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Faz falta um sopro de lucidez
que varra este país de cima a baixo
e nos devolva o bom senso e a esperança.
Faz-nos falta meter na cabeça,
nem que seja à martelada,
que Portugal enfrenta problemas e perigos
de uma dimensão tamanha
que perder tempo a lavar roupa suja
e a discutir lingerie
enquanto os problemas se acumulam e agravam
sem solução,
é mais do que diletância,
é verdadeiro suicídio.
Faz-nos falta que cada um perceba
qual é o seu lugar e a sua função
e não se envolva em tentações e confusões
onde todos se perdem,
sem honra nem proveito público.
Ao Governo cabe governar,
e não imiscuir-se na vida das redacções
ou nas jogadas do poder económico.
Aos juízes cabe acusar e julgar
de acordo com a lei e a sua consciência,
e não de acordo com as suas ideias políticas
ou os seus interesses corporativos.
Aos jornalistas cabe informar
de acordo com os factos e a verdade investigada,
mas não cabe a tarefa
de derrubar governos
nem promover julgamentos públicos
em substituição dos tribunais.
Às empresas públicas ou participadas pelo Estado,
gerindo bens e serviços de necessidade pública,
cabe apenas o papel
de servir os utentes nas melhores condições,
e não o envolvimento
nos grandes negócios do regime
ou em jogadas menores de baixa política
ao serviço do poder do momento. (…)
(…) Se não nos entendemos no essencial -
o que é a liberdade,
o que é a censura,
o que são direitos absolutos e relativos,
o que é o Estado de Direito,
o que valem as decisões dos tribunais -
dificilmente nos entenderemos no resto.
E o resto são coisas factuais,
que não dependem de opiniões ou ideias
e que qualquer um sabe:
são 563.000 desempregados,
um Estado no limiar da insolvência
e um país deserto de esperança. (*)
(*) - Miguel Sousa Tavares - "O Que Faz Falta"
Jornal Expresso - Lisboa - Portugal - 20-Fev-2010
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