à vista de um macaco,
não é que ele tenha sido nosso passado:
é este pressentimento
de que ele venha a ser nosso futuro.
Quando completei quinze anos,
meu compenetrado padrinho
me escreveu uma carta muito,
muito séria:
tinha até ponto-e-vírgula!
Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.
Escadas de caracol
sempre são misteriosas:
conturbam...
Quando as desce,
a gente se desparafusa...
Quando a gente as sobe
Se parafusa.
Hoje me acordei pensando
em uma pedra numa rua de Calcutá.
Numa determinada pedra numa rua de Calcutá.
Solta.
Sozinha.
Quem repara nela?
Só eu, que nunca fui lá.
Só eu, deste lado do mundo,
te mando agora esse pensamento...
Minha pedra de Calcutá!
Era um grande nome;
ora que dúvida!
Uma verdadeira glória.
Um dia adoeceu,
morreu,
virou rua...
E continuaram a pisar em cima dele.
Como seriam belas
as estátuas equestres
se constassem apenas dos cavalos!
(Mário de Miranda Quintana foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Nasceu em Alegrete na noite de 30 de Julho de 1906 e faleceu em Porto Alegre, em 5 de Maio de 1994).
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