"(...) Pensando bem, temos razões para ser infelizes ou, pelo menos, pouco felizes.
Os políticos mentem-nos, manipulam a nossa benevolência, prometem-nos melhorias, cavalgam as nossas mais rústicas e asseadas esperanças.
As instituições seguem-lhes o rasto. Foram, aliás, criadas por eles, ou são filhas dilectas do sistema.
Os peralvilhos que as dirigem, sob designações as mais diversas, são criaturas pouco recomendáveis.
Todos nós sabemos disto, comentamos amargamente a roubalheira que por aí anda, nem sequer nos divertimos quando banqueiros vão para a cadeia ou estão sob a ameaça de lá ir parar.
Desconfiamos, mas não damos um passo para as coisas serem diferentes.
Votamos nos partidos que sustentam esta gente porque esta gente mantém o sistema e não está nada interessada em o alterar.
Aliás, nada de real e de rigoroso poderá ser feito sem se pulverizar as estruturas que vão segurando, como um andaime, esta sociedade. (...)
Vivemos nesse universo obscuro e inquietante da competitividade e dos objectivos a atingir.
Vale tudo, inclusive a própria vida humana.
Dissiparam-se os exemplos que serviam de rota e de escora.
A palavra de honra deixou de comparecer nas relações sociais.
A classe dirigente recusa-se a entender que uma promessa não é só um compromisso - é um crédito de honra. (...)
A honra desapareceu do circuito normal onde as ligações afins se estabeleciam e se solidificavam.
Os contratos eram feitos através desses compromissos morais. Devo dizer que tenho saudades do tempo em que um aperto de mão cimentava alguma coisa.
A honra, a dignidade e as relações como construção dos laços sociais.
Confiava-se. Apenas isto.
Agora, por todo o lado, as novas figuras de autoridade, a classe dirigente e os seus pequenos estipendiados parece terem renunciado a essas práticas.(...)
É o mundo da mentira, da torpeza e do impudor que campeia por aí, a todos os níveis e em todos os sectores da sociedade.
(Baptista-Bastos - Jornal de Negócios - Lisboa - Portugal - 18 de Setembro de 2009)
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