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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Antiga Banda Desenhada em Portugal - "Colecção Tigre"

N.º 1


Em 1955, a Agência Portuguesa de Revistas (APR) lançava em Portugal o primeiro número da mítica Colecção Tigre, uma série de livrinhos de banda desenhada, 64 páginas, 4 escudos por exemplar, periodicidade mensal.

A colecção convivia com outras revistas do género, tornadas hoje raridades, como o semanário Mundo de Aventuras, também da APR (ver aqui), e o rival deste último, o célebre Cavaleiro Andante (aqui), editado pela Empresa Nacional de Publicidade.

Para os nostálgicos, que devem certamente a algumas destas preciosidades o contacto inicial com uns rudimentos de cultura, aqui ficam as capas dos primeiros dez números dessa inesquecível Colecção Tigre, publicados entre 1 de Abril de 1955 e 1 de Janeiro de 1956.


1 - Johnny Hazard - O Roubo do Ceptro (ver acima)
2 - Hopalong Cassidy - Ladrões de Gado
3 - Flash Gordon - O País do Esquecimento
4 - Rip Kirby - O Mistério do Ídolo
5 - Capitão Duran - A Virgem Negra
6 - Bronco Bustin - O Falso Morto
7 - Tarzan - O País Perdido
8 - Cisco Kid - O Regresso do Cadastrado
9 - Brick Bradford - A Misteriosa Atlântida
10 - Red Cannyon - O Povo Ignorado



N.º 2








N.º 3








N.º 4






N.º 5










N.º 6










N.º 7









N.º 8








N.º 9








N.º 10

quinta-feira, 16 de julho de 2020

José Garcês, um dos mágicos da banda desenhada portuguesa (1928-2020)



A poucos dias de completar 92 anos de idade, faleceu ontem José dos Santos Garcês, um dos patriarcas da banda desenhada portuguesa. Nasceu em Lisboa a 23 de Julho de 1928.

Numa carreira longa, de quase setenta anos, encantou - com outros inesquecíveis artistas, como Fernando Bento, Eduardo Teixeira Coelho, José Ruy, Jayme Cortez e Vítor Péon - sucessivas gerações de jovens (e menos jovens) portugueses.
Seduzia, sobretudo, pela precisão e detalhe do seu traço, que aqui e ali faz lembrar o de Hal Foster, criador de Príncipe Valente.

As suas histórias tiveram muitas vezes por base os eventos ou as figuras mais notáveis da História de Portugal, a par de grandes obras literárias nacionais (servindo de exemplo A Dama Pé-de-Cabra, de Alexandre Herculano - porventura a sua obra-prima - e Eurico, o Presbítero, do mesmo autor).

José Garcês frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, e concluiu o curso de Artes Gráficas em 1946.
Foi nesse mesmo ano que se estreou como autor de banda desenhada ("quadrinhos", no Brasil), publicando O Inferno Verde na revista O Mosquito.

Colaborou depois com numerosas publicações, como O Papagaio, Camarada, FagulhaJoaninhaCavaleiro AndanteMundo de AventurasTitã, O Falcão, Tintin, etc.

Esta não foi, no entanto, uma ocupação a tempo inteiro. Com efeito, José Garcês trabalhou simultaneamente, durante quarenta anos, no antigo Serviço Nacional de Meteorologia, onde desenhava as cartas de previsão meteorológica e chegou à chefia do departamento de desenho.

Nas sete décadas da sua actividade como prolífico autor de BD, José Garcês prestou, sem qualquer dúvida, um inestimável serviço público ao País, pontificando como talentoso e notável difusor da cultura lusíada.

Por isso, e muito para além da modesta homenagem que aqui lhe prestamos, ele é amplamente merecedor de um sentido agradecimento dos seus compatriotas ou, pelo menos, de todos aqueles que tiveram a oportunidade, a sorte e o enorme proveito de aceder à sua obra.










































































José Garcês (1928-2020)



quinta-feira, 25 de junho de 2020

Rafael Bordalo Pinheiro - Crítico Implacável da Política e da Sociedade em Portugal (1846-1905)

 

Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) revelou-se um espírito brilhante, ímpar de criatividade, que aplicou a uma contínua intervenção crítica à vida portuguesa.

Permanecem de surpreendente actualidade os seus comentários à política, à economia e à sociedade da época nas revistas de caricatura e humor que editou, atitude que não raro reflectiu na cerâmica - que a partir de 1884 logrou revitalizar nas Caldas da Rainha.



Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro nasceu na Rua da Fé, em Lisboa, em 21 de Março de 1846, terceiro filho duma extensa prole de doze irmãos, a que pertenceria o célebre retratista Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929).
Foram seus pais o pintor romântico Manuel Maria Bordalo Pinheiro e D. Maria Augusta Carvalho Prostes.

Será com a caricatura artística que o génio de Rafael Bordalo Pinheiro deixará uma marca indelével e inconfundível no século XIX português.

O seu lápis traduz, no quotidiano, a perspicaz e oportuna observação da política do País, criando símbolos das realidades nacionais, dos quais o Zé Povinho se ergue como a imagem dum povo explorado e sofredor, mas conformado com a sorte que lhe cabe.




Em 1870, o sucesso obtido por uma caricatura alusiva à peça em cena - intitulada O Dente da Baronesa - revelara um talento e iria despoletar uma paixão.

Esse ano vê surgir sucessivamente o espirituoso álbum de caricaturas O Calcanhar d’Aquiles, a folha humorística A Berlinda, da qual saem sete números, e O Binóculo, periódico semanal à venda apenas nos teatros, com quatro números publicados.

Deu ainda à estampa o Mapa de Portugal, cujo êxito foi assinalado por vendas superiores a 4000 exemplares, no espaço de um mês.

Data de 1875 a iniciativa da criação do primeiro jornal dedicado à crítica social: A Lanterna Mágica, um projecto que faz a crónica dos factos sociais enquanto tece a crítica às políticas e às instituições.


Neste contexto, nasce a figura do Zé Povinho, tão acertada no seu conteúdo que permanece no imaginário português com uma reforçada carga simbólica.



Surgindo nessa época uma proposta de colaboração em O Mosquito, jornal brasileiro de humor, parte no Verão de 1875 para o Rio de Janeiro, onde viverá quatro anos.

A sua permanência no Brasil fica ainda assinalada pela criação de duas revistas de caricaturas: o Psit!!! (1877) e O Besouro (1878-79).

É a oportunidade para nascerem do seu lápis novas personagens-tipo da sociedade carioca, tais como o Psit!, o Arola ou o Fagundes.

Em Lisboa, publicava-se o Álbum de Caricaturas: Frases e Anexins da Língua Portuguesa (1876), ilustrado com desenhos de Bordalo.



 

Logo após o seu regresso à Pátria, em meados de 1879, dá início à publicação de O António Maria, cujo título alude a António Maria Fontes Pereira de Melo, figura política dominante que presidira ao Ministério.

Até Janeiro de 1885, conjuga-se nas páginas desta revista um combate de ideias que visa os partidos no exercício do poder e as debilitadas instituições da monarquia.

Em simultâneo, vão saindo as folhas do Álbum das Glórias, 42 caricaturas de personalidades e instituições portuguesas, comentadas por literatos contemporâneos.




É por esta época que Rafael Bordalo Pinheiro integra o Grupo do Leão (1881-89), importante formação livre apoiada por Alberto de Oliveira (1861-1922), que reúne artistas, escritores, intelectuais.

De 1885 a 1891 publica os Pontos nos ii, revista com idêntica intenção de defesa das causas portuguesas e de denúncia clara das manobras políticas, em que assumem particular relevo a Questão com a Inglaterra, o Monopólio dos Tabacos, o Ultimatum e a Revolta do Porto de 31 de Janeiro.

Em 1900 surge A Paródia, revista que atesta o desencanto de Rafael Bordalo face à vida política do País.
É nas capas dos primeiros números desta revista que caricatura os variados aspectos da realidade sócio-económica, de forma tão certeira que a sua aplicação continua a ser lembrada com acuidade, como em: A Política: a Grande Porca; A Finança: o Grande Cão; A Economia: a Galinha Choca; ou A Retórica Parlamentar: o Grande Papagaio.

Ele é ainda o pioneiro, nas suas revistas, da banda desenhada portuguesa.


 
A criação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - sob a direcção artística de Bordalo- e a sua instalação na vila, em 1884, contribui decisivamente para a revitalização da ancestral cerâmica local, quer pela revolução das formas, quer pela gramática decorativa de raiz francamente naturalista e tantas vezes duma exuberância a desafiar a realidade.

É a oportunidade de passar à argila a caricatura e o humor, criando os bonecos de movimento, como: o Zé Povinho; a Velha Maria; a Ama das Caldas; o Cura; o Sacristão; o Polícia.


 
Aos 58 anos, quando a sua produção artística ainda teria muito a revelar, Rafael Bordalo Pinheiro morre em Lisboa, no dia 23 de Janeiro de 1905.

Espírito criador, grande talento de artista, renovador da cerâmica das Caldas, o caricaturista “pai” do Zé Povinho deixa uma obra que se identifica com o próprio País e o seu povo, não só pelo génio do Artista, mas também pela intervenção do Homem.


(Adaptado de Matilde Tomaz do Couto, in Centro Virtual Camões)

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Blake & Mortimer - O Singular e Assombroso Universo de Edgar Pierre Jacobs




Edgar Pierre Jacobs nasceu a 30 de Março de 1904, em Bruxelas (Bélgica), e aqui faleceu em 20 de Fevereiro de 1987.

Desde muito novo manifestou grande fascínio pelo desenho e pelas representações cénicas.
Os seus cadernos, que deixavam já antever um grande talento, reproduziam cenas quotidianas, batalhas, pormenores arquitectónicos ou de indumentária, a par de uma caligrafia elegantemente apurada.

Em 1919, após concluir a Escola Comercial, começou por trabalhar em publicidade, realizando gravuras para puzzles, álbuns para colorir, jogos, cartazes e catálogos para grandes armazéns, actividade que prosseguiu nos anos 20.




Em simultâneo, Jacobs aspirava a fazer carreira na ópera, tendo começado por ser figurante numa representação de Guilherme Tell, no Teatro de La Monnaie, em 1921.
Chegou a barítono da Ópera de Lille em 1929, ano em que ganhou um grande prémio de canto.

Durante os anos em que sobreviveu neste meio, aproveitou o seu talento gráfico para conceber projectos de indumentárias e maquetas de cenários.

Trabalhou durante dez anos na Ópera de Lille, até ser mobilizado, em 1939, com o eclodir da Segunda Guerra Mundial.

Mortimer (esquerda) e Blake (direita)


Com a Bélgica invadida pela Alemanha nazi, em 1940, recorreu ao desenho como meio de sustento.
Contactou a revista Bravo, para a qual realizou o mais variado tipo de ilustrações.

Em 1942, quando a Bravo deixou de receber as provas da muito popular banda desenhada americana Flash Gordon, Edgar foi desafiado a continuar as suas aventuras, sob o título de "Gordon l'Intrepide".

No entanto, por imposição da censura alemã, teve de concluir precipitadamente o trabalho, que visava dar uma hipotética continuação à história originalmente criada por Alex Raymond.




Entre 1943 e 1944 continuou a trabalhar em BD, tendo sido convidado pela mesma revista a desenvolver uma história que substituísse Flash Gordon.

A sua primeira BD criada de raiz foi Le Rayon "U" (O Raio "U"), estreada na revista Bravo em 1943.
Uma segunda versão apareceu em 1974 na revista Tintin e em álbum da Lombard.

Em simultâneo, começou a colaborar com Hergé, o pai de Tintim, em 1944, quando este necessitou de redesenhar e colorir várias aventuras inicialmente saídas a preto e branco.

Assim sendo, realizou os desenhos dos cenários e a coloração das seguintes histórias de Tintim:
O Lótus Azul, O Ceptro de Ottokar, As 7 Bolas de Cristal e O Templo do Sol.

Como nota do seu bom humor, Jacobs não se coibiu de se desenhar a si próprio, a Hergé e a outras pessoas conhecidas de ambos, entre os "figurantes" de algumas histórias.



Em 26 de Setembro de 1946 surgiu o número inaugural da mítica revista Tintin, que ficou marcado pela estreia da série Blake e Mortimer, de Edgar Pierre Jacobs.
Os protagonistas são um capitão da força aérea ligado aos serviços secretos (Blake) e um físico apaixonado pela arqueologia (Mortimer), ambos cidadãos britânicos, cultivando toda a série um ambiente muito british de meados do século XX.

A história inicial da série, Le Secret de l'Espadon (O Segredo do Espadão), impôs-se rapidamente com sucesso entre os leitores da revista, acabando por ser reunida em dois álbuns, editados em 1950 e 1953.
Assim começou uma das séries de culto da BD europeia.





Depois surgiram Le Mystère de la Grande Pyramide (O Mistério da Grande Pirâmide), história também em duas partes, publicada na Tintin entre 1950 e 1954, e La Marque Jaune (A Marca Amarela), publicada em 1953.

Seguiram-se:
L'Enigme de l'Atlantide (O Enigma da Atlântida), de 1955;
SOS Météores (SOS Meteoros), de 1958;
Le Piège Diabolique (A Armadilha Diabólica), de 1960;
L'Affaire du Collier (O Caso do Colar), de 1965;
Les 3 Formules du Professeur Sato I (As 3 Fórmulas do Professor Sato I), de 1971,

histórias publicadas inicialmente na revista Tintin e posteriormente editadas em álbum pela Lombard.




A publicação do segundo tomo As 3 Fórmulas do Professor Sato foi sendo protelada até à sua morte, ocorrida em 1987.

Em 1986 criou a chancela Éditions Blake et Mortimer, que editou todos os álbuns num outro formato, com nova coloração e páginas suplementares, como sucedeu em O Segredo do Espadão, agora editado em três volumes.

Depois de vários problemas de saúde, que marcaram os seus últimos anos de vida, faleceu vítima da doença de Parkinson, em 1987, deixando uma obra pequena pelo número de títulos mas de inegável qualidade narrativa e plástica, que se tornou uma importante referência da BD franco-belga.
 

O derradeiro álbum, Les 3 Formules du Professeur Sato II (As 3 Fórmulas do Professor Sato II), cujos esboços deixou terminados, viria a ser concluído por Bob de Moor, sendo editado em 1990.

Em 1996, Jean Van Hamme e Ted Benoit prosseguiram a série com grande êxito, a que se juntou, mais tarde, outra dupla de autores, Yves Sente e André Juillard.




Em Portugal, antes da edição em álbuns, a série Blake & Mortimer foi publicada na década de 50 do século passado na revista semanal Cavaleiro Andante, da Empresa Nacional de Publicidade (em sistema de continuação).
O mesmo ocorreria duas décadas mais tarde na revista Tintim (em português).






segunda-feira, 15 de junho de 2020

"O AMIGO DA ONÇA" - Genial criação de Péricles de Andrade Maranhão (Brasil) - 1.ª PARTE


"Amigo da Onça" é a expressão usada para caracterizar uma pessoa que aparenta ser amiga de outra, mas que constantemente coloca essa outra em situação constrangedora, vexatória, prejudicial ou, mesmo, perigosa.

A designação decorre de uma conhecida anedota:

Dois caçadores conversam no seu acampamento:
— O que é que você faria se estivesse agora na selva e uma onça aparecesse na sua frente?
— Ora, dava um tiro nela.
— Mas se você não tivesse nenhuma arma de fogo?
— Bom, então eu matava-a com o meu facão.
— E se você estivesse sem facão?
— Apanhava um pedaço de pau.
— E se não tivesse nenhum pedaço de pau?
— Subiria na árvore mais próxima!
— E se não tivesse nenhuma árvore?
— Sairia correndo.
— E se você estivesse paralisado pelo medo?
Então, o outro, já irritado, retruca:
— Mas, afinal, você é meu amigo ou é amigo da onça?

Foi esta designação - O Amigo da Onça"  - que a revista brasileira "O Cruzeiro" escolheu para lançar a figura genialmente concebida por Péricles de Andrade Maranhão (1924-1961). Saiba mais aqui e aqui.



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Péricles de Andrade Maranhão com a sua imortal personagem.
(Conclui amanhã)