quarta-feira, 22 de novembro de 2023

John Kennedy, presidente dos Estados Unidos da América, foi assassinado há 60 anos. Crime individual ou conspiração?

John Fitzgerald Kennedy (1917-1963)

 
John Kennedy, 35.º presidente dos Estados Unidos, chegou ao aeroporto de Dallas, Texas, às 11:40 de 22 de Novembro de 1963. Na companhia da Primeira-Dama, Jacqueline, do governador do Estado, John Connally, e da esposa deste, Nellie, seguiu depois num cortejo automóvel pelas ruas da cidade.
O ambiente geral parecia desanuviado, mesmo festivo, apesar de serem  visíveis alguns rostos fechados e sombrios num ou noutro ponto do percurso.


Desfile pelas ruas de Dallas


Cerca das 12:30, o carro presidencial fez uma curva apertadíssima, de 120º, para a esquerda, virando da Houston Street para a Elm Street e entrando na Praça Dealey. A velocidade da viatura rondava agora os 15km/hora.

Kennedy levantou o braço direito para acenar a uma criança que o cumprimentava. Nesse momento soaram na praça vários disparos de arma de fogo, que algumas testemunhas descreveriam como "uma rajada". Sobressaltados, alguns bandos de pombos levantaram voo nas imediações. Muitas das pessoas que assistiam ao desfile atiraram-se para o chão, em pânico.


Esquema da Praça Dealey, onde ocorreu o crime


Durante alguns segundos o carro do presidente pareceu prestes a imobilizar-se. Depois ganhou outra vez velocidade e acelerou bruscamente, com destino ao Parkland Hospital. O presidente fora atingido por dois disparos: um no pescoço, tendo a bala saído pela garganta; e outro na cabeça, desfazendo-lhe parte do crânio. O governador Connally fora também atingido, ainda que sem a mesma gravidade.
Por um acaso, a sequência dos disparos que atingiram Kennedy ficou registada em filme por Abraham Zapruder, um cineasta amador que assistia ao desfile.

No Parkland Hospital, os médicos limitaram-se a verificar o óbvio: o presidente não tinha salvação possível e, às 13 horas, foi declarado o óbito. A confirmação oficial surgiu às 13:38.
O governador Connaly, igualmente hospitalizado, acabaria por sobreviver.

Ao início da tarde, já com o corpo de John Kennedy a bordo do Air Force One, o vice-presidente Lyndon Johnson prestou juramento, diante de uma juíza, como 36.º presidente dos Estados Unidos. A comitiva regressou depois a Washington.



Lyndon Johnson presta juramento como presidente a bordo do Air Force One.
Ladeiam-no a esposa e, à sua esquerda, a recente viúva, Jacqueline Kennedy.


Poucos minutos após o atentado, foi emitido por rádio um mandado de captura visando um trabalhador do armazém de livros (Texas School Book Depository) de cujo 6.º andar se pensava terem partido os tiros.

O visado chamava-se Lee Harvey Oswald, de 24 anos.

Oitenta minutos depois do assassínio do presidente, Oswald foi preso na sala de espectáculos onde se refugiara após ter abatido a tiro um polícia, J. D. Tippit, numa rua da cidade.

Nessa mesma 6.ª feira, Oswald foi acusado da morte de Tippit e, também, da do presidente.
O preso negou sempre ter disparado sobre Kennedy, argumentando que estava a ser um bode expiatório.

Oswald nunca chegou a ser julgado. Na manhã de domingo, 24 de Novembro, menos de dois dias depois do assassínio de Kennedy, Jack Ruby, um proprietário de cabaré com estreitas ligações ao mundo do crime organizado (e a muitos dos polícias da cidade, que faziam consumos gratuitos no seu estabelecimento), aproveitou a transferência de Lee H. Oswald para outro edifício e, numa cena transmitida em directo pela TV, assassinou-o a tiro. (Ruby morreria na prisão, aparentemente de cancro, cerca de três anos mais tarde).

O funeral do presidente Kennedy ocorreu a 25 de Novembro, 2.ª feira, em Washington. Ficou sepultado no cemitério de Arlington.


Jack Ruby precipita-se sobre Oswald de revólver em riste e assassina-o na presença de polícias e jornalistas. Crime transmitido em directo para milhões de espectadores de TV.


As circunstâncias do crime que vitimou o presidente dos Estados Unidos - bem como os acontecimentos que se lhe seguiram - suscitaram em muita gente as maiores dúvidas acerca da tese oficial que atribuiu a Lee H. Oswald a responsabilidade exclusiva do assassínio.

Como seria de esperar, as sombras do caso contribuíram para o surgimento de "teorias da conspiração" em que Oswald reparte sucessivamente culpas e cumplicidades com uma série de entidades. Mafia, CIA, FBI, União Soviética, Fidel Castro, polícia de Dallas, cubanos exilados, grupos económicos poderosos e o próprio governo dos Estados Unidos foram sendo apontados como possíveis responsáveis ou apoiantes do crime - às vezes por acção, outras por omissão.

Tenha sido ou não Oswald um matador isolado, o sucedido colocou pelo menos a nu o surpreendente comportamento das entidades encarregadas de proteger o presidente - Serviços Secretos e polícia local.

Dallas era, desde há tempos, uma cidade perigosa para Kennedy, que tinha ali muitos inimigos que não faziam segredo da aversão que nutriam por ele. Chamavam-lhe "comunista" em panfletos postos a circular recentemente e certa imprensa dedicava-lhe artigos violentos. Numa montagem fotográfica apresentavam-no de frente e de perfil, como se fosse um criminoso procurado ou um alvo a abater.



A Dealey Plaza (Praça Dealey) no centro dos acontecimentos.
Compare com o esquema acima (Clicar na imagem para ampliar).



Face ao que antecede, a protecção do presidente deveria ter sido garantida em grau máximo. No entanto, quase tudo o que foi feito a esse respeito violou as regras de segurança mais básicas: um carro aberto, a progredir vagarosamente por ruas repletas de gente, apertadas entre edifícios com escassa vigilância, e - imprudência fatal! - a fazer uma entrada lentíssima na Praça Dealey.

Diante de um quadro destes, qualquer agente principiante reconheceria que, naquele dia, John Kennedy estava a ser conduzido na direcção daquilo a que, em gíria militar, se chama a "zona de morte" de uma emboscada.

Ao entrar na praça como entrou (virando da Houston Street para a Elm Street, com o carro quase parado), o presidente ficou enquadrado num espaço-alvo ideal, onde um ou mais atiradores, devidamente ocultos e com caminho de fuga assegurado, o teriam à sua mercê.

Admitindo que foram disparados 3 tiros a partir do Texas School Book Depository (como fez a Comissão Warren, que investigou o caso por decisão do presidente Lyndon Johnson); admitindo ainda, de acordo com testemunhos credíveis e os elementos materiais disponíveis, que foi disparado pelo menos mais um tiro a partir da sebe e das árvores que encimavam o montículo relvado à direita do automóvel presidencial (junto à famosa "pérgula") - então conclui-se que houve uma emboscada e que ela foi montada em "V", com duas linhas de tiro que se entrecruzavam para prevenir eventuais falhanços e não deixar escapar o alvo.

A forma de tentar evitar o que sucedeu era recusar o percurso pela Houston Street e a viragem para a Elm Street, condicionando o trânsito e fazendo com que o desfile prosseguisse a direito, pela Main Street, passando por baixo da ponte ferroviária existente no local.
Paralelamente, deveria ter sido montada uma vigilância reforçada e directa em todos os edifícios da praça que pudessem servir de poiso a eventuais atiradores (seria fácil, pois eram poucos). Nada disso foi feito.

Deste modo, pode garantir-se, com certeza absoluta, que uma de duas coisas ocorreu àquela hora e naquela praça:

a) ou uma clamorosa demonstração da incompetência da polícia e dos encarregados da segurança presidencial;
b) ou a concretização de um plano friamente congeminado para facilitar o sucesso de uma emboscada fatal.




Restam actualmente poucas dúvidas de que Lee Harvey Oswald não agiu sozinho naquele 22 de Novembro e de que se assistiu na Praça Dealey, realmente, ao fatal desenlace de uma conspiração. Perante o que se sabe, a única impossibilidade que existe é a de imputar a responsabilidade máxima do crime a uma entidade ou a uma figura concreta: só a disponibilização total da documentação ainda sob reserva ou o aparecimento de um testemunho ou de uma confissão irrefutáveis o poderia permitir.

Alguns dos protagonistas daquele tempo nunca tiveram dúvidas acerca da existência de uma conspiração. Jacqueline nunca as teve e, sobretudo, Robert Kennedy (o irmão do presidente), também não. Nem Lyndon Johnson, pelo menos ao princípio.
Robert, aliás, passou parte dos anos seguintes a tentar descobrir os responsáveis; e talvez o conseguisse caso tivesse chegado à Casa Branca. Mas foi por seu turno assassinado, a tiro, durante a campanha eleitoral de 1968.

Nos finais da década de 1970, o relatório de uma comissão de investigação da Câmara dos Representantes americana concluiu que havia uma elevada probabilidade de o presidente ter sido alvejado por dois atiradores (o que implicava, automaticamente, ter existido uma conspiração).

O presidente era, sem dúvida, um homem marcado como alvo e estava a ser seguido para um encontro definitivo. Pouco antes do desfecho de Dallas, foram descobertos planos para o abater durante viagens que ele tencionava fazer - uma a Tampa (Florida) e outra a Chicago (Illinois). Pelo menos num dos casos foi detido um indivíduo com perfil muito semelhante ao de Oswald, provavelmente escolhido para ser o bode expiatório de um eventual crime.



Lee Oswald detido no Texas Theatre, 80 minutos depois do atentado.


Apontar Lee Harvey Oswald como actor isolado do crime exige que se aceitem como inocentes e naturais todas as inverosimilhanças, todas as incoerências, todas as omissões, todas as cortinas de fumo e todas as estranhas coincidências detectadas ao longo dos anos por investigadores competentes e descomprometidos.
A começar pelo mandado de captura emitido para os rádios policiais escassos minutos após o assassínio - quando, nesse exacto momento, nada havia ainda de concreto que pudesse ligar Oswald à morte do presidente.

É claro que tudo indica que ele teve uma participação - como atirador ou não - na consumação do crime. Quando, poucos minutos depois deste, Oswald saiu calmamente do Texas School Book Depository e apanhou um autocarro, estava provavelmente em rota de fuga após a emboscada (o mesmo terá feito, através do parque de estacionamento ali existente, o atirador postado junto à pérgula, entre as árvores).
O itinerário da retirada deve ter sido previamente fixado a Oswald por alguém com poder e ascendente para o fazer.

Durante essa fuga aconteceu o encontro de Oswald com o agente Tippit, um episódio muito mal explicado pelas autoridades e que permanece até hoje como um mistério - mistério cuja resolução lançaria jorros de luz sobre o caso.

Relembremos que Oswald tinha tido tempo para ir mudar de roupa no quarto alugado onde vivia e que voltara depois à rua. Estava já bastante longe do local do crime, caminhava sem precipitações e sem chamar a atenção de ninguém, era apenas mais um entre milhares de cidadãos anónimos de Dallas...
O que terá levado o agente Tippit a abordá-lo? Tê-lo-ia seguido, desde o início da fuga, até ali? Mas por que razão assumiria tal iniciativa, se Oswald ainda não era procurado no momento em que abandonou o depósito de livros?
Ou ter-se-á tratado - como sustentam muitos - de um encontro oportunamente marcado?


Lee Harvey Oswald (1939-1963)


Sabe-se, por testemunhos fiáveis, que Oswald se aproximou tranquilamente do carro policial de Tippit e que os dois homens falaram durante certo tempo. Quando o agente saiu da viatura, alguma coisa deve ter alarmado finalmente Oswald - alguma coisa dita ou esboçada por Tippit. O fugitivo terá percebido nesse instante que não estava a ser respeitado o guião que lhe havia sido transmitido. Puxou então da sua arma e abateu Tippit. Antes que este lhe pudesse fazer o mesmo?

Lee Harvey Oswald terá compreendido, nesses segundos terríveis para ele, que já não fazia parte do grupo de caçadores. Provavelmente nunca fizera, ao invés do que o terão levado a crer. Pelo contrário: ele era o alvo, a peça de caça escolhida para abate. Era-o desde o início, independentemente das tarefas - ou das manobras de diversão - que lhe foram sendo atribuídas no decurso da conspiração.
Por outras palavras, ele não terá passado de um bode expiatório pacientemente construído ao longo de meses.

Em pânico, desorientado, já consciente de que o tinham abandonado e deixado entregue a si próprio naquele palco de ilusões e de morte, desatou a correr pelas ruas de Dallas até encontrar refúgio precário numa casa de espectáculos que encontrou aberta. Foi ali que não tardaram a ir buscá-lo.
Era o princípio do seu fim - um fim de que se encarregaria dois dias depois, na manhã de domingo, dentro de uma esquadra da polícia de Dallas, o "gangster" Jack Ruby.
Antes que Oswald resolvesse confessar algo de explosivo e de irremediável aos seus captores...

..........  

Evocação de John Kennedy

Discurso sobre a crise dos mísseis soviéticos instalados em Cuba
O Mundo à beira de uma guerra nuclear
22 de Outubro de 1962
(legendado em português)



Esta intervenção foi considerada como um dos momentos mais relevantes da presidência de John Kennedy - um discurso firme, duro, até ameaçador, sem contemplações para com o que parecia ser - e talvez fosse - uma fortíssima ameaça dos soviéticos aos Estados Unidos e a todo o mundo ocidental.

Entretanto, nos bastidores, desenvolviam-se esforços diplomáticos incessantes entre as duas maiores potências mundiais. Robert Kennedy, o irmão do presidente, desempenhou um papel importante nesses contactos.

A U.R.S.S. acabaria por recuar, fazendo retroceder os navios que enviara para Cuba e procedendo à retirada dos mísseis já instalados na ilha. Mas, em jeito de moeda de troca, os Estados Unidos arranjaram forma de salvar a face do poderoso adversário: ficou prometida a retirada, a prazo, dos mísseis americanos baseados na Turquia.







Sem comentários: