sábado, 20 de dezembro de 2008

Portugueses bem pagos e portugueses mal pagos... (ou: a direita e a esquerda)


"Toda a gente quer perceber porque é que a maioria dos portugueses é de esquerda.
Ou: porque é que, segundo as sondagens, a maioria dos portugueses está a "virar" à esquerda (…).

Não há muito tempo, estudos de opinião situavam o português médio no centro-esquerda. Faziam um retrato conservador daquilo que somos em política: moderados, compromissórios, mas levemente inclinados para a esquerda pela importância que concedemos ao Estado em garantir esquemas vários de assistência social (…).

Se os portugueses que antes eram de centro-esquerda estão hoje ainda mais à esquerda, como explicar o fenómeno?
Verdade que a crise económica e o pessimismo que tomou conta do mundo ajudam a explicar o que se passa.
Quando se tem medo, ninguém pede por mais liberdade e independência, mas por mais segurança e protecção (…).

Mas eu acrescento, e já o escrevi uma vez, que se os portugueses tendem para a esquerda não é por causa de teorias.
Os portugueses são de esquerda porque, no essencial, são mal pagos.
E não são mal pagos no meio de outros igualmente mal pagos.

Os portugueses mal pagos trabalham todos os dias para os portugueses bem pagos.
Mesmo os muito mal pagos têm de "conviver" com os muito bem pagos.

E uns e outros apercebem-se da diferença (…)."

(Pedro Lomba – Diário de Notícias, Lisboa, 11 de Dezembro de 2008)

(Foto de J. Pedro Martins)

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