domingo, 1 de junho de 2008

(Carlos Drummond de Andrade) (Brasil) - A Casa do Tempo Perdido


Bati no portão do tempo perdido,
ninguém atendeu.
Bati segunda vez e outra mais
e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade;
a outra metade são cinzas.

Casa onde não mora ninguém,
e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater.
O eco devolve minha ânsia de entreabrir
esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.

O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.

(Carlos Drummond de Andrade) (Brasil) (1901-1987)

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