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Oh caso grande, estranho e não cuidado!
Oh milagre claríssimo e evidente!
Oh descoberto engano inopinado!
Oh pérfida, inimiga e falsa gente!
Quem poderá do mal aparelhado
Livrar-se sem perigo, sabiamente,
Se lá de cima a Guarda Soberana
Não acudir à fraca força humana?
Bem nos mostra a Divina Providência
Destes portos a pouca segurança;
Bem claro temos visto na aparência
Que era enganada a nossa confiança,
Mas, pois saber humano nem prudência
Enganos tão fingidos não alcança,
Ó Tu, Guarda Divina, tem cuidado
De quem sem ti não pode ser guardado!
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Luís de Camões - Os Lusíadas - Canto Segundo (30, 31)
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