quarta-feira, 20 de maio de 2015

Fim de linha. Sem perdão.

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Há qualquer coisa aqui de que não gostam
da terra das pessoas
ou talvez
deles próprios
cortam isto e aquilo e sobretudo
cortam em nós
culpados sem sabermos de quê
transformados em números estatísticas
défices de vida e de sonho
dívida pública dívida de alma
há qualquer coisa em nós de que não gostam
talvez o riso
esse desperdício.
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Trazem palavras de outra língua
e quando falam a boca não tem lábios
trazem sermões e regras e dias sem futuro
nós pecadores do Sul nos confessamos
amamos a terra o vinho o sol o mar
amamos o amor e não pedimos desculpa.
Por isso podem cortar
punir
tirar a música às vogais
recrutar quem os sirva
não podem cortar o Verão
nem o azul que mora aqui
não podem cortar quem somos.
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Manuel Alegre, ‘Resgate’, in “Bairro Ocidental”.
Dom Quixote. 2015
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1 comentário:

Vicente do Carmo disse...

Não sei o que é mais chocante e desprezível nesta dupla fatal. A absoluta insensibilidade social? A fragorosa incompetência? O recurso compulsivo à mentira e à trapaça política? Foram (ainda são) uma desgraça para o país, que vão deixar arruinado e semidestruído. Uma dívida escandalosamente aumentada, um desemprego aterrador e também aumentado, uma economia de rastos, uma fuga incessante de jovens qualificados, uns serviços de saúde crescentemente degradados, uma educação em estilhas - e pobreza, e fome, e suicídios. E atrevem-se a dizer, pela voz do senhorito à direita na foto (mais conhecido nos bastidores da Assembleia da República por "Bacano dos Soundbytes"), que cumpriram a missão. Passando a vida a falar no "outro", a atribuir ao "outro" a culpa de toda esta miséria, conseguem a fantástica proeza de deixar o país em muito pior estado do que quando se alcandoraram ao poder através de mentiras e embustes (especialidade maior do senhorito à esquerda na foto). Não têm, de facto, perdão! E é urgente escorraçá-los!