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domingo, 22 de outubro de 2023

DUAS GUITARRAS (Deux Guitares - Two Guitars - Zwei Gitarren - Dve Gitary - Due Chitarre)






(1) Duas Guitarras
(orquestra cigana de Balatonia)



(2) Duas Guitarras
(Charles Aznavour)



(3) Duas Guitarras
(Música cigana da Rússia)



(4) Duas Guitarras
(Ivan Rebroff)



(5) Duas Guitarras
(Tereza Kesovija)



(6) Duas Guitarras
(Quartet Cinderella)



(7) Duas Guitarras
(Restaurant "Aux Trois Violons" - Matouchka)
(Paris)


quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Aberturas de Grandes Livros - "Cem Anos de Solidão" (Gabriel García Márquez - Colômbia)



“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.

Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos.

O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e, para mencioná-las, era preciso apontar com o dedo.




Todos os anos, pelo mês de Março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos inventos.

Primeiro trouxeram o íman.

Um cigano corpulento, de barba rude e mãos de pardal, que se apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta demonstração pública daquilo que ele mesmo chamava a oitava maravilha dos sábios alquimistas da Macedónia.



Foi de casa em casa arrastando dois lingotes metálicos, e toda a gente se espantou ao ver que os caldeirões, os tachos, as tenazes e os fogareiros caíam do lugar, e as madeiras estalavam com o desespero dos pregos e dos parafusos que tentavam desencravar-se, e até os objectos perdidos há muito tempo apareciam onde mais tinham sido procurados e arrastavam-se em debandada turbulenta atrás dos ferros mágicos de Melquíades.

“As coisas têm vida própria”, apregoava o cigano com áspero sotaque, “tudo é questão de despertar a sua alma.”



José Arcadio Buendía, cuja desatada imaginação ia sempre mais longe que o engenho da natureza, e até mesmo além do milagre e da magia, pensou que era possível servir-se daquela invenção inútil para desentranhar o ouro da terra.

Melquíades, que era um homem honrado, preveniu-o: “Para isso não serve.” 

Mas José Arcadio Buendía não acreditava, naquele tempo, na honradez dos ciganos, de modo que trocou o seu jumento e um rebanho de cabritos pelos dois lingotes imantados.

Úrsula Iguarán, sua mulher, que contava com aqueles animais para aumentar o raquítico património doméstico, não conseguiu dissuadi-lo. “Muito em breve vamos ter ouro de sobra para assoalhar a casa”, respondeu o marido. (…)”




Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez (ver aqui)

Texto conforme edição de Publicações Europa-América, Lisboa, Portugal, 1971.