domingo, 2 de junho de 2019

D. Sebastião morreu em Alcácer-Quibir? (Os Falsos D. Sebastião) - 1.ª PARTE


O SEBASTIANISMO

No dia 4 de Agosto de 1578, D. Sebastião, rei de Portugal, morreu em Marrocos, norte de África, na batalha de Alcácer-Quibir [rever aqui: D. Sebastião (1.ª parte)  e aqui: D. Sebastião (2.ª parte)].

D. Sebastião, desaparecido aos 24 anos, não deixou descendência. Assim, e baseando-se nas estreitíssimas ligações de parentesco entre as duas Coroas ibéricas, o rei Felipe II de Espanha reivindicou - e obteve em 1580 - o trono português. Ele foi o Filipe I de Portugal, inaugurando o longo período de dominação espanhola a que só o levantamento de 1 de Dezembro de 1640 colocaria termo (rever aqui1 de Dezembro de 1640).

D. Sebastião, 16.º rei de Portugal. Viveu entre 1554 e 1578.

A lenda começou a tomar forma pouco depois da batalha de Alcácer-Quibir.
Corriam rumores de que o rei português afinal não perecera em combate, tendo miraculosamente escapado do campo de luta para destino incerto. E afiançava-se que ele havia de regressar ao seu reino, numa manhã mágica de nevoeiro, para libertar os súbditos do domínio estrangeiro e para restaurar a grandeza de Portugal.

Foi o início de um sentimento e de uma crença, o Sebastianismo, que se infiltrou na vida da nação como uma droga e que por aqui permaneceu ao longo de gerações. Até hoje. Em Portugal, nos casos prolongados de aperto e desgraça, houve e haverá sempre esperança na aparição de um redentor, um campeão da pátria capaz de a salvar.

Tudo começou, portanto, com o desastroso fim daquele rapaz distante e obstinado, cabelos loiro-arruivados, olhos claros e líquidos, mirada cismadora e fria, arzinho arrogante. Depois dele, ou talvez com ele e com o seu fantasma, o salvador passou a poder ser qualquer um, ainda que moreno, grosso e rude - desde que trazido nas asas de um nevoeiro providencial e desde que pródigo em promessas gordas...

No mês de Dezembro de 1578, a instâncias de Felipe II, Mulei Ahmed, soberano de Marrocos, mandou entregar em Ceuta (cidade norte-africana na posse dos cristãos) aquilo que diziam ser o cadáver de D. Sebastião. Só em 1582 o trasladaram para Lisboa, onde acabou depositado no mosteiro dos Jerónimos. Mas até os dizeres que lhe puseram no túmulo serviram para alimentar a dúvida:

"Este túmulo encerra - se é verdadeira a fama - Sebastião,
Ceifado pela morte nos areais de África.
Não se diga que se engana quem acredita que o rei está vivo:
Se morreu pelo Divino, foi-lhe a morte segunda vida."

Houve, pelos vistos, muitos crentes na sobrevivência do monarca. Alguns trataram mesmo de ir mais longe, ressuscitando-o: fizeram-se passar por ele. Uns terão sido levados por simples oportunismo, com o sentido nos ganhos. Outros terão agido sob impulso de um vago patriotismo, esperando talvez inspirar levantamentos populares que pusessem termo ao domínio filipino  em Portugal.

Como seria expectável, os Espanhóis reagiram com alarme e dureza a essas aparições, vislumbrando nelas um perigo potencial para a união ibérica que tinham finalmente alcançado.
Esses "falsos D. Sebastião", como ficaram conhecidos, tiveram desempenhos e sortes diferentes. Contaremos as suas histórias em próximas mensagens.

Túmulo de D. Sebastião no mosteiro dos Jerónimos (Lisboa)
A quem terão pertencido as ossadas que nele se encerram?

(Continua em 9 de Junho de 2019 --- 2.ª Parte - O "rei de Penamacor")

Fontes principais: MIGUEL D'ANTAS - Les Faux D. Sébastien - Étude sur l'histoire de Portugal - Publicado no ano de 1866 por Chez Auguste Durand, Libraire - Rue Cujas (ancienne Rue des Grès, 7), PARIS - FRANCE

J. LÚCIO D'AZEVEDO - A Evolução do Sebastianismo - Publicado no ano de 1918 por Livraria Clássica Editora - Lisboa - Portugal.

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O Professor José Hermano Saraiva falou de D. Sebastião e do Sebastianismo num dos seus programas da RTP (Radiotelevisão Portuguesa). Podem recordá-lo aqui:

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