domingo, 7 de fevereiro de 2010

Jacques Martin (1921-2010) - Partiu o pai de Alix e de Lefranc

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O autor de banda desenhada francês Jacques Martin, que criou a personagem Alix, morreu aos 88 anos, anunciou a editora Casterman.
Jacques Martin, que nasceu em Estrasburgo e estudou na Bélgica, era considerado um dos últimos elementos da escola clássica de banda desenhada franco-belga, a mesma de Hergé e de Edgar P. Jacobs.
Para a editora Casterman, a morte de Jacques Martin representa «o desaparecimento do último gigante da banda desenhada belga».
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Uma das suas mais populares criações, surgida em finais dos anos 1940 na revista Tintin, foi Alix, um jovem e corajoso gaulês protegido de Júlio César.
Jacques Martin trabalhou durante duas décadas com Hergé, o pai do Tintim, e criou ainda, entre outras, as personagens Lefranc e Jhen.
Por causa de problemas de visão, Jacques Martin contou nos últimos anos com a ajuda de vários colaboradores que concretizaram as suas histórias.
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Hergé (à esquerda) e Jacques Martin (à direita)
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Em Portugal, a série Alix foi publicada durante os anos 1980 pelas Edições 70 e, posteriormente, pela Asa, com álbuns como O Imperador da China, O Filho de Espártaco e O Príncipe do Nilo.
Em poucas semanas, a banda desenhada franco-belga perde assim dois nomes importantes.
No começo de Janeiro morreu o desenhador franco-belga Tibet, criador das personagens de banda desenhada Ric Hochet e Chick Bill.

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(Da Revista "Visão") "Quem diria que no último mês haveriam de zarpar para o país das caçadas eternas dois dos mais gigantescos nomes da BD franco-belga?
Vinte dias depois de Tibet, o criador de Ric Hochet, foi a vez de Jacques Martin, o "pai" de Alix e de Lefranc, entrar definitivamente numa imortalidade que já ia tacteando como figura tutelar da Nona Arte, na mais conhecida das suas vertentes europeias.
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Alsaciano de Estrasburgo, combateria pela França da drôle de guerre e passaria um ano num lager alemão, antes de se converter por completo à Bélgica (cuja nacionalidade adquiriria) e à BD no semanário Tintin, onde viria a colaborar com Hergé e a criar, em 1948, a personagem de Alix, o jovem gaulês seduzido pelos lindos olhos de Roma.
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O egípcio Kéos e o grego Orion transportariam para outras séries o vírus pela Antiguidade, contraído através da leitura de Marguerite Yourcenar, enquanto Jehan nos convida a viajar pela época da Guerra dos Cem Anos, Arno pela época napoleónica, Loïs pelo século de Luís XIV e o jornalista Lefranc por alguns problemas da actualidade.

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Mas foi sobretudo a Roma antiga que Martin nos devolveu em todo o seu perturbante e maligno esplendor, por via dos álbuns de Alix, publicados nos idos de 1980 pelas Edições 70.
Órfão de pai e abandonado pela mãe, num percurso que se intui semelhante ao das suas personagens, é difícil separar o bem do mal nas histórias turvas que nos contou por meio de um traço claro e rigoroso.


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Se normalmente não sabemos ao certo para onde se parte quando se parte, no caso de Jacques Martin o maior problema da vida está pois resolvido: os habitantes do futuro poderão ir ao seu encontro no panteão das divindades antigas." (*)

Jacques Martin (1921-2010)
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(*) - Luís Almeida Martins - Revista Visão n.º 882 (28 de Janeiro a 3 de Fevereiro de 2010) - Lisboa - Portugal.

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