sábado, 29 de agosto de 2020

Don Juan Carlos, Rei-Emérito de Espanha, e a Invasão de Portugal...




Escreveu José Freire Antunes (JFA), no seu excelente "Os Espanhóis e Portugal", que Juan Carlos de Espanha, nascido a 5 de Janeiro de 1938, é "o mais lusófilo dos espanhóis".

Enquanto Rei, foi a partir de 1975 um indiscutível valor acrescentado para a relação peninsular. Pela sua mediação, às vezes secreta, passaram diferendos melindrosos entre Madrid e Lisboa.

As raízes são, de facto, fundas.

Para além das afinidades de língua, de história e de cultura, elas mergulham nos dias da sua longínqua infância, que em parte viveu no Estoril, às portas de Lisboa. Mais tarde, durante a adolescência - e já regressado a Espanha -, vinha passar férias a Portugal e por aqui foi edificando amizades sólidas e duradouras.
A ligação de Juan Carlos a Portugal é, portanto, antiga, evidente e muito forte.

Na obra citada, JFA relata um episódio curioso e elucidativo a esse respeito. Sendo talvez politicamente incorrecto ou incómodo relembrá-lo nos dias tempestuosos que vão correndo, não será de todo abusivo avivar algumas memórias boas, sobretudo quando evocadas a partir das douradas praias portuguesas - agora que o homem cambaleia sob as pauladas com que o fustigam, e poucos, ou nenhuns, parecem na disposição de o ouvir, de o entender e, muito menos, de sair em sua defesa...

O episódio é este: nos dias de brasa de 1975, os americanos da CIA, apreensivos com os avanços dos comunistas no Portugal revolucionário da época, congeminaram a invasão do território português a partir de Espanha, para o que contariam com a cumplicidade do governo deste país e com a intervenção de muitos portugueses ali refugiados ao tempo.

A ideia (e por vezes a prática...) da invasão de Portugal tem sido quase obsessiva em Espanha - e não apenas em épocas remotas (como aqui). Não há muitos anos, o próprio ditador Francisco Franco chegou a eleger o assunto como tema de um seu trabalho académico. Com atrevimento, inspiração e à-vontade, aí discorreu sobre a melhor estratégia militar para que a Espanha invadisse e ocupasse Portugal em 72 horas. Nem mais nem menos uma. 72 horas, conta exacta...

Mas vamos adiante.

Juan Carlos, colocado ao corrente dos planos da CIA, opôs-se decidida e tenazmente à invasão do território luso.

E, porventura recordado dos dias felizes de outrora e grato pelo acolhimento e pela estima de que fora beneficiário, com toda a sua família exilada, na velha e hospitaleira pátria de D. Afonso Henriques, terá então dito, em tom irrefutável, ao presidente dos Estados Unidos (Gerald Ford):

"Tenha em conta, senhor Presidente, que eu, depois de espanhol, sou português".

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