força da economia. (…)
.
.
A Direita e a Extrema-Direita avançam em toda a Europa.
A Europa é uma massa inerte que só existe porque a Alemanha assim o permite. Basta atentar na teimosia abstrusa de Ângela Merkel, no pungente problema grego, para nos apercebermos do carácter unilateral e arbitrário de uma política que somente dá garantias e suporte aos mais fortes.
O renascimento da xenofobia, do racismo e dos movimentos neonazis não acontece por acaso.
A Esquerda abandonou as velhas bandeiras que a qualificavam, e esqueceu as causas que a iluminavam.
Só agora, um pouco em Itália e em França, se discute e debate o torção a que a História foi submetida.
Os novos problemas que emergiram, com o financiamento do capital, o movimento migratório, a fome como endemia, a exclusão (ideológica, cultural, identitária) a que assistimos, um pouco por todo o lado, assemelham-se aos anos que antecederam a queda da República de Weimar. (…)
.
Como se pode alterar estas situações, tendo presente que o "mercado", a finança, o capitalismo, enfim, tem nas mãos as rédeas de todos os poderes e de todas as decisões?
Creio que o valor moral do ser humano está dependente das circunstâncias.
Ortega o disse.
Todavia, o ser humano dispõe de força suficiente para alterar as circunstâncias.
Historicamente, os ensinamentos são de molde a alimentar as nossas esperanças e a estimular as nossas desafrontas.
Não podemos mais admitir as humilhações a que diariamente somos submetidos.
Nem aceitar viver nesta mentira constante, nesta falta de escrúpulos e de pudor.
Mais é de mais.
De que estamos à espera?"
.
Baptista-Bastos – Jornal de Negócios – Lisboa - Portugal (15-Out-2010)
Sem comentários:
Enviar um comentário