sábado, 5 de março de 2022

Perfil e objectivos de Vladimir Putin - Ditador da Rússia e criminoso de guerra

 


Профиль и цели Владимир Путин - 
российский диктатор и военный драйв


Ao fim e ao cabo, o que Vladimir Putin verdadeiramente teme, junto às fronteiras da Rússia, não é a NATO nem o poder bélico dos países ocidentais. Ele sabe perfeitamente - como todos nós sabemos - que ninguém no ocidente pensa seriamente em hostilizar ou atacar a Rússia em termos militares. Ele sabe, como todos nós sabemos, que, em caso de conflito frontal, seria uma guerra sem vencedores. Ele sabe...

Aquilo de que Putin tem medo, aquilo que pode realmente ameaçar o seu poder ditatorial e corrupto - bem como os interesses da mafia governamental e empresarial que o serve -, é a instalação, junto às suas fronteiras, de autênticas e prósperas democracias.

Democracias que demonstrem, à esmagadora e infeliz maioria dos cidadãos russos, como as suas vidas poderiam ser diferentes, para muito melhor, se se libertassem da clique de cleptocratas que se assenhoreou das alavancas do poder na Rússia.

É isso que não deixa dormir o criminoso de guerra Putin.

A escritora Anne Applebaum explica tudo com clareza no texto que se segue.

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В конце концов, Владимир Путин действительно боится у границ России не НАТО и не военной мощи западных стран. Он прекрасно знает, как и все мы, что никто на Западе всерьез не рассматривает возможность преследования или нападения на Россию с военной точки зрения. Он знает, как и все мы, что в случае лобового конфликта это будет война без победителей. Он знает...

Чего Путин боится, что может реально угрожать его диктаторской и коррумпированной власти, а также интересам обслуживающей его государственной и деловой мафии, так это установления у своих границ подлинной и процветающей демократии.

Демократии, которые демонстрируют подавляющему и несчастному большинству граждан России, насколько иной могла бы быть их жизнь, к лучшему, если бы они освободились от клики клептократов, захвативших рычаги власти в России.

Именно это не дает спать военному преступнику Путину.

Писательница Энн Эпплбаум ясно объясняет все это в следующем тексте.

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“(…) Porque é que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, atacaria um país vizinho que não o provocou? Por que razão arrisca o sangue dos seus próprios soldados? Por que razão arrisca sanções, e talvez uma crise económica, como resultado?

Os laços soviéticos do presidente russo, especialmente os seus anos passados como oficial do KGB, são muito importantes.

Na verdade, muitas das suas tácticas — a utilização de falsos “separatistas” apoiados pela Rússia para levar a cabo a sua guerra no leste da Ucrânia, a criação de um governo fantoche na Crimeia — são tácticas antigas do KGB, conhecidas do passado soviético.

Os falsos grupos políticos desempenharam um papel na dominação da Europa Central por parte do KGB após a Segunda Guerra Mundial; os separatistas fictícios desempenharam um papel na conquista bolchevique da própria Ucrânia em 1918.

O apego de Putin à antiga URSS também é importante de outra forma. Embora seja, por vezes, incorrectamente descrito como nacionalista russo, ele é de facto um nostálgico imperial.

A União Soviética era um império de língua russa e Putin parece, por vezes, sonhar com a recriação de um império de língua russa, mais pequeno, dentro das fronteiras da antiga União Soviética.



Mas a influência mais significativa na visão do mundo de Putin não tem nada a ver com a sua formação no KGB ou com o seu desejo de reconstruir a URSS. Pelo contrário, Putin e os que o rodeiam foram muito mais profundamente moldados pelo seu caminho para o poder.

Essa história começa na década de 80.

Os últimos anos dessa década foram, para muitos russos, um momento de optimismo e de entusiasmo. A política de glasnost — abertura — significava que as pessoas estavam a falar verdade pela primeira vez em décadas. Muitos sentiram a possibilidade real da mudança e pensaram que poderia ser uma mudança para melhor.

Putin perdeu esse momento de entusiasmo.

Em vez disso, foi colocado no escritório do KGB em Dresden, na Alemanha Oriental, onde viveu a queda do Muro de Berlim, em 1989, como uma tragédia pessoal.

À medida que os ecrãs de televisão de todo o mundo ecoavam as notícias do fim da Guerra Fria, Putin e os seus camaradas do KGB, no condenado Estado-satélite soviético, queimavam freneticamente todos os seus ficheiros, fazendo chamadas para Moscovo, que nunca foram devolvidas, receando pelas suas vidas e pelas suas carreiras.

Para os agentes do KGB, este não era um momento de alegria, mas antes uma lição sobre a natureza dos movimentos de rua e o poder da retórica: retórica democrática, retórica anti-autoritária, retórica anti-totalitária.

Putin, tal como o seu modelo, Yuri Andropov, concluiu, a partir desse período, que a espontaneidade é perigosa. O protesto é perigoso. Falar de democracia e de mudança política é perigoso. 

Para evitar que se propaguem, os governantes da Rússia devem manter um controlo cuidadoso sobre a vida da nação. Os mercados não podem ser genuinamente abertos; as eleições não podem ser imprevisíveis; a dissidência deve ser cuidadosamente “gerida” através da pressão legal, da propaganda pública e, se necessário, da violência direccionada.





Mas embora Putin não tenha sentido a euforia dos anos 80, certamente participou em força na orgia de ganância que dominou a Rússia nos anos 90. Tendo resistido ao trauma do Muro de Berlim, regressou à União Soviética e juntou-se aos seus antigos colegas numa pilhagem maciça do Estado soviético.

Com a ajuda do crime organizado russo, bem como da indústria internacional de branqueamento de capitais offshore, a antiga nomenklatura soviética roubou activos, tirou dinheiro do país, escondeu-o no estrangeiro e, de seguida, trouxe o dinheiro de volta e usou-o para comprar mais activos.

Com riqueza acumulada, seguiu-se uma luta pelo poder. Alguns dos oligarcas originais acabaram na prisão ou no exílio. Por fim, Putin acabou por ser o bilionário mais importante entre todos os outros bilionários — ou pelo menos aquele que controla a polícia secreta.

O controlo de Putin não tem limites legais.

Ele e as pessoas que o rodeiam operam um sistema de equilíbrio e de controlo, sem normas éticas, sem qualquer tipo de transparência.

Determinam quem pode ser candidato nas eleições e quem pode falar em público. Eles podem tomar decisões de um dia para o outro — enviar tropas para a fronteira ucraniana, por exemplo — sem consultar ninguém e sem aceitar nenhum conselho. 

Quando Putin contempla uma invasão, não tem de considerar o interesse das empresas ou consumidores russos que possam sofrer com sanções económicas.

Não tem de ter em conta as famílias de soldados russos que podem morrer num conflito que não querem. Eles não têm escolha, e não têm voz.



No entanto, ao mesmo tempo, a posição de Putin é extremamente precária.

Apesar de todo esse poder e de todo esse dinheiro, apesar do controlo total de todo o espaço político, ele deve saber que é um líder ilegítimo.

Nunca ganhou uma eleição justa. Nunca fez uma campanha numa competição em que poderia perder.

Sabe que o sistema político que ajudou a criar é profundamente injusto, que o seu regime não só dirige o país como é seu dono, tomando decisões de política económica e de política externa que são concebidas para beneficiar as empresas de que ele e o seu círculo íntimo lucram pessoalmente.

Sabe que as instituições do Estado não existem para servir o povo russo, mas para o roubar. Sabe que este sistema funciona muito bem para algumas pessoas ricas, mas muito mal para todas as outras.

Sabe, por outras palavras, que, um dia, activistas pró-democracia, iguais aos que viu em Dresden, também podem vir atrás dele.



Tudo isto é uma forma de explicar o significado extraordinário da Ucrânia, para Putin.

Claro que a Ucrânia importa como um símbolo do império soviético perdido.

Mas a Ucrânia moderna e pós-soviética também tem importância porque tentou aderir ao mundo das democracias ocidentais prósperas. Organizou não apenas uma, mas duas revoluções pró-democracia, anti-oligarquia e anti-corrupção, nas últimas duas décadas.

A mais recente, em 2014, foi particularmente aterradora para o Kremlin. Os jovens ucranianos gritavam slogans anti-corrupção, tal como a oposição russa faz, e agitavam bandeiras da União Europeia. Estes manifestantes inspiraram-se nos mesmos ideais que Putin odeia internamente e procura derrubar no exterior.

A posterior invasão de Putin à Crimeia puniu os ucranianos por tentarem escapar do sistema cleptocrático em que ele queria que vivessem — e mostrou aos seus próprios súbditos que também eles pagariam um custo elevado pela revolução democrática.

Putin [invadiu] a Ucrânia pela mesma razão.

Quer desestabilizar e assustar a Ucrânia.

Quer que a democracia ucraniana falhe.

Quer que a economia ucraniana colapse.

Quer que os investidores estrangeiros fujam.

Quer que os seus vizinhos — na Bielorrússia, no Cazaquistão, até na Polónia e na Hungria — duvidem se a democracia será alguma vez viável, a longo prazo, também nos seus países”.

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(Extractos de um artigo originalmente publicado por Anne Applebaum em The Atlantic, e posteriormente reproduzido na revista do jornal Expresso, de Lisboa, em 18 de Fevereiro de 2022).


"A Chegada dos Russos"

(Do filme: A 25.ª Hora)


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